Qual o impacto da reforma tributária nos investimentos? especialistas respondem

O debate sobre temas como tributação de dividendos deve ficar para uma segunda fase da reforma

Wellington Carvalho

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A Câmara dos Deputados aprovou o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da reforma tributária. O tema tem sido bastante discutido por empresários e governadores, mas como ficam os investidores diante das mudanças previstas no texto?

Inicialmente, Mariana Marçal Fragoso, advogada da área tributária do escritório Abe Advogados, lembra que a PEC foca na tributação sobre o consumo e não menciona temas de interesse do investidor como a tributação de dividendos distribuídos por empresas e fundos imobiliários (FIIs) – atualmente isentos de Imposto de Renda.

“A reforma tributária em discussão no Congresso Nacional abrange a tributação sobre o consumo, ao propor a criação de um imposto que consolida os impostos atuais e deixando de fora a tributação sobre a renda”, explica.

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Embora ausente da proposta aprovada na Câmara, nesta quinta-feira (6), e que segue agora para o Senado, a tributação dos dividendos não é necessariamente uma questão superada, pondera Mariana.

“Uma possível segunda etapa da reforma tributária abarcará a alteração da tributação sobre a renda e, neste momento, o investidor sentirá os efeitos diretamente”, explica. “[Isso porque] a tributação de dividendos e eventuais ajustes nas alíquotas do Imposto de Renda, por exemplo, serão amplamente discutidos”, prevê a advogada.

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Tributação de dividendos

A discussão sobre a tributação de dividendos pagos pelas empresas listadas na Bolsa e pelos FIIs tem sido recorrente no Congresso.

A proposta mais recente nesse sentido avançou ao longo de 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro. Na oportunidade, o projeto de lei (PL) que alterava o Imposto de Renda sugeria uma taxação de 15% para lucros e dividendos.

A proposta chegou a ser aprovada na Câmara dos Deputados, mas alguns itens que tratavam de investimentos acabaram sendo eliminados – entre eles, a tributação dos dividendos.

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Na avaliação de Ana Cláudia Utumi, advogada tributarista e planejadora financeira, a possibilidade de retomada do debate não seria surpresa. Ela lembra que integrantes do governo têm feito sinalizações nesse sentido.

“Recentemente o ministro Fernando Haddad sinalizou que discutiria, no segundo semestre, a tributação do Imposto de Renda”, lembra “A paz dos investidores em relação à taxação dos dividendos é temporária”, diz.

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No início de abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adiantou que benefícios tributários deveriam ser revisados. A ideia seria cobrar impostos de setores que hoje são isentos, por falta de regras.

Na época, houve a discussão sobre a possível mudança na tributação de fundos exclusivos, voltados para cotistas “super ricos”. Eles seriam tributados no modelo “come-cotas”, como já ocorre em outros fundos de investimento, com cobrança de imposto de renda a cada seis meses.

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Independentemente da possibilidade, Ana Cláudia recomenda cautela para o investidor que, segundo ela, não deveria se antecipar a eventuais mudanças.

“Muita gente quando ouve que haverá mudança da legislação já corre para fazer alguma reorganização dos seus investimentos”, relata a planejadora financeira. “Eu não recomendo mexer em nada enquanto não existir um projeto concreto”, diz a especialista, reforçando que qualquer mudança na estrutura dos investimentos pode se mostrar inútil.

Ela lembra que, além da tributação dos dividendos, a futura discussão sobre mudanças na taxação da renda deverá passar também pelo lucro no exterior, dos fundos de investimentos, entre outros pontos.

Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.