Rentabilidade máxima de CDBs alcança até 122% do CDI, mas taxas médias recuam na última quinzena

Para papéis com vencimento em três meses, por exemplo, o juro médio oferecido pelos títulos caiu de 102,01% para 100,95%, segundo a Quantum Finance

Bruna Furlani

Notas de real (Crédito: Shutterstock)

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A queda nos preços do petróleo e novos cortes na gasolina ajudaram a puxar para baixo as projeções de inflação e forçaram um recuo no mercado futuro de juros nos últimos dias.

Com isso, o mercado de juros local se descolou do cenário externo, que registrou avanço nas taxas após discursos mais agressivos de dirigentes de bancos centrais.

O reflexo pôde ser visto nos retornos de CDBs. Na média, a maioria das taxas oferecidas por papéis de dívida atrelados ao CDI recuou na quinzena entre 29 de agosto e 12 de setembro. Para títulos com vencimento em três meses, por exemplo, o juro médio oferecido pelos títulos caiu de 102,01% para 100,95%.

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Da mesma forma, a remuneração média contraiu de 102,73% para 102,33% no caso de CDBs com vencimento a partir de 36 meses. Os retornos são brutos, portanto, não foi descontado o Imposto de Renda (IR).

Os dados fazem parte de levantamento feito pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro, a pedido do InfoMoney. 

Apesar do recuo, a taxa máxima entregue por Certificados de Depósito Bancário (CDBs) avançou e chegou a 122% do CDI no período. No período anterior, entre 16 e 26 de agosto, o retorno máximo havia sido de 110% do CDI.

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O CDB com maior remuneração foi o emitido pelo Banco Master com prazo de seis meses. A título de comparação, a remuneração máxima oferecida por papéis de mesmo prazo era de 104% do CDI no período anterior.

Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 29/08 a 12/09)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 DI 97,50% 100,95% 104,25%                               41 BANCO BTG PACTUAL
6 DI 97,50% 102,38% 122,00%                               46 BANCO MASTER
12 DI 90,00% 100,07% 109,00%                               53 BANCO BMG
24 DI 97,00% 101,38% 118,00%                               40 BANCO MERCANTIL BRASIL
36+ DI 96,00% 102,33% 117,00%                               54 BANCO MERCANTIL BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

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CDBs atrelados à inflação

Por outro lado, papéis com retorno atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançaram, na média, na última quinzena.

Segundo estudo da Quantum, a taxa média real oferecida por CDBs atrelados ao IPCA com vencimento em 12 meses passou de 8,09% para 8,95% nos últimos 15 dias. Da mesma forma, títulos com prazo a partir de 36 meses viram o juro real entregue subir de 5,55% para 6,29% entre 29 de agosto e 12 de setembro.

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Houve avanço também nos retornos máximos. Na última quinzena, a rentabilidade real máxima oferecida por títulos com prazo de 12 meses chegou a 9,81%, contra 8,63% na anterior.

Ambos os CDBs eram oferecidos pelo BTG Pactual.

Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (de 29/08 a 12/09)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
12 100% IPCA 7,10% 8,95% 9,81%                   261 BANCO BTG PACTUAL
24 100% IPCA 6,15% 6,98% 7,31%                    28 BANCO BTG PACTUAL
36+ 100% IPCA 5,94% 6,29% 6,54%                      7 BANCO BTG PACTUAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

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Chama atenção que o avanço nas taxas para títulos com vencimento em 12 meses foi na contramão de ajustes para baixo nas expectativas de inflação para o ano que vem.

Segundo o último Relatório Focus, do Banco Central, o ponto médio das projeções recuou de 5,30%, há duas semanas, para 5,17% nesta semana.

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CDBs prefixados

Seguindo o recuo nas taxas futuras de juros nos últimos dias, as remunerações médias entregues por CDBs prefixados também sofreram uma contração, em sua maioria.

O maior recuo foi registrado entre papéis com vencimento em 12 meses, que viram o juro médio passar de 13,90% para 13,72% ao ano nos últimos 15 dias.

Títulos com prazo a partir de 24 meses também apresentaram queda nos retornos médios, com o percentual saindo de 12,90% para 12,82% ao ano.

Movimento semelhante foi visto com as taxas máximas oferecidas por CDBs prefixados, que contraíram em sua maioria nos últimos 15 dias.

A queda mais acentuada foi registrada por CDBs com vencimento em 12 meses que viram a taxa passar de 15,50% ao ano para 14,14% ao ano. Em ambos os levantamentos, os produtos eram emitidos pelo Banco Daycoval.

