Queda das ações leva gestoras brasileiras a aumentar posição em big techs como Google e Microsoft

Segundo especialistas, expectativa de ajuste maior dos juros americanos forçou os preços para baixo e, agora, assimetria parece "muito boa"

Bruna Furlani

(Getty Images)

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O forte pessimismo, que tomou conta dos mercados americanos e fez os preços de ações de tecnologia e de varejo derreterem nas Bolsas, abriu uma grande oportunidade de compra para alguns papéis – que agora estão com os preços ainda mais descontados.

Remando contra boa parte do mercado, que ainda aposta no recuo de papéis do setor de tecnologia dos Estados Unidos, gestoras como Kínitro Capital, Absolute Investimentos e Genoa Capital aproveitaram a janela para aumentar a posição em ações das grandes techs.

Alguns dos nomes escolhidos são Amazon (AMZO34), Google (GOGL34), Microsoft (MSFT34) e Meta (antigo Facebook (FBOK34).

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Em carta divulgada a clientes neste mês, a Genoa Capital informou que voltou a elevar a exposição líquida em renda variável do fundo multimercado Genoa Capital Arpa, com o aumento da alocação em algumas empresas de tecnologia nos Estados Unidos.

Em sua justificativa, a gestora disse que tais papéis estão em patamares “bastante atrativos de valuation (preço)”. A casa, no entanto, não deu mais detalhes sobre as posições que ficaram maiores agora.

Christian Faricelli, sócio da Absolute Investimentos e gestor de ações do Absolute Pace, também está entre os que aumentaram a alocação em papéis de tecnologia, como Google, Facebook, Microsoft e Amazon. “São ações que sofreram muito. Caiu tudo e agora chegou a hora de separar o joio do trigo”, afirma o executivo.

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O gestor não nega que o cenário macroeconômico de ajuste mais agressivo dos juros e derrubada das condições monetárias pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano, forçaram os preços para baixo e devem seguir penalizando ativos de risco, mas defende que a assimetria entre o risco e o retorno parece “muito boa”.

“Achamos que está mais para o barato do que para o caro, mas estamos aumentando devagar”, diz.

“Se elas crescerem só um pouco, já estaria ótimo”, reforça Faricelli, ao dizer que o cenário de possível recessão nos Estados Unidos pode fazer com que empresas de vários setores sejam penalizadas e, portanto, cresçam menos.

Como forma de se proteger, ao mesmo tempo que aumenta a posição em techs americanas, também adota alocações vendidas (apostando na desvalorização de papéis) em setores dos Estados Unidos mais defensivos e resilientes.

Quem também aproveitou as fortes correções para aumentar posições em Microsoft e Google e diminuir em consumo discricionário no Brasil foi a Kínitro Capital.

Quem explica é Lucas Ribeiro, head de análise microeconômica da gestora. O especialista conta que a casa estava com cerca de 15% de exposição a consumo doméstico no começo do ano.

Ao ver a queda das Bolsas americanas, Ribeiro afirma que começou a comparar o valuation das gigantes de tecnologia americanas com as companhias brasileiras. Concluiu que estavam com múltiplos muito próximos. “A diferença é que as big techs estavam no meio de uma revolução tecnológica, ao contrário das brasileiras”, justifica o especialista.

Embora o Google possa ser afetado por um recuo nas verbas de propaganda digital em um cenário de desaceleração econômica, o profissional acredita que a empresa pode ser capaz de aumentar a participação de mercado, além de se destacar mais na parte de inteligência artificial e computação em nuvem (cloud computing) – que permite acesso remoto a softwares, além de armazenamento de arquivos e processamento de dados de qualquer computador ou lugar.

Nos cálculos da casa, hoje a empresa negocia abaixo de 20 vezes na métrica preço sobre lucro (P/L) – que indica quanto os investidores se encontram dispostos a pagar pelo lucro de uma empresa.

Mesmo otimista com a Google, a companhia com o melhor e mais sólido fundamento hoje é a Microsoft, na opinião do especialista da Kínitro. Para ele, a grande vantagem da empresa é que ela se parece com um negócio de “utilidade pública” porque possui receita recorrente.

“É um segmento que vem crescendo 30% a 40% ao ano e que tem como vetor de crescimento a revolução tecnológica que vai ocorrer no mundo”, afirma. Pelos cálculos da gestora, a empresa negocia perto de 25 vezes na métrica preço sobre lucro.

A RPS Capital também está animada com a Microsoft. Javier Tello, sócio e analista global da RPS Capital, explica que a companhia possui uma concorrência menor do que as outras, como Amazon, Google e Facebook.

Segundo o sócio da RPS, a competição dentro da área de propaganda está muito forte, com a presença de companhias como SnapChat e TikTok, o que pode afetar a receita de empresas mais dependentes do setor.

Problemas regulatórios com uso dos dados também podem ter impacto em outras empresas, o que deixa a Microsoft em uma posição bem mais confortável, avalia Tello.

Alocação afeta performance de fundo

Outra casa que vê um valuation bastante favorável para manter algumas posições em tecnologia é a Adam Capital, do renomado gestor Márcio Appel. Mas a vida da gestora não tem sido fácil para defender tais alocações.

Abril foi o pior mês desde a abertura do fundo Adam Macro, em 2016. No mês passado, a carteira recuou 7,30%, contra 0,83% do CDI. Da mesma forma, o fundo Macro Strategy registrou perdas de 7,0% durante o mesmo período.

Em áudio divulgado neste mês para falar sobre o desempenho dos fundos em abril, um analista da casa destacou que cerca de um terço da rentabilidade total negativa dos fundos veio da posição comprada em ações de tech nos Estados Unidos.

Apesar de o resultado ruim, a gestora defendeu que preferiu manter as posições compradas em Facebook, Amazon e Google, e que o racional por trás está no resultado e no valuation das companhias.

Na análise do especialista da Adam, empresas com múltiplos mais elevados, que negociam a 50 a 60 vezes preço sobre lucro, devem sofrer mais com correções, ao contrário de Facebook e Google, por exemplo.

Segundo ele, a razão é que as duas big techs estão com múltiplos muito abaixo ou em linha com as empresas do índice americano S&P 500.

Receios no radar

Diante de um cenário macroeconômico mais desafiador, com inflação e juros mais altos, há quem prefira ter cautela. Bruno Leite, sócio e gestor da Parcitas Investimentos, afirma que está aguardando “preços melhores” para aumentar a alocação em big techs americanas.

Por já ter uma posição expressiva no fundo focado no longo prazo em ações de empresas como Amazon, Google e Microsoft, além de Salesforce (SSFO34) e Constellation Software Inc., ele conta que está esperando “dias de maior pânico” para voltar às compras.

Apesar da cautela, ele admite que o mercado parece estar “exagerando para baixo”. O executivo conta que detém uma posição pequena em Netflix, por exemplo, e que até o fim do ano passado, a ação havia avançado bastante.

Agora, diz, a narrativa é que “streaming não dá mais dinheiro”. “Houve uma virada. A competição realmente aumentou, isso é compreensível. Mas temos visto outras techs sendo penalizadas com isso”, afirma Leite.

Cautela também é a bola da vez dentro da RPS Capital. Embora acredite que algumas ações de tecnologia estão com preços atrativos, nem tudo está valendo a pena.

Tello, sócio da casa, defende a visão que companhias mais focadas no consumidor, como Amazon, Facebook, Google e Apple podem ser mais afetadas por uma possível desaceleração econômica nos Estados Unidos.

Por isso, o executivo conta que a gestora estava com posições vendidas em Amazon, Facebook e Apple (AAPL34).

No caso da Apple, por exemplo, o sócio da RPS pontua que uma grande parte da empresa ainda está ligada à venda de iPhones e ao consumo discricionário. Ou seja, a companhia poderia ser bastante impactada em um cenário de recessão americana.

Possíveis impactos no lucro de empresas como Google e Facebook também chamam a atenção de Tello. Ele observa que o mercado parece ter sido bastante agressivo nas métricas de quanto as empresas poderiam receber com propaganda.

A grande dúvida, conta o analista, é se o lucro do Google, por exemplo, vai cair 5% ou 7%, ou algo entre 15% e 20%. A pergunta surge porque entre 2020 e 2022, o lucro apresentado pela empresa avançou mais de 100% comparado ao nível pré-Covid, afirma Tello.

Segundo ele, a questão é que os analistas estão colocando lucros muito altos na hora de calcular a relação entre o preço e lucro e que isso pode afetar a métrica.

“Todas essas companhias já tiveram uma correção de múltiplos interessante. Chegaram a operar acima de 25 vezes e agora estão operando em 16 vezes. Mesmo assim, o lucro esperado é muito alto”, alerta o especialista da RPS Capital, ao dizer que o diferencial da Microsoft é que as revisões de métricas não devem ser tão grandes porque o lucro não deve ser tão impactado.

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