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Os programas de recompras de ações por empresas na B3 estão nos maiores níveis da história da bolsa, o que pode ser um sinal de que ainda há oportunidades no mercado de ações brasileiro apesar da forte alta deste ano. O dado é usado pelos analistas como indicador de que a avaliação de uma empresa pelo mercado está abaixo de seu valor justo, a ponto de seus donos preferirem investir no papel a aplicar na atividade da companhia.
“A recompra é um sinal indireto de que bolsa está com ‘valuation’ atrativo”, afirma Daniel Gewehr, chefe de estratégia de ações para o Brasil e América Latina do Itaú BBA. “Quando secar esse volume de recompras é que o preço estará mais equalizado”, diz.
Segundo ele, hoje há 128 programas de recompra em aberto, o que representa mais de um terço das 360 grandes empresas listadas na bolsa. Desses programas, 126 foram anunciados em 2024, o maior número de anúncios em um ano desde 2005. E, neste ano, mais 67 programas tiveram início, alguns renovando os anunciados no ano anterior.
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Crescimento antes das altas
A história mostra que esse pode ser um sinal de alta para a bolsa, explica Gewehr. “Olhando a série histórica, quando explode a recompra de ações, a bolsa fica positiva no ano seguinte”, diz.
Foi assim em 2008, quando em meio a um ano ruim e à forte queda das ações, a recompra disparou para 80 anúncios no ano. No ano seguinte, o Ibovespa subiu 82,66%.
Em 2015, em meio à nova queda da bolsa, foram 92 aberturas de programas de recompra e o índice subiu 38,93% em 2016.
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Em 2021 houve 118 anúncios e o Ibovespa subiu mais 22%. E após os 126 anúncios de 2024, o Ibovespa sobe neste ano quase 50%. Gewehr observa que hoje, mesmo depois dessa alta, as recompras continuam elevadas.
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Empresas com muito caixa
O volume de recompras tem aumentado ano após ano e mostra que as empresas estão gerando bastante caixa, explica João Daronco, analista da Suno Research. As recompras eram lideradas normalmente pelas empresas de commodities, mas, com a queda dos preços das matérias primas, setores mais perenes têm se destacado, usando a recompra como forma de realocar capital. “Hoje as empresas de utilities (serviços públicos) têm os maiores programas de recompra em aberto”, explica.
Além da forte geração de caixa das empresas, especialmente em setores como energia e saneamento, as ações estavam bem descontadas no início do ano, o que estimulou o aumento das recompras, afirma Daronco, acrescentando que “agora a precificação andou bem”.
Ele lembra que a recompra, ao lado da distribuição de dividendos, é uma forma de a empresa entregar parte dos lucros ao acionista. “A empresa recompra, cancela as ações, reduz o total de papéis e isso aumenta a fatia dos acionistas na companhia e os lucros por ação”, diz.
Redução de ritmo
Daronco nota que há empresas que estruturalmente recompram, caso da B3, que não tem muito o que fazer com a sobra de capital além de distribuir ou recomprar. A tendência daqui para frente é que as recompras diminuam após a alta dos preços, mas continuem elevadas, diz o analista, pois ele não vê a geração de caixa das empresas diminuindo nos próximos trimestres.
“Pode ter redução no ritmo porque ação já valorizou, mas na média é um movimento que é para cima no longo prazo”. Ele alerta que é preciso acompanhar as condições em que a recompra é feita. “Se a empresa recompra, mas ao mesmo tempo aumenta o endividamento, ou se compra as ações a preços muito altos, isso vai prejudicar o lucro futuro”, diz.
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Para ele, a recompra é um bom sinal, mas não dá para tomar como verdade absoluta. “As vezes a companhia está recomprando, mas talvez fosse melhor distribuir via Juros sobre Capital Próprio, dividendo, ou pagando dívidas.
Programas continuaram em novembro
Estudo do Itaú BBA mostra que, em novembro, 100 empresas tinham R$ 98,5 bilhões em recompras em aberto. E mais seis novos programas foram anunciados entre 16 de outubro e 19 de novembro, depois da alta forte do índice, reunindo um valor total de R$ 5,4 bilhões em compras potenciais de Ambev (ABEV3), Panvel (PNVL3), Pague Menos (PGMN3), Embraer (EMBJ3), Grendene (GRND3), SLC Agrícola (SLCE3), Equatorial (EQTL3)e Boa Safra Sementes (SOJA3).
No total, o Itaú BBA estima que as recompras hoje no mercado representam 1,23% do valor das ações do Índice Bovespa, beneficiando os investidores ao reduzir as ações em circulação e ao aumentar seus preços e o lucro por ação.
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No ano, as empresas já recompraram R$ 19,5 bilhões em ações, ante R$ 30 bilhões no ano passado, e há mais R$ 79 bilhões a serem recomprados.
Os setores com maiores recompras anunciadas em relação ao seu valor de mercado são de utilities, ou serviços públicos, com 6,2% de seu “market cap”. Consumo de bens não duráveis, como supermercados e bebidas, vem a seguir, com 4,9%; e energia, com com 2,9% do valor total das empresas.
Já olhando o total a ser recomprado, 27% são de ações ligados a utilities, 20% do setor financeiro e 18% de consumo de bens não duráveis.