Retornos de “debêntures americanas” disparam – por que isso pode ser mau sinal

Papéis estão pagando taxas cada vez mais altas, o que é bom para investidores, mas preocupante para as empresas

Bloomberg

Prédio do Tesouro dos EUA em Washington (Samuel Corum/Bloomberg)

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A escalada das taxas de juros e a queda da Bolsa nos EUA começa a cobrar o preço das empresas: o mercado de dívida privada americana mostra sinais precoces de enfraquecimento.

Os prêmios de risco (spreads) de dívidas corporativas com grau de investimento subiram para os maiores níveis desde junho.

No mercado de junk bonds (“títulos lixo”), em que os retornos atingiram o nível mais alto em um ano, algumas empresas enfrentam dificuldades para vender dívida. A Venture Global LNG, fornecedora de gás natural liquefeito, só conseguiu captar US$ 4 bilhões na quinta-feira (19) depois de pagar mais do que o inicialmente esperado aos investidores.

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Até no mercado de títulos lastreados em ativos, muitas vezes percebido como de risco relativamente baixo porque os papéis desse tipo costumam ter prazos relativamente curtos, a rede mexicana de fast-food Qdoba Restaurant teve que reduzir sua oferta de US$ 325 milhões para US$ 305 milhões.

A liquidação em massa dos títulos do Tesouro dos EUA (os Treasuries) repercutiu em todos os setores do crédito privado.

Embora os rendimentos tenham apontado para queda na sessão de sexta-feira (20), atingiram os níveis mais altos em 16 anos nesta semana, com a taxa do papel de 10 anos se aproximando de 5% na quinta-feira. A disparada veio logo após dados de vendas no varejo virem mais fortes do que o esperado, gerando preocupações de que ainda não seja o fim da batalha contra a alta da inflação.

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Nessa gangorra, os rendimentos de papéis com grau de investimento, que atingiram o nível mais elevado desde 2009, criaram oportunidades para investidores que conseguem tolerar a volatilidade.

“Para um investidor de longo prazo, o nível de entrada em renda fixo é muito atraente”, disse Benoit Anne, estrategista-chefe da MFS Investment Management. “Os spreads nos títulos com grau de investimento não justificam recomendação tão alta de compra, mas o cenário de retornos vistos agora são uma oportunidade única na vida.”

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Mas isso pode não ser uma boa notícia para os emissores, pelo menos enquanto a volatilidade das taxas persistir. Alguns dos títulos vendidos na última semana por empresas como Wells Fargo, Goldman Sachs e JPMorgan Chase estavam sendo negociados com spreads maiores, indicando que novas emissões terão que oferecer ainda mais compensação para atrair investidores.

Emissores no mercado de crédito alavancado também tiveram de melhorar condições para captar. Um grupo de bancos liderado pelo Morgan Stanley vendeu um papel de US$ 2,4 bilhões para a Qlik Technologies na quinta-feira, depois de mudar a estrutura e ajustar os documentos para torná-lo mais atrativo aos investidores.

Diante dessa volatilidade, as empresas ainda terão de se refinanciar num mercado com taxas mais elevadas. A quantidade de junk bonds com vencimento nos próximos 18 a 36 meses está no nível mais alto desde 2007, segundo estrategistas do Goldman Sachs.

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“Os títulos corporativos tiveram muito pouca concorrência do Tesouro ou dos títulos garantidos por hipotecas durante mais de uma década, mas essa dinâmica mudou drasticamente e rapidamente, com todos os três mercados oferecendo rendimentos competitivos”, avalia Scott Kimball, diretor administrativo da Loop Capital Asset Management.

© 2023 Bloomberg L.P.

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