Se a Selic parar em 13,75%, quanto rendem R$ 200, R$ 500 ou R$ 1.000 aplicados em CDB durante cinco anos?

É preciso considerar que os juros não se manterão estáticos nos próximos anos; simulação mostra ganho acumulado de quase 61%

Bruna Furlani

(Dihandra Pinheiro/GettyImages)

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Às vésperas da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que decidirá na próxima semana em quanto vai ficar a Selic, os investidores andam fazendo contas. A aposta dominante entre os agentes financeiros é de que a taxa básica de juros será mantida em 13,75% ao ano, patamar a que chegou em agosto, encerrando o ciclo de elevações iniciado há um ano e meio. Se isso acontecer, quanto passarão a render os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), papéis comuns e acessíveis de renda fixa, daqui para os próximos anos?

É preciso lembrar que permanecendo em 13,75% ou alcançando 14% ao ano agora em setembro, os juros não permanecerão estáticos. Eles mudarão ao longo do tempo, conforme o necessário para combater a inflação. Portanto, adotar uma taxa única para estimar os ganhos nos próximos dois, três ou cinco anos poderá não refletir a realidade.

Sendo assim, como saber quanto renderá uma aplicação de R$ 200, R$ 500 ou R$ 1.000 em cinco anos? A resposta está na curva de juros, que reflete as expectativas do mercado financeiro para as taxas no futuro.

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Uma simulação realizada por Michael Viriato, estrategista-chefe da Casa do Investidor, para o InfoMoney ajuda a estimar os ganhos que os investidores podem obter. Ele utilizou como referência dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), coletados nesta quarta-feira (14), referentes às taxas precificadas para os próximos cinco anos na curva de juros.

A expectativa para a taxa do CDI – indicador de rentabilidade da renda fixa que acompanha de perto a Selic – em um ano considerada na simulação foi de 13,4979%. Para dois anos, foi de 12,3119% e para três, de 11,7918%. Para quatro anos, a estimativa do CDI foi de 11,6763% e para cinco, de 11,7115%.

Se aplicasse hoje R$ 200 em um CDB que oferecesse uma remuneração de 100% do CDI, o investidor receberia R$ 321,44 em cinco anos depois. O valor é líquido de impostos. Tal montante representaria um ganho de quase 61% em relação ao valor inicialmente investido.

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Por outro lado, se não fosse possível esperar tanto tempo para realizar o resgate e fosse preciso retirar o dinheiro após um ano, o valor final líquido recebido seria de R$ 222,27. Após dois anos, alcançaria R$ 244,05. Confira os detalhes abaixo:

Retorno de aplicação de R$ 200 em CDB que oferece 100% do CDI

Prazo Expectativa CDI (% aa)  Valor final bruto  Valor final líquido
1 ano 13,4979  R$    227,00  R$        222,27
2 anos 12,3119  R$    252,28  R$        244,05
3 anos 11,7918  R$    279,42  R$        266,37
4 anos 11,6763  R$    311,08  R$        292,02
5 anos 11,7115  R$    347,95  R$        321,44

Fonte: Michael Viriato, estrategista-chefe da Casa do Investidor, com base em dados da Anbima do dia 14/09/22.

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O montante final cresce se o valor aplicado inicialmente for maior. Se o investidor optasse por aplicar R$ 500, teria R$ 803,60 após cinco anos, conforme indicado na tabela abaixo:

Retorno de aplicação de R$ 500 em CDB que oferece 100% do CDI

Prazo Expectativa CDI (% aa)  Valor final bruto   Valor final líquido (descontado o IR)
1 ano 13,4979  R$    567,49  R$        555,68
2 anos 12,3119  R$    630,70  R$        610,13
3 anos 11,7918  R$    698,55  R$        665,92
4 anos 11,6763  R$    777,70  R$        730,05
5 anos 11,7115  R$    869,88  R$        803,60

Fonte: Michael Viriato, estrategista-chefe da Casa do Investidor, com base em dados da Anbima do dia 14/09/22.

Já com uma aplicação inicial de R$ 1 mil, seria possível resgatar R$ 1.607,20 após um período de cinco anos:

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Retorno de um CDB que oferece 100% do CDI ao longo do tempo após aplicação de R$ 1 mil

Prazo Expectativa CDI (% aa)  Valor final bruto   Valor final líquido (descontado o IR)
1 ano 13,4979  R$     1.134,98  R$     1.111,36
2 anos 12,3119  R$     1.261,40  R$     1.220,25
3 anos 11,7918  R$     1.397,11  R$     1.331,84
4 anos 11,6763  R$     1.555,41  R$     1.460,10
5 anos 11,7115  R$     1.739,76  R$     1.607,20

Fonte: Michael Viriato, estrategista-chefe da Casa do Investidor, com base em dados da Anbima do dia 14/09/22.

