Tesouro Direto: taxas apresentam movimento misto com aversão ao risco e projeções altistas para a inflação

Títulos prefixados oferecem um retorno anual de até 12,17%

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos operam em direção mista na tarde desta terça-feira (26). As taxas do prefixado de curto prazo avançam, enquanto os títulos de longo prazo recuam. Já nos papéis atrelados ao IPCA, o movimento é de estabilidade nas taxas.

Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, a curva de juros experimentou um movimento de alta hoje fruto de três fatores: o primeiro é a alta do dólar, com aumento da aversão ao risco dos investidores, em meio a novos lockdowns na China e aperto monetário agressivo do Federal Reserve nos Estados Unidos.

O economista cita também novas tensões no Leste Europeu, com possível suspensão de fornecimento do gás russo à Polônia e ataque suspeito em província separatista na Moldávia.

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Além do sentimento de risco, Borsoi destaca a alta nas projeções do IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo no relatório Focus e em véspera da divulgação do IPCA-15 de abril. “Isso leva os investidores a se posicionar para uma possível revisão altista nas projeções da inflação”, aponta.

Ele também cita o leilão do Tesouro Nacional, que teve dificuldades de colocação a mercado, principalmente nos títulos mais longos com vencimento em agosto de 2035 e agosto de 2060.

Dentro do Tesouro Direto, o título prefixado de curto prazo apresentava alta nas taxas. O Tesouro Prefixado 2025 oferecia um retorno anual de 12,19% nesta terça-feira (26), superior aos 12,15% vistos ontem.

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Na contramão, o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentava queda nas taxas. O título oferecia uma rentabilidade anual de 12,27%, inferior aos 12,32% da sessão anterior.

Enquanto as taxas do Tesouro Prefixado 2029 e de todos os títulos do Tesouro IPCA+ operavam com estabilidade.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta terça-feira (26): 

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Relatório Focus

Após cerca de um mês de interrupção nas publicações, o Relatório Focus voltou a ser divulgado nesta terça-feira. O avanço da projeção de IPCA para 7,65% neste ano representou a 15ª alta consecutiva das expectativas para o indicador. Também houve piora nas estimativas para a inflação oficial em 2023 e 2024, para 4% e 3,2%, respectivamente.

Com isso, as projeções de inflação para os três anos estão acima da meta. Para este ano, por exemplo, a expectativa da pesquisa Focus representa mais do que o dobro da meta do BC, que é de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Apesar da subida nas projeções, as estimativas de avanço da Selic permaneceram as mesmas para 2023, 2024 e 2025 (9,0%, 7,50% e 7,00%, respectivamente).

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Por outro lado, houve ajuste positivo nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que passaram de 0,50% para 0,65%. Já a estimativa do PIB para 2023 diminuiu, de alta de 1,30% para alta 1,00%. Para 2024 e 2025, a estimativa de crescimento da economia é de 2,00%.

Sobre o dólar, agora a mediana das estimativas dos economistas aponta que a divisa americana deve encerrar este ano em R$ 5, valor menor do que R$ 5,25 previstos anteriormente. Houve recuo também nas projeções para o câmbio nos próximos três anos (US$ 1 = R$ 5,00 em 2023, R$ 5,05 em 2024 e R$ 5,10 em 2025).

Embora a expectativa é que o câmbio recue até o fim do ano, o movimento recente de subida do dólar frente ao real tem chamado a atenção de especialistas nas últimas duas sessões. Ontem, o mercado até começou o dia vendendo dólares – na mínima, a cotação caiu 0,17%, a R$ 4,7985.

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Dólar dos R$ 4,60 para R$ 4,90: o que explica a forte alta da divisa americana nas últimas sessões

Porém, a situação começou a mudar com a deterioração dos mercados na Europa e com a queda nos preços de commodities, em meio aos temores de lockdown na China e a uma política monetária mais dura nos Estados Unidos.

“Há uma percepção, outrora de poucos, de que o Federal Reserve vai precisar subir os juros numa velocidade muito maior, com alguns analistas já prevendo altas de 75 pontos-base para o próximo Fomc, o que pode beneficiar o dólar”, comentou Alexandre Espirito Santo, economista-Chefe da Órama, ao InfoMoney.

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Pesou também sobre a moeda americana a tensão criada entre o Ministro Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF) e as Forças Armadas sobre a lisura das urnas eletrônicas. “Está evidente que o mercado está de olho já na eleição, e as rusgas trocadas por um ministro do Supremo e as Forças Armadas não é um sinal alvissareiro”, disse André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

Aperto monetário nos Estados Unidos

O aperto mais rápido da política monetária dos EUA coloca o processo de desinflação no Brasil em risco nos próximos dois anos (2023 e até 2024), segundo relatório assinado por Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho, economistas do Credit Suisse.

Os economistas acreditam que o Banco Central continuará elevando a Selic, que atingirá, na visão da casa, 14% em agosto. Neste contexto, o aumento da diferença entre as taxas de juros entre o Brasil e os EUA, tanto em termos nominais e reais, quanto no curto e longo prazos, associado a maiores termos de troca, tem ajudado a moeda brasileira a ter uma forte valorização no ano, o que deve contribuir para reduzir as pressões inflacionárias.

Contudo, para os economistas, essa dinâmica da taxa de câmbio pode estar em risco em caso de avanço significativo na taxa de juros nos EUA, como tem sido sinalizado recentemente pelo Federal Reserve. A dinâmica já vem mudando nas últimas sessões, com o dólar passando de R$ 4,60 para R$ 5 desde sexta-feira, tendo, entre outros fatores, também as sinalizações de um aperto monetário mais forte nos EUA.

“Atualmente, projetamos um IPCA de 4,4% em 2023. No entanto, se o mercado reprecificar a taxa dos Fed Funds no fim de 2023 de 3,0% para 4,5%, a nossa projeção de IPCA cresceria em 0,5 ponto porcentual, para 4,9% no fim de 2023, contra o centro da meta de 3,25% e o limite superior de 4,75%”, avaliam os economistas do Credit.

Lula e Campos Neto

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera a atual corrida presidencial, disse nesta terça-feira que não tem problemas com o presidente do Banco Central.

Roberto Campos Neto foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para presidir o BC 2019 e deve manter seu cargo mesmo que Lula seja eleito devido à independência do banco aprovada pelo Congresso.

Em entrevista a youtubers e blogueiros de esquerda, Lula disse que o principal ponto que gostaria de discutir com Campos Neto é que não é preciso cumprir metas de inflação apenas por meio de juros mais altos.

O petista reforçou que durante seus oito anos no comando do governo federal, deu total liberdade ao então presidente do BC, Henrique Meirelles. (Reuters)