Tesouro Direto: juros de prefixados despencam para até 11,68% com IPCA-15 e ata do Copom

Segundo Luciano Costa, da Monte Bravo, os dois fatores pesaram para ajudar a descomprimir bastante a curva de juros nesta terça-feira (27)

Bruna Furlani Katherine Rivas

Brasil em queda/crise (Foto: Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos operam mistas na tarde desta terça-feira (27). Nos prefixados, as taxas recuam até 18 pontos-base. Na contramão, nos papéis de inflação as taxas permanecem estáveis ou apresentam alta de até 2 pontos-base.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Investimentos, o cenário é favorável para as taxas locais, apesar da pressão das Treasuries (títulos do Tesouro americano) que avançam por conta do receio do mercado diante de uma recessão. A queda nas taxas locais se fundamente em dois fatores, segundo o economista: a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) que deixou a chance de uma eventual alta de juros mais distante, além de uma melhora nos núcleos de inflação e do IPCA-15 cheio.

Costa destaca que a ata do Copom deixou claro que a probabilidade de elevar os juros é baixa. “O BC avalia que boa parte do que ele já fez ainda tem que acontecer”, afirma. Segundo o economista, os efeitos da política monetária ainda não foram sentidos no mercado, por conta de uma defasagem, o que deve impactar mais na frente a economia e a inflação.

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“A tendência após os choques inflacionários é ter uma desaceleração global da economia em 2023, isso deve trazer um alívio para inflação ao redor do mundo”, aponta Costa. Desta forma, a ata deixou claro que seria necessário ter um choque que coloque em risco o controle da inflação em 2024 para ter uma nova alta nos juros.

Já em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, Costa avalia que os números mostraram desaceleração dos núcleos de inflação (medida que procura captar a tendência dos preços, desconsiderando distúrbios temporários), o que ajudou a tirar certo prêmio (juros) da parte curta da curva.

Ele destaca a inflação dos núcleos de serviços e bens estão desacelerando, criando um quadro de menor preocupação com a inflação no curto prazo.

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O IPCA-15 ficou no campo negativo em 0,37% em setembro na comparação mensal. O consenso Refinitiv esperava uma deflação, ou seja, um número negativo, de 0,20% no mês.

Dentro do Tesouro Direto, as taxas dos prefixados recuavam com destaque para os títulos de curto prazo.

O Tesouro Prefixado 2025 oferecia às 15h25 um retorno anual de 11,68%, inferior aos 11,86% vistos na segunda-feira (26).

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Já o Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentavam uma rentabilidade anual de 11,90% e 12,05%, respectivamente, abaixo dos 11,92% e 12,10% registrados na sessão anterior.

Nos títulos atrelados à inflação, o movimento nas taxas oscilava entre estabilidade e alta de até 2 pontos-base. O maior ganho real registrado nesta sessão era do Tesouro IPCA+ 2055, de 5,84%.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (27): 

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Fonte: Tesouro Direto

IPCA-15 e ata do Copom

O radar dos agentes financeiros está focado na divulgação da prévia da inflação oficial. Com o resultado anunciado nesta terça-feira, o IPCA-15 acumula uma alta de 4,63% no ano. A taxa em 12 meses ficou em 7,96%. A projeção era maior, de 8,13%.

Apesar da deflação, apenas três grupos de produtos e serviços dos nove pesquisados tiveram queda em setembro. Influenciado pelo item “combustíveis”, o grupo dos Transportes registrou recuo de 2,35% nos preços e deu a maior contribuição em pontos percentuais (-0,49 p.p.) do índice.

Os preços dos subitens etanol (-10,10%), gasolina (-9,78%), óleo diesel (-5,40%) e gás veicular (-0,30%) recuaram na comparação mensal, com a gasolina contribuindo com o impacto negativo mais intenso, de -0,52 ponto porcentual entre os 367 subitens pesquisados no IPCA-15 de setembro.

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Outro destaque ficou para o grupo alimentação e bebidas, que recuou 0,47% no mês. O resultado foi puxado para baixo pela alimentação no domicílio, que caiu 0,86% em setembro. Itens como óleo de soja, tomate e o leite longa vida contribuíram para baixar a escalada de preços, sendo que o último item era visto como um dos vilões da inflação mais recentemente. Apesar do recuo no mês, no acumulado do ano, leite e derivados apresentam alta de 34,32%.

Já no grupo comunicação, diversos subitens registraram variação negativa, como planos de telefonia móvel e fixa, acesso à internet, entre outros. Todos sendo influenciados pela redução da alíquota do ICMS aprovada pelo Congresso em junho deste ano.

Os dados de hoje também mostraram recuo no índice de difusão, que mede o percentual de itens que aumentaram de preço no mês. Segundo os cálculos do economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, o índice de difusão ficou abaixo de 60%. Esse é o sexto mês seguido de queda. “É um bom sinal, mas é preciso esperar novos dados”, afirma o especialista.

Na visão do economista da Suno, o efeito defasado da alta de juros, juntamente com o recuo nos preços de commodities, alimentos e combustíveis devem continuar a contribuir para uma desaceleração da inflação no resto do ano.

Já sobre a ata do Copom, o Banco Central ressaltou hoje que avalia que o mercado de trabalho americano, assim como de outras economias avançadas, segue aquecido. No entanto, a reversão de políticas contracíclicas nas principais economias, os efeitos nos preços de energia na Europa por conta da guerra na Ucrânia e a política de combate à covod-19 na China reforçam a perspectiva de desaceleração do crescimento global nos próximos trimestres.

O BC também informou que vê uma normalização incipiente nas cadeias de suprimento e uma acomodação nos preços das principais commodities no período, o que deve levar a uma moderação nas pressões inflacionárias globais ligadas a bens.

Por outro lado, o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho nessas economias sugere que pressões inflacionárias no setor de serviços podem demorar a se dissipar.

Eleições no Brasil

A menos de uma semana das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a disputa pelo Palácio do Planalto com vantagem de 16 pontos percentuais sobre seus adversários, segundo pesquisa Ipec, encomendada pela TV Globo, divulgada ontem (26).

O levantamento, realizado entre os dias 25 e 26 de setembro, mostrou que Lula chegou a 48% das intenções de voto. O movimento representa uma oscilação positiva de 1 p.p. em relação ao último levantamento, divulgado na semana passada, e um salto de 4 p.p. em comparação com três semanas atrás, consolidando tendência de leve crescimento do petista.

Já o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, registrou 31% das intenções de voto − patamar que tem mantido nas últimas três pesquisas, em uma indicação de estagnação. Com isso, a diferença entre os dois candidatos, que era de 13 pontos no começo do mês, agora chegou a 17 pontos.

Europa

Na cena externa, os mercados europeus operam mistos na sessão de hoje, com as ações tentando subir após negociações tumultuadas no início da semana. As atenções continuam voltadas para o Reino Unido após anúncios de política fiscal do Ministro das Finanças britânico Kwasi Kwarteng na sexta-feira.

Investidores permanecem cautelosos com o risco de que a libra possa ceder ainda mais em relação ao dólar, depois que o Banco da Inglaterra indicou que pode não agir antes de novembro para conter a recente desvalorização.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reafirmou ontem (26) que, dada a situação atual, a autoridade monetária espera aumentar ainda mais as taxas de juros nas próximas reuniões de seu comitê.

Isso deve acontecer para “amortecer a demanda” e “se proteger contra o risco de uma mudança persistente para cima nas expectativas de inflação”.