As taxas extraídas da curva de juros refletem uma mudança nas expectativas nos últimos dias. Até o começo da semana passada, boa parte do mercado acreditava que seria possível iniciar os cortes da Selic já no primeiro trimestre de 2023, após sucessivas revisões para baixo nas projeções de inflação deste ano e do próximo.

As apostas, no entanto, foram “empurradas para frente” após declarações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e de outros dirigentes na semana passada, que ajudaram a “jogar água no chope” dos agentes financeiros.

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O discurso mais duro foi feito por Bruno Serra, diretor de política monetária do Banco Central, que reforçou a preocupação com as expectativas de inflação para 2024 durante evento na semana passada.

Embora o otimismo com o início de um ciclo de cortes no primeiro trimestre de 2023 tenha sido reduzido nos últimos dias, parte dos agentes mantêm a visão de que o Banco Central começará a cortar os juros no ano que vem. É o caso do Itaú.

Segundo relatório divulgado nesta semana, a casa reforçou que espera um corte de juros no segundo semestre de 2023. Nas projeções da casa, a Selic poderia terminar 2023 em 11% ao ano. Como o cálculo da curva de juros leva em conta estimativas de outras casas, os dados podem apresentar resultados diferentes.

Casando o objetivo com o prazo

Para além do rendimento dos CDBs, o investidor precisa ter atenção ao prazo de investimento. O motivo: caso seja necessário realizar a venda antecipada do título, será preciso negociar com o emissor a recompra do papel e é bem provável que o investidor tenha que pagar um spread (taxa) que torne essa saída menos favorável.

Por essa razão, Viriato lembra que é importante “casar” o objetivo do investimento com o vencimento do CDB. O especialista observa que as pessoas têm uma tendência a aplicar mirando prazos maiores, ou olhando taxas mais elevadas, mas reforça que isso pode levar a erros.

“Se o investidor já tiver um planejamento de uso do dinheiro, deixar de olhar para os prazos tende a ter um custo maior”, pondera o profissional, ao dizer que o investidor pode ter que pedir uma saída antecipada e sofrer com alguma penalidade por parte do emissor.

Além disso, há sempre o risco do reinvestimento – ou seja, a chance de não conseguir obter uma remuneração equivalente à anterior ou em condições melhores que as atuais. “Se já investiu pensando no prazo, o risco do reinvestimento tende a ser menor”, acrescenta.

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Reserva de emergência

Outro fator importante que o investidor precisa prestar atenção ao alocar em CDBs está na construção de uma reserva de emergência – ou de liquidez, como Viriato prefere chamar.

Na prática, a reserva de emergência é formada por recursos que devem ser investidos em produtos fáceis de resgatar, caso ocorra algum imprevisto.

Para a planejadora financeira CFP Letícia Camargo, o valor deixado na reserva de emergência deve ser equivalente a algo entre seis a 12 meses de salário, a depender de alguns fatores: tipo de emprego, a regularidade da receita de emprego e o comprometimento financeiro de pagamento da pessoa.

Após analisar seu perfil, o investidor deve buscar as melhores opções disponíveis no mercado. Na visão de Letícia, estão entre elas os CDBs que oferecem 100% do CDI, com liquidez diária e emitidos por grandes bancos, além de títulos públicos como o Tesouro Selic e os fundos DI.

Ao falar sobre os CDBs de liquidez diária, a alocadora diz que a preferência é pelos de grandes bancos porque o risco de crédito é baixo, já que eles tendem a ter uma boa classificação de risco (rating).

“Não adianta ter uma reserva de emergência num CDB 100% do CDI, mesmo que tenha liquidez diária, de um banco frágil e que quebre. Isso porque o investidor terá que esperar o FGC atuar, caso o investimento seja de até R$ 250 mil”, lembra Letícia.

Os CDBs apresentam a cobertura do Fundo de Garantidor de Crédito (FGC) – espécie de “seguro” que devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão renovado a cada quatro anos.

Já no caso do fundo DI, Letícia recomenda que o investidor procure produtos com taxa de administração zerada. Afinal, a taxa de administração abocanha parte da rentabilidade.

O Tesouro Selic, por sua vez, pode ser interessante para investidores que desejam aplicar especialmente valores até R$ 10 mil. O motivo: se a alocação for abaixo desse montante, o investidor não precisará pagar taxa de custódia, no valor de 0,20% ao ano.

Outro ponto de atenção está no resgate. A planejadora lembra que, se o investidor quiser resgatar o valor e fizer o pedido até as 13h de dias úteis, ele conseguirá receber o valor aplicado no Tesouro Selic no mesmo dia (D+0, no jargão econômico). Após esse prazo, o dinheiro só será creditado na conta no próximo dia útil (D+1).

No geral, Letícia aconselha que o investidor deixe a reserva de emergência espalhada por vários tipos de investimentos, justamente porque há diferenças durante o resgate e para aproveitar melhor as oportunidades.