Tesouro Direto: prefixados oferecem até 12,14% com sinais de fim de ciclo de aperto monetário

Ganho real dos papéis de inflação chega a 5,87%; investidores aguardam IPCA-15 e Jackson Hole

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Rmcarvalho/Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos fecharam em queda na sessão desta terça-feira (23). Nos papéis prefixados, as taxas recuavam até 20 pontos-base, já nos títulos atrelados à inflação o recuo era de entre 2 e 8 pontos-base.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, a queda nas taxas acompanhou a divulgação de dados do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto dos Estados Unidos, que recuou de 47,7 em julho para 45,0 na preliminar de agosto, menor patamar em 27 meses.

“O PMI veio fraco em serviços e indústria, isso diminuiu a pressão nas Treasuries e o mercado reagiu com queda nas taxas”, afirma Costa. Ele também cita que as vendas de casas novas nos Estados Unidos caíram 12,6% em julho, para uma taxa anualizada de 511 mil unidades, o que contribuiu com o movimento de baixa.

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Dados de atividade na Europa também são monitorados de perto por investidores, com o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da Alemanha, por exemplo, atingindo o menor nível em 26 meses.

Já no Brasil, Costa destaca o discurso de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que, durante evento no Chile, deixou sinais claros do fim do ciclo de aperto monetário. “Ele comentou que o Banco Central já avançou bastante na questão do aperto, o discurso foi uma sinalização de que o ciclo acaba na reunião de setembro”, afirma o economista.

No radar do mercado e que pode impactar na curva de juros, Costa destaca dados do IPCA-15, prévia da inflação de agosto, que serão divulgados nesta quarta-feira (24), com perspectivas de forte deflação. Segundo o economista, o dado deve ajudar a entender quanto os índices de inflação estão capturando a redução do imposto ICMS e a queda no preço da gasolina.

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O mercado também segue à espera de novas indicações sobre a postura do Federal Reserve (Fed, banco central americano) no combate à inflação, que podem ser dadas na sexta-feira (26) durante fala de Jerome Powell, presidente do Fed, no simpósio de Jackson Hole.

Dentro do Tesouro Direto, a maior queda era na taxa dos prefixados de curto prazo. O Tesouro Prefixado 2025 oferecia na última atualização desta terça-feira (23) um retorno anual de 12%, inferior aos 12,20% registrados na segunda-feira (22).

Já o Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033 com juros semestrais apresentavam uma rentabilidade anual de 11,97% e 12,14%, respectivamente, às 15h26, abaixo dos 12,15% e 12,28% vistos na véspera.

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Nos títulos atrelados à inflação, as taxas recuavam entre 2 e 8 pontos-base. O maior ganho real registrado era de 5,87%.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (23): 

Fonte: Tesouro Direto

Reviravolta para o Fed

Em nova reviravolta, o mercado passou a apostar que o Federal reserve (Fed, banco central americano) aplique uma alta de 0,75 ponto percentual em setembro.

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Mais cedo, segundo levantamento do CME Group, 55,5% dos entrevistados entendiam que a autoridade monetária dos EUA elevará as taxas de juros em setembro em 0,50 ponto, para a faixa 2,75%-3,00%. Já os que entendiam que o aumento será de 0,75 ponto, para a faixa 3,00%-3,25%, estava em 44,5%. Agora, o quadro voltou a se inverter: 47,5% apostam em alta de 0,50 ponto, enquanto 52,5% acreditam em alta de 0,75 ponto.

Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 23, que o histórico inflacionário brasileiro fez com que a autoridade monetária evitasse “fazer pouco” no combate à alta de preços para não correr o risco de o País cair em recessão.

Todo banco central tenta evitar dois erros: fazer demais ou não fazer o suficiente. Bancos Centrais de países com histórico de inflação menor, como o Chile, podem arriscar mais. No caso do Brasil, temos uma memória muito vívida de inflação alta e estamos sempre tentando evitar o risco fazer pouco e pagar com uma recessão”, afirmou, em participação no 18º International Investment Seminar, promovido pelo Moneda Asset Management, em Santiago, Chile.

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Campos Neto disse não celebrar o recuo nos índices de inflação registrados recentemente. “Ainda há muito trabalho a fazer”, afirmou. “Maior parte do trabalho do BC ainda não impactou preços.”

Ele previu três meses de deflação decorrentes das medidas adotadas pelo governo para baixar o preço dos combustíveis.

Mas ressaltou outras variáveis, como questões sobre taxa de equilíbrio de desemprego no Brasil. “Ainda vemos inflação de serviços subindo, com moderação em núcleos”, acrescentou

No evento, Campos Neto ressaltou que o Brasil teve experiência com juros baixos quando o cenário fiscal estava controlado e que há sempre incerteza com fiscal quando há troca de governos. “Temos que criar credibilidade, para que mercado entenda a mensagem de que o Brasil está olhando a disciplina fiscal”, completou.

PMIs

Investidores acompanharam dados de atividade do continente europeu. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da Alemanha caiu de 48,1 em julho para 47,6 em agosto, ou seja, resultado que sinaliza contração da atividade, segundo dados preliminares divulgados hoje pela S&P Global.

A agência também apresentou hoje o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, que caiu de 49,9 em julho para 49,2 em agosto, atingindo o menor nível em 18 meses. Os dados são preliminares, mas mostram que houve recuo da atividade.

A prévia do PMI composto, porém, superou levemente a expectativa de analistas consultados pelo Wall Street Journal, que previam declínio a 49 neste mês.

Orçamento, arcabouço fiscal e entrevista ao JN

Na cena política local, investidores monitoram informação de que a proposta orçamentária de 2023 deve trazer “oficialmente” o valor R$ 400 para o Auxílio Brasil e um “compromisso” de R$ 600, segundo apurações do jornal O Globo.

De acordo com o periódico, isso deve estar presente na mensagem do Orçamento que será enviada ao Congresso, assim como na Exposição de Motivos, como é chamada tecnicamente a justificativa de um projeto de lei.

Destaque também para a informação de que o Partido dos Trabalhadores (PT) cogita reviver regras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como política fiscal, conforme mostra a CNN.

Apurações do canal mostram que a ideia é dividir o Orçamento entre “orçamento de capital” e “orçamento convencional”. Pelo formato, o “orçamento de capital” englobaria os investimentos prioritários e do governo e, portanto, ficaria de fora das regras fiscais. O modelo é semelhante ao utilizado no PAC com investimentos de infraestrutura, só que agora também seriam agregados a essa rubrica os investimentos sociais.

Atenção também para as repercussões envolvendo a entrevista de Jair Bolsonaro (PL) ao Jornal Nacional na véspera (22). Segundo a Folha de S.Paulo, aliados do presidente afirmaram que a participação teve saldo positivo.

O jornal destacou que a maior preocupação do entorno de Bolsonaro era que ele pudesse perder o equilíbrio e cometer grosserias, especialmente com a apresentadora Renata Vasconcellos. Na avaliação deles, diz a Folha, o presidente manteve o controle e evitou atritos excessivos com a apresentadora.