Visão da gestora

Risco fiscal não é exclusivo do Brasil, que tem oportunidades para o longo prazo, diz BlackRock

Gestora acredita que investidores estão otimistas demais com possibilidade de o Fed, banco central americano, conseguir cortar os juros rapidamente

Por  Bruna Furlani

O cenário mais conturbado do ponto de vista fiscal tem tirado o sono de agentes financeiros aqui no Brasil, mas o problema não é visto como uma exclusividade brasileira, o que pode atrair o olhar de investidores estrangeiros. Essa é a visão de Axel Christensen, estrategista-chefe de investimento para a América Latina da BlackRock.

Segundo o especialista, economias de países emergentes, como o Chile e Colômbia, além de nações desenvolvidas como o Reino Unido, estão passando pelo mesmo problema brasileiro, com a piora do risco fiscal.

“O Brasil não está sozinho. Não é um risco que os investidores estão vendo apenas no País”, afirmou Christensen, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (30) para anunciar as visões de investimento da casa para o próximo ano. A BlackRock atualmente possui mais de US$ 8 trilhões sob o gestão.

Para o especialista, os investidores vão olhar a parte fiscal do País com atenção mais voltada para o curto prazo. Nesse sentido, ele acredita que é preciso cautela. Não à toa, a casa possui uma alocação tática (para prazos entre seis e 12 meses) neutra em ações de nações emergentes, caso do Brasil.

Em relatório, a BlackRock destacou que a desaceleração do crescimento global deve pesar sobre as ações de mercados emergentes. Por isso, a gestora afirmou que deve dar prioridade para ações de empresas exportadoras de commodities em detrimento de papéis de importadores de commodities.

Embora o curto prazo seja mais difícil, Christensen avalia que não é possível descartar as oportunidades de longo prazo que o Brasil pode ter com empresas voltadas para o processo de transição energética, especialmente em setores menos intensivos em uso de carbono como tecnologia e saúde.

Olho nos Estados Unidos e na Europa

XP Investimentos
Abra a sua conta e ganhe uma mochila XP Aston Martin
Confira os 4 passos para garantir a sua
EU QUERO

Enquanto no Brasil a alocação tática é neutra, as posições em ações de países desenvolvidos, como Estados Unidos, Reino Unido e outros europeus, devem ficar abaixo da média de mercado (underweight) para o mesmo prazo em 2023.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Christensen explica que a gestora acredita que as revisões nas receitas das empresas americanas feitas nos últimos meses ainda não refletem a chegada de uma recessão nos Estados Unidos no ano que vem, ou seja, os estragos ainda não foram precificados.

Da mesma forma, o executivo chama atenção para o fato de que os mercados parecem muito otimistas de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) conseguirá começar a cortar rápido os juros, algo que não é o cenário-base da casa no momento.

Para a gestora, o Fed está pronto para colocar as taxas em território restritivo. Atualmente, o juro nos Estados Unidos está na faixa entre 3,75% e 4% após a última elevação de 0,75 ponto percentual feita na reunião deste mês. Segundo a maior parte das projeções de analistas, a taxa terminal americana deve encerrar o ano que vem entre 5% e 5,25%, de acordo com dados da plataforma CME Group.

Embora haja uma dúvida no mercado sobre quando o Fed poderá iniciar o ciclo de cortes, a BlackRock evita fazer previsões e diz apenas que isso só será possível a partir do momento em que o cenário “clarear”, o que não deve ocorrer no curto prazo.

Já ao comentar sobre as posições em ações da Europa e do Reino Unido, a gestora americana pontuou que está com uma visão mais negativa para alocações com foco entre seis e 12 meses. Sobre a Europa, a gestora alertou que o choque nos preços de energia, juntamente com o aperto monetário, aumentam os riscos de que o continente passe por um processo de estagflação (quando uma nação vive uma alta acelerada dos preços em meio a uma queda da atividade econômica).

Enquanto isso, no caso do Reino Unido, a preocupação está nos preços (valuation) das ações, que estão caras depois da performance alta que tiveram na comparação com mercados emergentes, na avaliação dos especialistas da casa.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhe