De olho na empresa

Problema na incorporadora Country Garden abala ações chinesas, mas principal ETF do país na B3 segura desempenho

Incorporadora representa apenas uma pequena participação dentro do XINA11, fundo que acompanha o MSCI China

Por  Bruna Furlani

O pregão desta segunda-feira (14) foi marcado por um tsunami de notícias negativas envolvendo a incorporadora imobiliária chinesa Country Garden, que viu as ações fecharem a sessão com queda de 18,4%.

Segundo a agência Dow Jones, a companhia anunciou no domingo (13) que suspendeu a negociação de dez títulos corporativos da empresa. A informação foi divulgada após a empresa deixar de pagar os juros de dois de seus títulos em dólar na semana passada.

Além da suspensão, as ações da empresa foram duramente penalizadas, diante da expectativa de que a companhia possa registrar o pior prejuízo desde que abriu capital há 16 anos, conforme a Dow Jones. 

Na última quinta-feira (10), a empresa disse projetar que o prejuízo líquido alcançará 55 bilhões de yuans no primeiro semestre, o equivalente a US$ 7,60 bilhões.

Apesar do baque registrado pela Country Garden, o o XINA11, principal ETF (fundo de índice) do mercado chinês negociado na B3, conseguiu encerrar a sessão desta segunda-feira (14) em leve alta, de 0,54%, a R$ 5,62.

O fundo acompanha o índice MSCI China, que é composto por empresas chinesas de grande e médio portes listadas em todos os mercados incluindo, China A-shares, B shares, H-shares, Red Chips, P chips e listagens estrangeiras, como, por exemplo, ADRs na Bolsa de Nova York (NYSE).

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Já o ETF que acompanha o MSCI China (MCHI), negociado na Nasdaq, fechou a segunda cotado a US$ 45,51, com queda de 0,72%.

As ações da incorporadora representam um percentual bem pequeno do ETF, correspondendo a cerca de 0,18% da carteira – isso levando em conta uma participação na Country Garden Services Holding e na Country Garden Holding.

O setor de maior peso do ETF é o de consumo discricionário, com mais de 31% de participação, seguido por comunicação (20%)  e financeiro (15%).

A Tencent Holdings responde pelo topo da lista de participações, com um percentual de 13%, seguido pelo Alibaba Group Holdings, com cerca de 10%, e Meituan, com 4%, além de outras empresas.

O XINA11 não passa por um período muito positivo. No acumulado do ano, o ETF apresenta perdas de 10,27%.

Na avaliação de Jennie Li, estrategista de ações da XP, a notícia negativa sobre a Country Garden representa mais um caso de incorporadora chinesa com problemas e enfatiza a situação delicada que vive o setor imobiliário nos últimos dois anos no país.

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Li chama atenção que a China passa por um momento delicado e que havia uma expectativa de que o gigante asiático conseguiria retomar rapidamente a economia – com a flexibilização de medidas impostas na pandemia, o que não ocorreu até agora.

“A retomada vem perdendo fôlego. Temos visto dados econômicos muito mais fracos do que o esperado”, pondera a especialista da XP.

Uma das preocupações, cita a profissional, é que grande parte do crescimento da China sempre esteve relacionado a investimentos em infraestrutura e no setor imobiliário, o que não será mais a prioridade, a partir de agora.

“O governo deixou claro que, no longo prazo, esse não será mais o motor de crescimento. O problema é que, no curto prazo, esse continua sendo um motor importante”, alerta a estrategista.

Diante de um crescimento menor da China, a especialista observa que o principal impacto a ser sentido no Brasil será pela via das commodities.

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Nos últimos meses, Li destaca que a Vale (VALE3), por exemplo, tem apresentado forte volatilidade nas ações, diante da grande oscilação nos preços do minério de ferro, que costumam subir ou descer ao sabor de novos anúncios da China.

Além do Brasil, a preocupação é grande com o efeito que isso pode gerar na economia mundial. A estrategista observa que tudo vai depender da magnitude de desaceleração que pode ocorrer tanto na China quanto nos Estados Unidos ao longo dos próximos meses.

“Se virmos um crescimento muito desapontador na China, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos entrarem numa desaceleração ou talvez numa recessão, isso poderia ser ruim para o Brasil e para a economia mundial”, pondera Li.

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