Tesouro Direto: com recuperação externa e falas de Pacheco e Lira sobre precatórios, taxas dos títulos públicos caem nesta 3ª

Investidores acompanham desdobramentos sobre a situação da gigante asiática Evergrande, além de possíveis soluções para os precatórios

Bruna Furlani

(Rmcarvalho/Getty Images)

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SÃO PAULO – O dia é de recuperação nos mercados mundiais nesta terça-feira (21), após o tombo de ontem. Embora o tom seja um pouco melhor, investidores seguem preocupados com a crise da gigante imobiliária chinesa Evergrande e o potencial contágio para outras economias.

No cenário local, investidores acompanham as falas de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, de que ambos vão buscar uma solução para o pagamento dos precatórios e para o financiamento do Auxílio Brasil com respeito ao teto de gastos. Nesse contexto, o mercado de títulos públicos segue com queda nas taxas na tarde desta terça-feira (21).

Na atualização das 15h, a remuneração do título prefixado com vencimento em 2026 era de 10,18%, contra 10,25% no começo da manhã. Um dia antes, o mesmo papel oferecia um retorno de 10,43%. O juro pago pelo título com vencimento em 2031, por sua vez, recuava de 10,87% para 10,83%, durante a tarde. Percentual abaixo dos 11,06% vistos na tarde de segunda-feira (20).

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Entre os papéis atrelados à inflação, o juro real oferecido pelo Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035 e 2045 era de 4,73%, abaixo dos 4,76% registrados um dia antes. Já o retorno real do Tesouro IPCA com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais era de 4,87%, contra 4,88% na sessão anterior.

Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (21): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Bolsonaro, precatórios e IOF

Um dos destaques da cena local foi o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas na manhã desta terça-feira (21). Em sua fala, o mandatário do país reforçou a defesa de bandeiras conservadoras, em aceno à sua base eleitoral. Além disso, Bolsonaro chamou atenção para a recuperação econômica do país e destacou o avanço da vacinação contra a Covid-19.

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O presidente, no entanto, manteve posição enfática contra o chamado passaporte sanitário e em defesa do uso de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento precoce do coronavírus.

Bolsonaro afirmou, ainda, que seu governo “recuperou a credibilidade externa” do Brasil e que o país hoje apresenta um dos melhores desempenhos econômicos entre os emergentes. “Temos tudo o que investidor procura: um grande mercado consumidor, excelentes ativos, tradição de respeito a contratos e confiança no nosso governo”, frisou.

Outro tema que deu o tom no fim da manhã desta terça-feira (21) está ligado ao pagamento dos precatórios. Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, disse que a “solução” acordada para resolver o problema entre o Executivo e o Legislativo “não é calote”. A fala veio após reunião com Paulo Guedes, ministro da Economia, e com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara.

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Pacheco anunciou que enviará ao Congresso Nacional uma proposta para retirar do teto de gastos a maior parte dos R$ 89,1 bilhões devidos pelo governo em dívidas judiciais e que deveriam ser pagos no ano que vem.

A ideia é corrigir o montante pago com precatórios em 2016, ano em que o teto de gastos foi instituído, e travar o pagamento das despesas entre R$ 39 bilhões e R$ 40 bilhões. Com isso, os outros cerca de R$ 50 bilhões previstos para serem pagos até 2022 ficariam “alheios ao limite do teto”, e poderiam ser transferidos para 2023.

Ainda na cena política, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciado pelo governo na semana passada não foi muito bem digerido pela liderança da Câmara.

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Na véspera, Arthur Lira (PP-AL) afirmou que a decisão tomada pelo governo foi feita sem debate com o Congresso, e que ela será analisada posteriormente pelo Legislativo.

Segundo o decreto publicado na semana passada, o aumento do imposto valerá entre 20 de setembro e 31 de dezembro e tem como objetivo principal custear o aumento no valor do Auxílio Brasil, novo programa social do governo que irá substituir o Bolsa Família.

Investidores também monitoram a piora da crise hídrica. Segundo matéria do jornal O Estado de S. Paulo, a usina de Belo Monte, no Pará, que é a quarta maior usina hidrelétrica do mundo, vem operando com meia turbina desde agosto. Atualmente, ela está produzindo cerca de 300 MW por dia – ou seja, 2,67% da potência total.

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Cenário internacional

As atenções do mercado externo seguem voltadas para o caso da Evergrande. Hoje, segundo a imprensa local, o presidente da companhia buscou tranquilizar os mercados, e afirmou que a empresa irá cumprir com suas responsabilidades entre compradores de propriedades, investidores, parceiros e instituições financeiras.

Para Henrique Esteter, especialista de Mercados do InfoMoney, os investidores esperam que o governo chinês traga uma solução para a crise da Evergrande, embora ainda não se tenha muita clareza sobre qual será a saída encontrada. Para ele, o Partido Comunista Chinês (PCC) precisa pesar o risco sistêmico da insolvência da incorporadora com o risco moral de resgatá-la.

“Existe muita expectativa do governo atuar para evitar o contágio no setor imobiliário e no financeiro. Só a dívida da Evergrande já representa 2% do [Produto Interno Bruto] PIB chinês. Por outro lado, se a China intervir pode ter o efeito das empresas acharem que podem se endividar à vontade que os políticos socorrem”, explica.

Esteter acredita que a solução será um meio termo, algo como deixar o investidor “sangrar um pouco” antes de salvar a empresa, de modo a não criar incentivos à ingerência.

Ainda no radar internacional, a terça-feira marca o primeiro dia das reuniões de política monetária do banco central americano em que os dirigentes podem dar mais sinalizações sobre o início da redução do programa de compra de ativos, atualmente a US$ 120 bilhões mensais.

Investidores monitoram ainda as novas projeções divulgadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nesta terça-feira (21). Em seu último relatório trimestral de perspectiva econômica, a entidade reduziu levemente a previsão de alta do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2021, de 5,8% para 5,7%, mas ajustou para cima a projeção de avanço em 2022, de 4,4% para 4,5%.

Por outro lado, a OCDE revisou para cima sua projeção de alta do PIB do Brasil em 2021, para 5,2%. Em maio, a entidade esperava que a economia brasileira crescesse 3,7% este ano.

Já para 2022, a OCDE reduziu para baixo sua previsão de avanço do PIB brasileiro, de 2,5% a 2,3%, informa o documento.

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