Retornos brutos de CDBs prefixados (de 29/08 a 12/09)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 13,50% 13,81% 14,07%                               65 BANCO DAYCOVAL
6 PREFIXADO 13,50% 13,82% 14,24%                               34 BANCO DAYCOVAL
12 PREFIXADO 13,33% 13,72% 14,14%                               32 BANCO DAYCOVAL
24 PREFIXADO 12,18% 12,82% 14,21%                               13 BANCO DAYCOVAL
36+ PREFIXADO 12,30% 12,99% 14,05%                               20 BANCO DAYCOVAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

Inflação americana acima do esperado no foco

Após recuo nas taxas vistos nos últimos dias, a semana deve ser marcada por ajustes na curva de juros, com a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos na manhã desta terça-feira (13).

De acordo com o Departamento do Trabalho americano, o CPI subiu 8,3% no acumulado em 12 meses e 0,1% em agosto. Os dados vieram acima do esperado pelo mercado, pois o consenso era de uma deflação de 0,1% na base mensal e alta de 8,1% na anual, segundo a Refinitiv.

O núcleo do CPI – que exclui alimentos e energia, cujos preços são mais voláteis – subiu 0,6% na comparação mensal e 6,3% na anual, também acima do esperado. A projeção Refinitiv para o núcleo era de alta de 0,3% na base mensal de de 6,1% na base anual.

Ao analisar os dados, Vitor Candido, economista-chefe da RPS Capital, chamou atenção para o avanço além do esperado para o núcleo do CPI e para a força dos preços ligados a serviços de transporte, que subiram 11,3% nos últimos 12 meses e 0,5% na variação mensal.

Segundo ele, os dados de hoje reforçaram a ideia de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve seguir com uma elevação de 0,75 ponto percentual na reunião da próxima semana.

Tal visão é ajudada também, diz Candido, pelos discursos proferidos recentemente por membros votantes do Fed que ressaltaram o compromisso da autoridade monetária em controlar a inflação e a necessidade de um aperto mais duro.

“A atividade está muito forte e a inflação não recua, mesmo com alguns componentes caindo. Não estão conseguindo trazer a inflação para baixo”, destaca o economista.

A necessidade de um aperto mais rígido para o controle da escalada de preços refletida no CPI fez com que alguns agentes financeiros passassem a prever uma alta maior de 1 ponto percentual para a reunião do Fed deste mês, segundo apontaram hoje os contratos futuros dos Fed Funds da CME Group.

Às 10h06 (horário de Brasília), 82% das apostas estavam concentradas em uma alta de 0,75 ponto pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) na reunião da semana que vem, contra 18% dos agentes que esperavam uma elevação – ainda mais dura – de 1 ponto. Um dia antes, as expectativas estavam concentradas em uma alta de 0,50 ponto ou de 0,75 ponto percentual.

Dados piores de inflação nos Estados Unidos acabaram afetando também a curva de juros local, com a subida forte das taxas nesta terça-feira (13). Por volta das 10h (horário de Brasília), as taxas do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para 2027 e 2029, por exemplo, avançavam 20 pontos-base, para 11,54% e 11,65%, respectivamente.

Para Candido, os próximos dias devem ser marcados por ajustes e por um mercado mais confuso e  “perdido” para entender como esse novo componente deve alterar as apostas anteriores feitas pelos agentes de mercado.

Cortes da Selic em 2023 seguem no radar

Outro fator que deve seguir pesando na curva de juros é a ideia de que será preciso postergar o início do corte da Selic para 2024 ou até mesmo 2025, segundo Candido.

Até o começo da semana passada, boa parte do mercado acreditava que seria possível iniciar os cortes da taxa básica de juros já no primeiro trimestre de 2023, após sucessivas revisões para baixo nas projeções de inflação deste ano e do próximo.

As apostas, no entanto, foram “empurradas para frente” após declarações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e de outros dirigentes na semana passada, que ajudaram a “jogar água no chopp dos agentes financeiros”.

O discurso mais duro foi feito por Bruno Serra, diretor de política monetária do Banco Central, que reforçou a preocupação com as expectativas de inflação para 2024 durante evento na semana passada.

Embora o otimismo com o início de um ciclo de cortes no primeiro trimestre de 2023 tenha sido reduzido nos últimos dias, Candido permanece com a visão de que o BC poderá começar a cortar a taxa básica no segundo semestre do ano que vem.

O Itaú também manteve a expectativa de queda da Selic no segundo semestre de 2023, para 11,00% ano. A casa, no entanto, ponderou que a intensidade e o início de um eventual ciclo de cortes estarão condicionados a sinalizações sobre o rumo das contas públicas.

Para o Itaú, potenciais mudanças no atual arcabouço do teto de gastos e a não estabilização da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) podem representar um risco para a materialização desse cenário.