Seu portfólio está preparado para o aumento da inflação? Gestora de US$ 630 bi recomenda ajustes na carteira

Crédito do tipo "high yield", ações de valor e ativos de mercados emergentes deveriam ganhar exposição nos portfólios, segundo a AllianceBernstein

Beatriz Cutait

(Pixabay)

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SÃO PAULO – Seu portfolio está preparado para a inflação? A resposta à indagação feita pela equipe da gestora americana AllianceBernstein (AB) pode até ter sido dirigida a investidores com posições predominantes no mercado americano, mas os brasileiros também podem – e devem – aproveitar as orientações ao analisar suas carteiras locais.

De olho em uma forte recuperação econômica, especialmente com o ritmo acima do previsto de vacinação contra o coronavírus e com o amplo estímulo fiscal em curso nos Estados Unidos, há uma preocupação cada vez maior com o aumento dos preços. O temor tem se refletido no mercado de títulos americanos, com a alta dos rendimentos dos “treasuries” no centro das atenções no cenário recente.

Não há, contudo, razão para pânico. Na avaliação da AB, que é responsável pela gestão de cerca de US$ 630 bilhões em recursos, ainda que a expectativa seja de maior pressão inflacionária no curto prazo, a questão não deverá ser a mesma de 50 anos atrás.

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A gestora espera inflação de 2,1% ao fim de 2021, com uma tendência estável a partir de então.

“Como a recessão teve curta duração, acreditamos que as restrições de oferta que impulsionam a inflação devem diminuir de forma relativamente rápida. E assim que a economia dos EUA começar a se recuperar, o núcleo da inflação deve diminuir, à medida que a oferta alcança a demanda. Embora algumas medidas populares sugiram que as expectativas de inflação anualizadas para os próximos cinco anos atingiram 2,4%, este ainda é um nível moderado, apesar de ser o mais alto em uma década”, destacaram, em relatório, Mark Gleason, Ronit Walny e David Wong.

Mas o recado não é ficar parado. A orientação é para que os investidores pensem em fazer ajustes em seus portfólios e reconsiderem algumas classes de ativos evitadas na última década.

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Renda fixa

Na classe mais conservadora das carteiras, com um juro real negativo a partir do investimento em títulos do Tesouro americano, não há grandes saídas. Para começar, a AB recomenda que o investidor considere reduzir modestamente o duration da carteira ou a sensibilidade às taxas de juros.

Ainda que ressalte que os preços dos títulos de curto prazo caiam menos do que aqueles de maior duração à medida que os rendimentos do mercado aumentam, no atual ambiente, “sentar em títulos de curto prazo não cobrirá os efeitos da inflação”, enfatiza a equipe da AB.

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Os títulos indexados à inflação estão entre as apostas da gestora, diante da avaliação de que eles terão desempenho superior aos papéis com vencimentos comparáveis se a inflação aumentar mais do que o esperado. Mas eles não estão livres de risco, considerando um horizonte de crescimento econômico pressionando o juro real desses papéis.

Por isso, o melhor caminho na avaliação da AB está no mercado de crédito, com maior exposição do investidor a títulos do tipo “high yield” (com maior retorno e, consequentemente, mais risco atrelado), e com uma diversificação para outros papéis com baixa correlação com títulos do governo.

Bonds vinculados ao setor financeiro poderão ser beneficiados por uma inflação mais alta, diz a Alliance Bernstein, dado que, à medida que as taxas de juros aumentam, crescem as margens dos bancos, melhorando os perfis de crédito.

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Ações de valor > Ações de crescimento

Também são recomendados alguns ajustes na classe de ativos de maior risco das carteiras. Um aumento das taxas de juros nos Estados Unidos poderia afetar diretamente o desempenho das ações de crescimento, especialmente de empresas com hipercrescimento avaliadas com base em lucros que ainda não aconteceram.

“Em outras palavras, as empresas com hipercrescimento são bastante suscetíveis ao aumento dos rendimentos dos bonds, mesmo que tenham tecnologia de ponta e forte crescimento nas vendas, porque seus ganhos futuros são descontados por uma taxa de juros mais alta. Os investidores em ações de crescimento devem verificar se suas alocações não estão muito expostas a empresas muito caras com baixo poder de lucro atual”, diz a gestora.

Na direção contrária, ações de “valor” podem se beneficiar da inflação, com o aumento da confiança de investidores com o processo em curso de vacinações contra a Covid-19 e a retomada global.

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“Com as ações de valor global sendo negociadas com um desconto recorde de 52% em relação a ações de crescimento no fim de fevereiro, achamos que os investidores devem considerar iniciar ou aumentar a exposição da alocação em ações de valor”, diz a AB.

Da mesma forma, a gestora considera importante dar atenção a ações e renda fixa de mercados emergentes, principalmente diante das perspectivas positivas sobre commodities. E ativos reais, como as próprias commodities, imóveis ou moedas, também tendem a apresentar historicamente um bom desempenho com o aumento da inflação.

“Não há necessidade de temer o espectro da inflação. Com alguns ajustes prudentes, investidores podem se preparar para um ambiente moderadamente inflacionário e posicionar as carteiras para prosperar à medida que a recuperação da pandemia avança”, resume a gestora americana.

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.