SVB: governo tem menos de 48 horas para corrigir um erro que em breve será irreversível, diz Bill Ackman

Para megainvestidor, onda de resgates é esperada, assim como maior concentração do risco bancário em poucas instituições financeiras muito grandes

Mariana Segala

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O megainvestidor Bill Ackman, fundador e CEO da gestora Pershing Square Capital Management, afirmou neste sábado (11) que o governo americano tinha “cerca de 48 horas para corrigir um erro que em breve será irreversível”. Ele se referia à situação do Silicon Valley Bank (SVB), fechado e colocado em concordata pelos reguladores da Califórnia na sexta-feira (10).

Ackman é conhecido por ter feito apostas de sucesso antecipando-se à crise do coronavírus e ou vendendo ações da Herbalife. Em sua conta no Twitter, ele argumentou que se alternativas como a compra do SVB por outra grande instituição ou a garantia de todos os depósitos no banco pelo governo não forem tomadas, a consequência será uma corrida dos clientes de bancos para resgatar seus recursos.

“Esses recursos serão transferidos para os SIBs [bancos sistemicamente importantes], money market funds [fundos de curto prazo e baixo risco que investem em títulos públicos americanos] e Treasuries [títulos públicos] de curto prazo”, disse. Segundo ele, já existe pressão nesse sentido, devido aos rendimentos “substancialmente mais altos” dos títulos emitidos pelo governo, considerados ativos sem  risco em relação aos depósitos bancários.

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Para Ackman, as consequências do movimento de saques que prevê seriam a drenagem da liquidez e a “destruição” de bancos regionais e comunitários; a redução das taxas de curto prazo das Treasuries em função da alta demanda, o que dificultaria os esforços do Fed (Federal Resereve, banco central dos EUA) para desacelerar a economia; e dificuldades de algumas das empresas mais inovadoras e de crescimento acelerado do país para honrar com a folha de pagamento na próxima semana.

“Se o governo tivesse intervindo na sexta-feira para garantir os depósitos do SVB (em troca de penny warrants, que teriam eliminado a maior parte de seu valor), isso poderia ter sido evitado, e o valor da franquia de 40 anos do SVB poderia ter sido preservado e transferido a um novo proprietário em troca de uma injeção de capital”, afirmou, completando: “Estaríamos abertos a participar”.

Os penny warrants são títulos que permitem ao seu detentor comprar uma determinada quantidade de ações de uma empresa pelo chamado “preço de exercício nominal”. Esse preço é definido em um valor muito baixo, geralmente de US$ 0,01 por ação – daí o nome penny warrant.

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Uma abordagem nesse sentido, avalia Ackman, teria minimizado o risco de perdas para o governo e criado potencial de lucro com o resgate. Agora, em sua visão, é improvável que surja um comprador para o SVB.

Neste domingo (12), a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou que o governo americano não deve realizar um resgate do SVB. Em entrevista à rede CBS, Yellen lembrou que investidores e proprietários de grandes bancos sistêmicos foram resgatados na crise financeira global de 2008, mas essa não é uma alternativa dessa vez.

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“As reformas implementadas [desde a crise de 2008] significam que não faremos isso novamente. Mas estamos preocupados com os depositantes e estamos focados em tentar atender às suas necessidades”, disse.

Em seu texto, Ackman convidou quem avalia ser um “risco moral” dar suporte aos depositantes do SVB a considerar a viabilidade de cada depositante fazer sua própria avaliação de crédito do banco com o qual escolhe lidar. “Sou um analista financeiro bastante sofisticado e considero a maioria dos bancos uma caixa preta, apesar das milhares de páginas de documentos disponíveis na SEC [Securities and Exchange Comission, órgão equivalente à CVM] sobre cada banco”, disse.

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Ackman afirmou ainda que o SVB deveria estar no topo da lista de observação do Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), entidade com atuação semelhante à do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) brasileiro, e do OCC (Office of the Comptroller of the Currency), outro órgão regulador, já que o banco possuía mais de US$ 200 bilhões em ativos e US$ 170 bilhões em depósitos de empresas de um só setor.

“Esta administração se opõe particularmente às concentrações de poder. Ironicamente, sua abordagem à falência do SVB garante uma concentração de risco bancário duopolista em um punhado de SIBs”, disse.

Também neste domingo, a agência Bloomberg noticiou que o FDIC e o Fed estão avaliando a criação de um fundo que permitiria aos reguladores proteger mais depósitos em bancos que enfrentam problemas após o colapso do Silicon Valley Bank.

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Em outra postagem no Twitter, Ackman esclareceu que não possui nenhuma exposição direta ao SVB, assim como sua gestora, a Pershing Square. Disse ainda que, pessoalmente, investe em fundos de venture capital menos conhecidos que, esses sim, podem ter exposição ao banco. Sua posição inteira em venture capital, no entanto, corresponde a menos de 10% dos seus ativos.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney