Retornos de CDBs indexados ao CDI recuam em meio à alta da Selic; vale a pena investir?

Levantamento mostra que a taxa média paga por papéis com prazo em 12 meses caiu de 123,9% para 105,4% do CDI no intervalo de um ano

Mariana Zonta d'Ávila

(Getty Images)

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SÃO PAULO – O movimento de redução da taxa Selic, que derrubou os juros básicos para o piso histórico de 2,00% ao ano em agosto de 2020, levou os bancos brasileiros a se desdobrarem para oferecer taxas de retorno minimamente atrativas em seus produtos de investimento mais tradicionais, enquanto investidores buscavam (e ainda buscam) ganhos mais expressivos em outros ativos, especialmente na renda variável.

A situação aos poucos começa a mudar de figura, com a nova direção da política monetária. Com o início do ciclo de alta dos juros promovido pelo Banco Central desde março, que elevou a Selic para 3,50% até o momento, aplicações indexadas ao CDI (referencial de renda fixa que anda lado a lado com a Selic) passaram a render mais.

Ao mesmo tempo, contudo, os bancos têm se aproveitado da trajetória ascendente da Selic, que automaticamente aumenta o retorno na renda fixa mais conservadora, para oferecer prêmios em relação ao benchmark menos atrativos em um de seus principais produtos: o CDB.

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Levantamento feito pela plataforma Yubb a pedido do InfoMoney mostra que as taxas oferecidas pelos Certificados de Depósitos Bancários indexados ao CDI em 37 plataformas de investimento voltadas ao investidor de varejo têm recuado ao longo dos últimos meses, quando o mercado começou a se preparar para a alta dos juros diante da maior pressão inflacionária.

Nos CDBs com vencimento em um ano, o prêmio médio, que chegava a 123,9% do CDI em junho de 2020, está hoje na casa dos 105% do CDI.

O mesmo vale para os produtos com prazos em 36 meses, cuja taxa média caiu de 123,7% para 116,15% no intervalo de um ano. Há apenas dois meses, um CDB que vencesse em três anos pagava 120% do principal benchmark de renda fixa.

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Já no caso dos CDBs com prazos de dois anos, a taxa média, que chegou a atingir 129% em outubro, caiu para 120,5% em maio deste ano.

Vale lembrar que a taxa Selic começou 2020 no patamar de 4,50% ao ano e terminou no nível dos 2,00%. E de acordo com o mercado financeiro, os juros devem continuar a subir. Segundo o relatório Focus, do BC, mais recente, a expectativa é que a taxa básica de juros encerre 2021 em 5,75% ao ano e o próximo ano, em 6,50%.

Por isso, era de se esperar que os bancos reduzissem os retornos ofertados, compensados em parte pela elevação do CDI.

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“É um movimento natural em um cenário de subida de juros, em que os retornos ficam mais atrativos para o investidor. E, com o ativo sendo mais interessante, os bancos vão ter mais facilidade em captar nesse produto”, diz Patricia Palomo, sócia da gestora de patrimônio Sonata e conselheira da Planejar.

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Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os CDBs representavam em abril deste ano um estoque de R$ 1,5 trilhão, aumento de 21,2% em relação ao mesmo período de 2020.

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Para Patricia, a trajetória de queda da taxa em percentual do CDI em produtos bancários deve permanecer até que se tenha uma previsibilidade sobre o nível de acomodação dos juros.

“Esses produtos vão ser mais atrativos por conta da alta da Selic, então a demanda e o fluxo para ativos pós-fixados devem crescer. Com mais facilidade em captar, as instituições financeiras passam a oferecer um prêmio em percentual do CDI ajustado à nova demanda”, avalia a gestora.

Leticia Camargo, planejadora financeira certificada CFP, lembra que, no começo da pandemia, houve um movimento acentuado de investidores que migraram de fundos DI para CDBs, principalmente para os de liquidez diária, dadas as taxas mais atrativas oferecidas pelos bancos e o custo ainda elevado de alguns fundos DI.

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“Olhando pela taxa média, pode ser também que os emissores tenham melhorado o rating [nível de classificação de risco] dos papéis, por isso houve uma redução nas taxas, ou então os bancos estão com mais dinheiro e agora pagam taxas menores porque não precisam atrair investidores”, diz.

A avaliação é compartilhada pelo planejador financeiro com certificação CFP André Alvarenga Chede, que diz que o movimento pode ser reflexo ainda da necessidade de financiamento das instituições financeiras no início da pandemia, quando precisavam captar mais recursos para enfrentar a crise, e agora, que já estão com uma situação mais confortável, podem oferecer prêmios menores.

Vale a pena investir?

Ainda que as instituições financeiras paguem hoje nos CDBs taxas inferiores às encontradas um ano atrás, o patamar de juros vem mudando e a tendência é que os retornos das aplicações indexadas ao CDI aumentem.

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“Se pensarmos em termos nominais, 100% do CDI hoje está quase o dobro de 100% do CDI há alguns meses”, diz Patricia, referindo-se à alta da Selic de 2% para quase 4% desde março.

Segundo a sócia da Sonata, o momento pode oferecer uma oportunidade para o investidor carregar essa parcela de renda fixa em taxas mais elevadas. “Ainda que em termos reais [acima da inflação] não haja grande prêmio embutido, se a tendência de alta dos juros continuar, esses ativos passam a ficar mais atrativos.”

Jorge Luis Prado, sócio do escritório Sal Investimentos, também afirma que os produtos podem ser interessantes neste momento, em especial aos investidores conservadores, por acompanharem o ciclo de aumento da taxa básica de juros.

A avaliação é compartilhada ainda pela planejadora Leticia Camargo. “Não é todo mundo que vai poder ter uma carteira muito arrojada e os pós-fixados podem dar uma segurada no risco do portfólio.”

De acordo com Patricia, da Sonata, é importante que o investidor tenha um equilíbrio entre os indexadores dentro da fatia de renda fixa do portfólio, com papéis prefixados, pós-fixados atrelados ao CDI e, ainda, indexados à inflação.

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“É muito provável que, dado o achatamento na taxa de juros por estímulo monetário, a parcela pós-fixada esteja ‘subalocada’ nas carteiras. Então é natural que, com esse movimento de alta da Selic, os portfólios corrijam esse desequilíbrio e aumentem a exposição a ativos pós-fixados”, diz a especialista.

Chede também concorda que um mix entre indicadores é a melhor forma de mitigar o risco dentro da fatia de renda fixa. “Não sabemos como vai ser a Selic ou a inflação, então o melhor é buscar diversificar ao máximo”, afirma o planejador.

Como escolher?

Com uma ampla variedade de produtos nas prateleiras das instituições financeiras, o investidor deve se atentar a algumas características importantes, de forma a adequar o papel ao seu perfil de risco.

O primeiro ponto a ser analisado, segundo Patricia, da Sonata, é o prazo do ativo, isto é, se ele está de acordo com o objetivo do investidor.

Prado, da Sal Investimentos, destaca que, com exceção do CDB de liquidez diária, esses produtos bancários tendem a ter prazos mais longos e com penalidade ao investidor em caso de resgate antecipado, quando existe essa possibilidade.

De toda forma, se o prazo se enquadra no perfil e a carteira está equilibrada em termos de indexadores, o próximo passo é analisar o risco de crédito. Neste caso, diz Patricia, quanto menor o rating, pior é a avaliação do crédito e maior deve ser, portanto, a taxa de retorno oferecida. “Essa relação precisa ser mantida, independentemente do movimento da Selic”, reforça.

Caso o investidor aceite mais risco, ele pode optar por papéis de bancos pequenos e médios, que buscam oferecer prêmios acima de 100% do CDI.

Vale lembrar que as operações em CDBs contam com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), para o limite de até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira.

“Tudo vai depender da estratégia e do horizonte de investimento. Se o investidor não precisar de liquidez, por exemplo, pode conseguir melhores retornos em instituições financeiras médias e em prazos mais longos. Mas é sempre bom diversificar entre emissores e prazos, para mitigar risco”, defende Leticia.

Com relação à tributação, os CDBs estão sujeitos à cobrança de Imposto de Renda, com alíquota que varia conforme a tabela regressiva e começa em 22,5%, para investimentos inferiores a 180 dias, e vai à mínima de 15%, para aplicações acima de 720 dias. Em caso de resgates em 30 dias, há também a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

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