Tesouro direto: juros apresentam queda, com piso de prefixados a 11,93%; foco é o arcabouço fiscal

Entre os títulos atrelados à inflação, destaque era o Tesouro IPCA+ 2045, com valor de 6,31%, ligeiramente menor do que os 6,33% da sexta

Neide Martingo

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O mais novo capítulo da “novela arcabouço fiscal” é que, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como nesta semana não haverá sessão na Câmara, por conta do feriado de sexta-feira, “talvez a regra fiscal não seja apresentada aos deputados. ““O arcabouço fiscal ainda está com sua redação final sendo feita pelo governo”, acrescentou.

Outro destaque é a projeção de inflação para 2023, feita pelos analistas de mercado, que voltou a subir nesta semana, de 5,93% para 5,96%, mas as estimativas foram mantidas para 2024, 2025 e 2026, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (3) no Relatório Focus, do Banco Central.

O IPC-S da quarta quadrissemana de março de 2023 subiu 0,74% e acumula alta de 4,04% nos últimos 12 meses.

Assim como no Brasil, os mercados de ações e de títulos em Wall Street não vão funcionar na próxima sexta-feira, em função da Good Friday. Mesmo assim, um indicador importante está previsto para esse dia: a criação de empregos nos Estados Unidos.

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Para o payroll de março, o consenso Refinitiv projeta a abertura de 238 mil vagas, uma desaceleração em relação às 311 mil de fevereiro. A taxa de desemprego deve se manter estável em 3,6%. Os salários devem apresentar crescimento mensal de 0,3%, na média, e de 4,3% na comparação anual.

No Tesouro Direto, às 15h19, os juros de todos os títulos públicos apresentavam queda, ao contrário do movimento visto na primeira atualização do dia. No horário, o maior retorno era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2033, com 12,66%, menor do que os 12,78% da sexta-feira (31). O piso, oferecido pelo Tesouro Prefixado 2026, era de 11,96%, inferior aos 12,03% da sessão anterior.

O destaque, entre os títulos atrelados à inflação, era o Tesouro IPCA+ 2045, com valor de 6,31%, ligeiramente menor do que os 6,33% da sexta.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (03): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Haddad

Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews, nesta segunda-feira (3) afirmou que é preciso entre R$ 110 bi e R$ 150 bi para arcabouço fiscal e que a reforma tributária está prevista para ser votada na Câmara em junho e no Senado, em outubro. “Não há necessidade de criação de impostos, nem aumentar a alíquota, para se ter superávit primário, e sim acabar com os privilégios do sistema tributário”.

Segundo o ministro, debater as distorções tributárias existentes deveria ser a discussão dos liberais. “Por que os liberais não defendem a posição do governo no Carf?”, disse o ministro, ao responder sobre críticas à proposta de arcabouço fiscal apresentada pelo governo. “Reitero que reforma tributária é para compor a base fiscal, equilibrar contas; o cidadão paga muito pelo consumo”.

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Para ele, há espaço para a economia crescer com a queda da taxa de juros. “Juro real de 8% dá espaço para corte da taxa Selic; tem espaço para corte suficiente para a economia se estabilizar”.
Haddad disse também que a previsão de arrecadação com tributação sobre apostas esportivas feitas pela internet vai variar de 12 a 15 bilhões de reais. No mês passado, Haddad ressaltou que o governo ainda avaliava qual seria a alíquota do tributo a ser cobrado dessas empresas, ressaltando que provavelmente seria um tipo de contribuição.

Focus

A projeção de inflação para 2023 feita pelos analistas de mercado voltou a subir nesta semana, de 5,93% para 5,96%, mas as estimativas foram mantidas para 2024, 2025 e 2026, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (3) no Relatório Focus, do Banco Central.

A projeção do IPCA de 2024 ficou nos mesmos 4,13% da semana passada, enquanto a de 2025 e a de 2026 permaneceram em 4,0%.

Especificamente para os preços administrados, a projeção do IPCA para 2023 manteve a tendência de alta verificada há 18 semanas e passou de 9,48% para 9,65%. Há um mês, a projeção estava em 9,05%. A estimativa para 2024 foi mantida em 4,13%. Para 2025 e 2026, as projeções também continuaram em 4,0%.

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A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) foi mantida em 12,75% para 2023, enquanto a de 2024 continuou em 10,0%. Ambas estão no mesmo patamar há sete semanas seguidas. A de 2025 permanece há oito semanas em 9,0%. Já a de 2026 recuou de 9,0% para 8,75%.

A estimativa para o dólar foi mantida em R$ 5,25 para este ano (9ª semana seguida de estabilidade) e continuou pela quinta semana consecutiva em R$ 5,30 para 2024. A projeção para 2025 está em R$ 5,30 há 15 semanas. Já de 2026 continua em R$ 5,40 há duas semanas.

Para o Produto Interno Bruto (PIB) a projeção de 2023 foi mantida em 0,90% enquanto a de 2024 subiu de 1,40% para 1,48%, a de 2025 avançou 1,71% para 1,80% e a de 2026 subiu de 1,78% para 1,80%.

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Selic

A maioria do mercado prevê manutenção de juros a 13,75%, mas também vê chance de quedas. De acordo com dados da B3 (B3SA3), há ainda uma pequena chance de redução da taxa em 0,25 pontos, na reunião dos dias 2 e 3 de maio. O mercado vê também uma pequena chance de queda de 0,50 p.p. Os dados são reflexos dos contratos de opções de Copom que permitem a negociação da variação da taxa Selic Meta, decidida a cada reunião do comitê.

Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira (3), que não concorda com as “avaliações negativas” que preveem crescimento do país em menos de 1%. “Vamos ver o que vai acontecer quando a chamada economia micro, pequena e média começar a acontecer nos rincões desse país. Vamos ver o que vai acontecer quando as pessoas começarem a produzir mais, a comprar mais, a vender mais. Vamos perceber que a economia vai dar um salto importante”, disse.

A previsão do mercado financeiro para o crescimento da economia brasileira neste ano é de 0,9%, segundo o boletim Focus de hoje. O Ministério da Fazenda projeta o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) em 1,6%.

Há também as previsões do Banco Central, que é de 1,2%, de acordo com o Relatório de Inflação divulgado semana passada, e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que prevê um PIB de 1,4% neste ano.

“Nós acreditamos que a tão sonhada nova política tributária vai passar e  vamos voltar a ser um País em crescimento, geração de emprego. Que essa é nossa obsessão agora. A obsessão do governo é fazer investimentos. Estou muito otimista com a proposta de PPP (parceria público-privada) que vamos colocar em discussão”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da terceira reunião ministerial de seu governo, em Brasília.

“Vamos depender muito do discurso da área econômica e da área produtiva. Se a gente ficar lamentando aquilo que a gente acha que não vai acontecer, ninguém vai investir em cavalo que não corre. O nosso papel é apostar que esse País vai dar certo e vai produzir mais do que algumas pessoas estão esperando”, comentou ainda, no último encontro interministerial que antecede os 100 primeiros dias de seu governo.

Pessimism0

Prestes a completar 100 dias de seu terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta ceticismo crescente do eleitorado em relação ao desempenho da economia brasileira. É o que mostra pesquisa Datafolha, realizada nos dias 29 e 30 de março.

Segundo o levantamento, em três meses, subiu de 20% para 26% o percentual de brasileiros que dizem esperar uma piora da economia. O número agora é o mesmo daqueles que acreditam que não haverá mudança significativa nos próximos meses. Os dois grupos, no entanto, seguem atrás dos otimistas, que oscilaram de 49% para 46% de dezembro para cá.

Desde que retornou ao Poder Executivo após um hiato de 12 anos, Lula tem buscado reativar programas que marcaram suas gestões anteriores, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, a política de valorização do salário mínimo, além de sinalizar para a retomada de um plano de investimentos em obras de infraestrutura, que vem sendo chamado de “Novo PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento).

Haddad e Campos Neto

O arcabouço fiscal continua no radar, já que hoje o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, juntamente com o secretário-executivo da pasta, Gabriel Galípolo e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se reúnem às 17h para falar sobre a proposta de novas regras fiscais para o país.

PMI

PMI industrial da China caiu de 51,6 em fevereiro para 50,0 em março. O desempenho dos fornecedores melhorou pelo 2° mês seguido, o que ajudou a aliviar as pressões de custo, após cinco meses de alta.

O PMI industrial da zona do euro recuou para 47,3 em março, nível mais baixo em quatro meses. Fabricantes relataram a primeira queda nos preços médios de insumos desde os estágios iniciais da pandemia de covid-19, em 2020.

Já o PMI industrial do Japão subiu de 47,7 em fevereiro para 49,2 em março. Empresas ainda se queixam de reduções na produção e nos novos pedidos, mas os indicadores nesse segmentos foram os mais suaves desde outubro. E o PMI industrial do Reino Unido caiu a 47,9 em março e fica abaixo da prévia. Leitura definitiva de março ficou ligeiramente abaixo da estimativa preliminar e da previsão de analistas, de 48,0 em ambos os casos.

Armínio Fraga

O economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga avaliou que, apesar de a nova regra fiscal proposta pelo governo definir variáveis importantes para o funcionamento da economia, a “aritmética da história ainda é frágil”.

O superávit primário previsto no texto para 2025, afirmou, é positivo, mas não é o suficiente, e existe um otimismo perigoso na porcentagem proposta.

“Um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) não é o suficiente, salvo em um cenário muito otimista. E eu acho que não cabe trabalhar com tanto otimismo, penso que esse assunto ainda deve ser discutido”, disse, em entrevista à CNN.

O projeto do novo arcabouço fiscal apresentado pela Fazenda prevê a zeragem do déficit primário das contas do governo federal em 2024. Em 2025, a estimativa é de um superávit de 0,5% do PIB. No último ano do governo Lula, em 2026, a projeção que consta na proposta é de um superávit de 1%.

“Acho que precisaria ter um reajuste maior do que está proposto. A aritmética desse ajuste, ao meu ver, não fecha, e isso é da maior importância. E eu acho que, por outro lado, se esse ajuste for feito de uma maneira transparente, crível, o Brasil poderia viver um período de bons tempos na economia”, disse Fraga.

Balança comercial

A balança comercial registrou superávit de US$ 10,96 bi em março, o que representa um crescimento de 37,7% na comparação com o igual mês do ano passado. As exportações cresceram em março 7,5%, em relação ao mesmo mês de 2022, e somaram US$ 33,06 bilhões, segundo a Secex. Já as importações caíram 3,1% e totalizaram US$ 22,10 bilhões. No acumulado do ano, a balança comercial apresentou superávit de US$ 16,07 bilhões, com crescimento de 29,8% na comparação com o mesmo período de 2022.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney