Tesouro Direto: em novo dia de aversão a risco, prêmios de títulos públicos alcançam percentuais do começo da pandemia

Título prefixado com vencimento em 2031 e juros semestrais pagava um retorno de 9,95%, no maior nível desde 25 de março de 2020, com piora fiscal e política

Bruna Furlani

(Getty Images)

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SÃO PAULO — Com o aumento do risco no cenário local diante do temor sobre a reabertura do Refis e dos conflitos entre os poderes Executivo e Judiciário, os prêmios dos títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto operavam sem direção única na tarde desta sexta-feira (6), na comparação com as taxas vistas no começo do dia. Entre os papéis em alta, as taxas eram as maiores desde o início da pandemia.

Na prática, o movimento de maior aversão ao risco provoca uma forte abertura das taxas porque os investidores pedem maior retorno, com um cenário fiscal e político mais complexo.

Entre os títulos com retornos prefixados, o juro do papel com vencimento em 2024 oscilava próximo da estabilidade em relação à sessão anterior, ao pagar uma taxa de 9,15% na tarde de sexta-feira (05). O percentual, contudo, estava abaixo dos 9,20% vistos no começo da manhã. No mesmo horário, o título prefixado com vencimento em 2026 mantinha o retorno de 9,45% da manhã, contra 9,42% um dia antes.

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Já o prêmio do título prefixado com vencimento em 2031 e pagamento de juros semestrais avançava de 9,92% para 9,95%, acima dos 9,88% vistos na tarde de quinta-feira, e no maior nível desde 25 de março de 2020 (9,57%).

No grupo de papéis com retornos atrelados à inflação, o juro real pago pelo título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 caía de 4,27% para 4,23%, mas acima dos 4,19% pagos um dia antes. Os prêmios dos títulos Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2035 e 2045 também recuavam de 4,45% para 4,41%, mas ainda acima dos 4,38% vistos anteriormente. Esse é o maior patamar desde o início da pandemia, em 26 de março de 2020, quando o prêmio pago por esses títulos era de 4,59% ao ano.

Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto nesta sexta-feira (6):

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Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Refis e embate entre Executivo e Judiciário

O aumento dos riscos no cenário local está relacionado a temores com questões fiscais e políticas. Uma das preocupações dos investidores está na aprovação ontem pelo Senado de projeto de lei que reabriu o programa de parcelamento de débitos tributários – popularmente conhecido como Refis.

O relatório do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) foi aprovado em votação simbólica. Agora, a matéria segue para a Câmara. O parecer reabre oficialmente o Programa Especial de Regularização Tributária (PERT) e prevê dar perdão de até 90% em multas e juros e de 100% nos encargos para dívidas contraídas até um mês antes da aprovação do programa para empresas e pessoas físicas.

Agora à tarde, contudo, a agência de notícias Reuters informou que o novo texto do Refis pode ter algumas partes vetadas. De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, o governo não teria ficado contente com a redação que foi aprovada ontem no Senado. A justificativa é que isso abriria espaço para beneficiar inclusive os contribuintes que não sofreram qualquer perda na crise e que ficam repetidamente aderindo a versões diferentes de Refis.

Além das discussões sobre Refis, o mercado acompanha os impactos da troca de ofensas entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de 2022.

A cruzada do presidente com ministros de Cortes Superiores levaram a relação entre os Poderes Executivo e Judiciário ao seu pior momento desde a posse do atual governo, na avaliação de analistas políticos consultados em nova rodada do Barômetro do Poder.

A iniciativa do InfoMoney compila mensalmente as avaliações e expectativas de consultorias de análise de risco político e analistas independentes sobre alguns dos assuntos em destaque na política nacional. Clique aqui para acessar a íntegra.

Sob ameaças de não haver eleições, Bolsonaro acusou, nos últimos dias, o ministro Barroso de interferir nas discussões da Câmara para evitar a aprovação da proposta que vetou o voto impresso.

Em resposta aos ataques, o presidente do STF, Luiz Fux, afirmou, ontem, que o chefe do Executivo reitera inverdades e anunciou o cancelamento de uma reunião que ocorreria entre os chefes dos Poderes. Segundo Fux, quando se atinge um ministro do Supremo, se atinge a corte como um todo. O presidente do STF criticou também o que chamou de afirmações equivocadas de Bolsonaro sobre decisões do Supremo e suas acusações ao sistema de votação brasileiro.

Diesel e estoque de veículos

Também no cenário político, o mercado monitora de perto o aceno feito por Bolsonaro a caminhoneiros, em que ele disse que estuda zerar o imposto federal sobre o diesel a partir no início de 2022.

E as preocupações do mercado não param por aí. Segundo dados apresentados hoje pela manhã pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os estoques de veículos nos pátios de montadoras e concessionárias chegaram ao nível mais baixo da série desde 1999.

Segundo a Anfavea, o volume de veículos em estoque nos pátios de montadoras e concessionárias caiu de 93 mil para 85,1 mil unidades de junho para julho. O total é hoje suficiente para apenas 15 dias de venda, tempo ligeiramente menor do que o registrado um mês antes e que era de 16 dias.

Cenário internacional

O destaque do cenário internacional, por sua vez, ficou sobre o relatório de emprego (“payroll”) relativo a julho nos Estados Unidos. De acordo com os dados divulgados hoje pelo Departamento de Trabalho americano, o país criou 943 mil empregos no mês passado.

A mediana da pesquisa da Refinitiv com economistas projetava criação de 870 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês passado.

O Departamento de Trabalho americano também anunciou, nesta sexta-feira, que os dados de junho foram revisados para cima, de 850 mil para 938 mil vagas.

A taxa de desemprego de julho, por sua vez, recuou de 5,9% para 5,4%. A projeção era que a taxa de desemprego cairia para 5,7% no mês passado. Os números do relatório de emprego têm o potencial de pautar as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Após a divulgação dos números, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, se mostrou bastante positivo com seu plano econômico. Mas voltou a defender a vacinação como pré-requisito para a continuidade da recuperação da economia. “O que é indiscutível agora é que o plano Biden está funcionando. O plano Biden produz resultados e está fazendo o país avançar”, comemorou.

O chefe da Casa Branca destacou a importância do pacote fiscal aprovado em março, que previa o envio de cheques emergenciais às famílias, e agradeceu ao parlamentares que elaboraram o texto do pacote de infraestrutura que tramita agora no Senado.

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