Tesouro Direto: taxas recuam após decisão do Fomc e à espera do Copom

Prefixados oferecem até 11,87% ao ano; ganho real dos papéis de inflação chega a 5,82%

Mariana Segala Katherine Rivas

(Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos operam em queda na tarde desta quarta-feira (21). Nos prefixados, as taxas recuam até 16 pontos-base, enquanto nos papéis de inflação a baixa é de até 3 pontos-base.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Investimentos, a dinâmica nas taxas hoje é positiva com o mercado aguardando a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de encerrar o ciclo de aperto monetário, reduzindo assim os prêmios na curva.

No cenário externo, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) anunciou na tarde desta quarta-feira (21) a elevação dos juros em 0,75 ponto percentual, para uma faixa de 3% a 3,25%, em linha com as previsões do mercado.

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Leia também: Banco Central interrompe ciclo de alta da Selic e mantém taxa em 13,75%

Contudo, Costa destaca que houve uma revisão para cima nas projeções do Fed sobre os juros.

A mediana das projeções dos dirigentes do Fed apontam para juros em 4,4% ao final de 2022. Dezessete oficiais da autoridade monetária veem juros entre 4% e 4,5%. “Eles ainda esperam uma alta de até 4,75% no começo de 2023”, aponta Costa.

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A volta da inflação para o centro da meta parece mais distante. A mediana das projeções para o índice IPC ao final de 2022 passou de 5,2% para 5,4%. Em 2023, foi de 2,6% para 2,8%. E para 2024, de 2,2% para 2,3%.

Costa destaca ainda a alta do desemprego de 3,9% para 4,4% em 2023. “É um cenário onde o Fed enxerga mais juros, economia desacelerando, desemprego subindo, mas uma inflação ainda em patamar elevado”, avalia.

Na visão de Costa, o Fed está mostrando claramente que precisará subir mais os juros para poder equilibrar a economia a partir de 2024.

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Após a alta de 75 pontos base nos juros dos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçou o compromisso da autoridade americana em reduzir a inflação. O chairman voltou a dizer que a estabilidade de preços é uma prioridade e, sem ela, a economia não funciona.

“Estamos mudando nossa postura política propositalmente”, afirmou Powell. O presidente do Fed admitiu que a economia americana desacelerou em relação a 2021, com um enfraquecimento significativo do setor imobiliário. Uma desaceleração da economia global também está enfraquecendo as exportações.

“Como o medo de os juros subirem 100 pontos-base não se concretizou, o mercado está focando na decisão do Copom no final do dia”, aponta Costa. A expectativa com a possível manutenção da Selic é juros reais menores no futuro, segundo o economista.

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Dentro do Tesouro Direto, a maior queda era na taxa do título prefixado de curto prazo. O Tesouro Prefixado 2025 oferecia às 15h24 um retorno anual de 11,84%, abaixo dos 12% vistos ontem.

Já o Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentavam uma rentabilidade anual de 11,70% e 11,87%, respectivamente, inferior aos 11,85% e 11,95% da sessão anterior.

Nos títulos atrelados à inflação, as taxas recuavam entre 2 e 3 pontos-base. Apenas a taxa do Tesouro IPCA+ 2026 permanecia estável.

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O maior ganho real registrado nesta sessão era de 5,82%, do Tesouro IPCA+ 2055.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (21): 

Fonte: Tesouro Direto

Com a palavra, Powell

Após a alta de 75 pontos base nos juros dos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçou o compromisso da autoridade americana em reduzir a inflação. “Nós não podemos falhar em relação a isso”, disse ele, durante a coletiva de imprensa após a reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). O chairman voltou a dizer que a estabilidade de preços é uma prioridade e, sem ela, a economia não funciona.

“Estamos mudando nossa postura política propositalmente”, afirmou Powell. O presidente do Fed admitiu que a economia americana desacelerou em relação a 2021, com um enfraquecimento significativo do setor imobiliário. Uma desaceleração da economia global também está enfraquecendo as exportações. Enquanto isso, Powell reforça que o mercado de trabalho americano continua extremamente apertado e deve permanecer assim. Os salários continuam elevados e a geração de empregos segue robusta.

“O mercado de trabalho continua fora de equilíbrio”, ressaltou Powell. “Esperamos que condições de oferta e demanda entrem em equilíbrio com o tempo”. No entanto, segundo Powell, por enquanto existem apenas evidência modestas de que o mercado de trabalho está desaquecendo. O chairman afirma que a situação atual é atípica e a taxa de desemprego não deve crescer como ocorreu em recessões anteriores.

“É possível que a geração de empregos diminua sem provocar uma alta de mesma intensidade no desemprego”. Powell disse que o Fed ainda não desistiu da ideia de que é possível ter uma leve alta na taxa de desemprego enquanto a inflação é trazida para baixo.

chairman também afirmou que a inflação continua bem acima da meta do Federal Reserve, de 2%. As pressões inflacionárias atravessam uma série de bens e serviços e os dirigentes do Fed continuam vendo riscos de elevação nos índices. Powell diz que não há espaço para ser complacente com a inflação e que, nos próximos meses, o Fed vai monitorar evidências de que os preços estão caindo.

Mais uma vez, o Fed vai depender de dados para decidir sobre a magnitude de suas próximas decisões. “Em algum momento vai ser apropriado reduzir o ritmo de alta de juros”, afirmou Powell. As decisões serão tomadas a cada reunião, mas Powell diz que uma política monetária mais restritiva será necessária por mais tempo.

Saiba mais:

Fed precisa estar confiante de que inflação desacelerou para reduzir juros, diz Jerome Powell

Fed eleva juros em 0,75 ponto percentual

O Federal Reserve anunciou a sua decisão de política monetária na tarde desta quarta-feira (21) com a elevação dos juros em 0,75 ponto percentual, para uma faixa de 3% a 3,25%, em linha com as previsões do mercado. Este foi o terceiro aumento dessa magnitude e a quinta alta seguida da taxa este ano.

No comunicado, a autoridade monetária antecipou que novos ajustes na taxa serão apropriados. O Fed continua atento aos riscos inflacionários e comprometido em trazer os índices para a meta de 2%.

Leia mais: Entenda como o aumento da taxa de juros nos EUA atinge a economia brasileira

“Indicadores recentes apontam para um crescimento modesto nos gastos e na produção. Ganhos no mercado de trabalho têm sido robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação continua elevada, refletindo os desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de alimentos e energia e pressões de preços mais amplas”, diz o comunicado do Fed.

A autoridade monetária também citou fatores externos. “A guerra da Rússia contra a Ucrânia está causando enormes prejuízos humanos e dificuldades econômicas. A guerra e eventos relacionados a ela estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e estão pesando sobre a atividade econômica global. O Comitê está bastante atento aos riscos inflacionários”, diz o texto.

A mediana das projeções dos dirigentes do Fed apontam para juros em 4,4% ao final de 2022. Dezessete oficiais da autoridade monetária veem juros entre 4% e 4,5%. Para o final de 2023, a projeção mediana é de juros em 4,6%. Para o final de 2024, a projeção é de 3,9% e de 2,9% ao final de 2025.

Saiba mais:

Fed eleva juros em 0,75 ponto percentual pela terceira vez e prevê taxa acima de 4% ao final do ano

Provocação de Guedes a Meirelles

Depois de o “pai” do teto de gastos, o ex-ministro Henrique Meirelles, anunciar apoio à candidatura à Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez críticas à âncora fiscal e justificou os sucessivos rompimentos do teto ao longo do governo Jair Bolsonaro (PL) com uma suposta construção mal feita da norma.

“O teto tinha sido mal construído, porque o teto é para impedir que o governo cresça. Nós não estávamos crescendo”, justificou o ministro ao lembrar das alterações na lei para repassar, em 2019, os recursos do excedente da cessão onerosa.

Já Guedes ouviu elogios do presidente. Bolsonaro, candidato à reeleição, voltou a prometer a recriação do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços se reeleito – medida com a qual o ministro estaria de acordo, segundo disse, mesmo que isso signifique perda de poder.

“Guedes deu certo e o grande teste de fogo dele foi na pandemia. Poucos resistiram com a tenacidade que teve Paulo Guedes”, declarou, na tentativa de afastar a promessa de retirar atribuições do Ministério da Economia de um suposto desgaste de Guedes. As declarações foram feitas durante sabatina promovida pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Cenário eleitoral

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (21) mostra que Lula mantém a liderança da corrida pela Presidência da República. O petista oscilou dois pontos para cima em relação ao levantamento da semana passada e agora tem 44% das intenções de voto. A vantagem de Lula sobre o segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro, é de dez pontos percentuais. Candidato à reeleição pelo PL, Bolsonaro manteve os 34% da semana passada.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney