Quer investir em CDB hoje? Retorno chega a 120% do CDI, mas oferta de papéis diminui; entenda

Rentabilidade média para papéis prefixados cai em todos os prazos, assim como a de CDBs atrelados à inflação

Bruna Furlani

Ilustração (Pollyana Ventura/Getty Images)

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Em meio a um movimento misto na curva de juros, com um alívio no início do mês seguido por uma leve alta nas últimas duas semanas, o retorno médio da maior parte das ofertas de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) se ajustou para baixo.

O recuo mais significativo foi registrado nos papéis com vencimento em 24 meses, em que taxa média passou de 102,22% do CDI, entre os dias 28 de março e 10 de abril, para 100,62%, no último levantamento feito entre 11 e 24 de abril.

Os dados fazem parte de levantamento da Quantum Finance feito a pedido do InfoMoney. Os retornos são brutos e não levam em conta o desconto do Imposto de Renda (IR).

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Na prática, a taxa média de um CDB representa o valor médio encontrado para um determinado vencimento levando em conta a quantidade de títulos oferecidos para aquele prazo.

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Em compensação, no mesmo período, o juro máximo entregue por títulos atrelados ao CDI avançou e chegou a 120% do CDI entre os dias 11 e 24 de abril. Tal percentual era oferecido por um papel com vencimento em 12 meses emitido pelo Banco Master.

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Durante o mesmo período, verificou-se também que o número de ofertas de produtos com retorno indexado ao CDI caiu para 234, de 261 no levantamento anterior.

Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 11 a 24/04)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 %CDI 97,50% 101,63% 106,00% 26 PARANÁ BANCO
6 %CDI 97,50% 100,99% 106,00% 43 BANCO BMG, BANCO DAYCOVAL
12 %CDI 90,00% 102,68% 120,00% 53 BANCO MASTER
24 %CDI 98,00% 100,62% 110,00% 65 GOLDMAN SACHS DO BRASIL
36 %CDI 100,00% 102,50% 110,00% 47 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

CDBs atrelados à inflação

O menor volume de ofertas de CDBs também atingiu títulos com retorno atrelado à inflação. Entre os dias 28 de março e 10 de abril, a quantidade de ofertas chegou a 40, valor bem maior do que as 18 registradas na última quinzena. Na ocasião, também não foi possível encontrar títulos com vencimento em 12 meses, apenas a partir de 24 e de 36 meses.

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Assim como no caso dos CDBs pós-fixados, as taxas médias entregues pelos produtos atrelados à inflação caíram. Papéis com prazo de 24 meses, por exemplo, viram os retornos médios passarem de 5,42% acrescido de IPCA para 5,35% ao ano mais IPCA na última semana.

Já a rentabilidade máxima oferecida por títulos com vencimento em 24 meses se manteve estável em 5,95% ao ano acrescida de IPCA em ambos os períodos. Na última quinzena, o CDB que oferecia tal retorno era emitido pelo Haitong Banco de Investimentos do Brasil.

Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (de 11a 24/04)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
24 IPCA 4,95% 5,35% 5,95% 10 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL
36 IPCA 4,85% 5,81% 6,25% 8 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

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CDBs prefixados

A queda nos retornos médios também se repetiu entre produtos com retorno prefixado. O maior corte foi registrado por papéis com vencimento em 24 meses em que o juro médio recuou de 12,40% para 11,27% ao ano.

Ao olhar para as taxas máximas, também é possível perceber que a maior parte dos valores apresentou queda. As únicas exceções ficaram por conta dos títulos com vencimento em seis e 12 meses.

Em ambos os casos, o retorno máximo teve uma alta ao avançar de 14,27% para 14,36% e de 13,89% para 13,97%, respectivamente.

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Já as ofertas de títulos prefixados conseguiram se manter bem próximas do número visto no levantamento anterior. Entre os dias 11 e 24 de abril, foram registradas 143 ofertas de produtos do tipo, levemente abaixo das 146 vistas 15 dias antes.

Retornos brutos de CDBs prefixados (de 11 a 24/04)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 12,33% 13,64% 14,05% 18 BANCO DAYCOVAL
6 PREFIXADO 13,00% 13,84% 14,36% 64 BANCO DAYCOVAL
12 PREFIXADO 12,40% 13,36% 13,97% 43 BANCO DAYCOVAL
24 PREFIXADO 5,85% 11,27% 12,74% 8 BANCO DAYCOVAL
36 PREFIXADO 12,11% 12,92% 13,31% 10 BANCO DAYCOVAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

IPCA, arcabouço e PIB dos EUA no foco

Depois de duas semanas marcadas por um movimento misto da curva de juros, investidores estarão atentos a dados de atividade, com os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referente ao mês de março divulgados na quinta-feira (27). Na sequência, na sexta-feira (28), saem os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).

Ao comentar sobre o Caged, o economista-chefe da Alphatree, Raone Costa, acredita que as contratações devem apresentar uma leve queda na comparação com o mês anterior por questões mais sazonais, mas que devem seguir em terreno positivo.

Antes disso, na quarta-feira (26), há a apresentação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de abril, considerado a prévia da inflação. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador subiu 0,57% em abril – mantendo a tendência de desaceleração após ter alcançado 0,76% em fevereiro e 0,69% em março.

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O dado também ficou abaixo da estimativa dos analistas do mercado financeiro, uma vez que o consenso Refinitiv apontava para inflação de 0,61%.

Nos últimos 12 meses, a variação do IPCA-15 foi de 4,16%, abaixo dos 5,36% observados nos 12 meses até março. Nessa leitura, o consenso dos analistas estava em 4,20%.

Na avaliação da economista da Tenax Capital, Amabile Ferrazoli, a surpresa no número cheio ficou por conta da alimentação no domicílio. A especialista lembra que abril costuma ser o mês com a maior média sazonal de altas de preços no setor, que registrou variação negativa de 0,15%.

Para ela, a janela é bastante positiva para os bens alimentícios com a expectativa de safras recorde no Brasil neste ano. Além disso, a profissional afirma que os preços têm sido ajudados pela apreciação cambial vista até agora, com o índice global de itens alimentícios (CRB Food) caindo cerca de 7% em moeda local.

“Mantida a tendência, haverá espaço para descompressão de um grupo importante de bens na composição do IPCA, lembrando que alimentação no domicílio tem um peso de 16% no índice”, pondera a economista da Tenax.

Já ao olhar para os dados mais qualitativos, o economista-chefe da BGC Liquidez, Juliano Ferreira, diz que a média dos núcleos – medida que busca captar a tendência dos preços, desconsiderando distúrbios de choques temporários – ficou em 0,45%, em linha com a mediana do mercado, que previa 0,44%.

Por outro lado, a parte de serviços subjacentes, que é acompanhada de perto pelo Banco Central, veio levemente acima (0,51%, contra 0,47% da mediana de mercado). “Esperava uma rodada adicional de melhora nesses indicadores, seguindo a tendência das últimas três leituras. Isso não significa que a melhora estancou, mas que precisaremos aguardar um pouco mais”, avaliou.

Para o fim do ano, a BGC Liquidez espera que o IPCA encerre o período em 6,40%, com tendência de queda. Segundo Ferreira, a inflação tem se comportado melhor do que o esperado nas últimas leituras, tanto no número cheio quanto do ponto de vista qualitativo com leituras melhores para preços de alimentos e bens industriais na comparação com o ano de 2022.

“Os níveis ainda não são confortáveis, mas é preciso considerar que existe uma tendência de normalização inflacionária no Brasil no curto prazo que pode se materializar em um maior conforto do ponto de vista de política monetária”, avalia o economista.

O especialista lembra que, se as perspectivas para a inflação no curto prazo melhorarem, isso pode incentivar revisões nas expectativas dos agentes para o ano que vem. Para ele, o mercado ainda não incorpora isso nas projeções porque há dois temas que precisam ser resolvidos: a meta de inflação e a falta de nomes para as diretorias em aberto no Banco Central.

Para ele, ambos os assuntos são importantes porque podem “sinalizar o grau de leniência que a autoridade monetária poderia ter com a inflação após o término do mandato do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto”.

Outro tema que deve ser monitorado de perto nesta semana é a tramitação do arcabouço fiscal no Congresso. Ainda que os prazos possam ficar um pouco maiores diante da abertura de inquérito para apurar os crimes do dia 8 de janeiro, Ferreira acredita que não haverá muitos percalços para a aprovação do texto.

Ele lembra que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem feito uma série de declarações alegando que não deseja que o debate promova atrasos na tramitação do projeto.

Nesta terça-feira (25), o parlamentar afirmou que o arcabouço terá uma discussão “justa e correta” e que passará por mudanças, mas sem “retrocessos”.

Na avaliação do profissional, é mais provável que questões políticas como a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) instaurada para apurar os crimes do dia 8 de janeiro atrapalhem mais as matérias que o Governo precisará defender para dar sustentabilidade ao arcabouço do que o próprio arcabouço. O especialista também reconhece que isso pode prejudicar bastante a evolução da Reforma Tributária no Congresso.

Outro dado que será acompanhado de perto pelo mercado é a divulgação da primeira prévia do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre dos Estados Unidos, previsto para quinta-feira.

Costa, da Alphatree, observa que o País vive um processo de desaceleração, mas em ritmo mais devagar com mercado de trabalho ainda forte. Nesse caso, o economista explica que um dado mais fraco de atividade deve derrubar a curva americana e ter reflexo nas curvas de juros de outros países como, por exemplo, o Brasil.

Por outro lado, ele acredita que, se o número vier mais forte do que o esperado por analistas, isso deve dar sustentação para uma alta – só que momentânea.

O economista avalia que o ciclo de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, banco central americano) parece mais perto do fim, o que ajudaria a afastar grandes movimentos de alta na curva.