Quase 90% dos planos de previdência batem o CDI em 2019, mas, no longo prazo, a história é outra

Captação líquida dos fundos de previdência privada cresceu 67% e superou R$ 15 bilhões no primeiro semestre de 2019

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – Não é de hoje que o investidor brasileiro anda mais preocupado com a poupança destinada para sua aposentadoria, mas é certo que as discussões em torno da reforma da Previdência têm estimulado o interesse e jogado luz sobre os planos privados.

Dessa forma, é natural que as atenções do investidor se voltem cada vez mais para os retornos pagos pelo segmento. De acordo com informações da Economatica, em meio a um universo amplo de fundos de previdência, que inclui fundos de cotas, os retornos mais favoráveis de curto prazo contrastam com as rentabilidades vistas no longo prazo.

Ao longo dos últimos 12 meses, o retorno mediano de 1.477 fundos foi de 158,10%, com 1.251 igualando ou superando a variação do CDI. Conforme o tempo aumenta, contudo, as rentabilidades diminuem. No acumulado de dez anos, apenas 16% dos planos de previdência renderam mais que o CDI.

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Período Fundos com desempenho acima do CDI Retorno mediano a.a. (% do CDI)
1º semestre 2019 87% 158,64%
12 meses 85% 158,10%
2 anos  76% 126,51%
3 anos  71% 112,63%
4 anos 59% 104,43%
5 anos 49% 99,40%
10 anos  16% 80,89%

Fonte: Economatica

Os planos de previdência de maior risco, como os multimercado e os de ações, que tiveram um bom retorno em prazos mais curtos, decepcionaram em períodos mais longos.

Os fundos de previdência de ações entregaram de longe os maiores retornos do mercado nos últimos cinco anos. Mas, quando o quadro mira o mais longo prazo, de dez anos (a partir do qual resgates de planos com modalidade tributária regressiva começam a ter a menor alíquota de Imposto de Renda, de 10%), a história muda. Nesse horizonte, os fundos de ações performam abaixo tanto do Ibovespa quando do CDI.

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Para se ter uma ideia, nos últimos três anos, período que engloba o atual “bull market” vivido pela Bolsa brasileira, seis dos dez melhores fundos de previdência são de multimercados e de ações. Em um intervalo mais amplo, de dez anos, os multimercados garantem quatro das dez primeiras posições, ainda que respondam por uma participação pequena em termos de patrimônio.

Esses dados foram compilados pela XP e consideram fundos de previdência com patrimônio líquido acima de R$ 50 milhões no fim de junho e taxas de administração acima de 0,15% ao ano. Confira a seguir quais fundos de previdência acumulam os melhores retornos em dez anos:

Os melhores fundos de previdência em 10 anos
Nome Classificação Anbima Gestor Retorno em 10 anos (em %) Prêmio em relação ao CDI (em %)
Aspecir Prgp FI RF Prev Renda Fixa JMalucelli Investimentos 268,93 169,85
Icatu Seg Fc de FI RF Inflacao Longa Renda Fixa Icatu Vanguarda 256,09 161,74
BB Prev Concedidos Tr FI RF Cred Priv Renda Fixa BB Dtvm 245,00 154,74
Gauss Mapfre Juro Real Fc FI Mult Prev Multimercado Gauss Capital 223,62 141,24
Icatu Seg Duration FI RF Renda Fixa Icatu Vanguarda 214,52 135,49
BB Prev Publico IGP M FI RF Renda Fixa Brasilprev 211,91 133,84
BB Prev Concedidos IGP M FI RF Cred Priv Renda Fixa BB Dtvm 206,92 130,68
BB Prev Multi II FI Multim Cred Priv Multimercado BB Dtvm 206,06 130,14
Itau Flexp Tricolor Mult Cred Priv FICFI Multimercado Itau Dtvm 200,67 126,74
Iu Corporate Multi FICFI Mult Cred Priv Multimercado Pragma 199,62 126,07

*Dados até 28/06/2019
Fonte: XP, com base em dados da Economatica

Gestoras de bancos x Independentes

Segundo a XP, os grandes bancos (BB, Itaú, Bradesco e Caixa) continuam responsáveis pelos fundos com maior patrimônio da indústria (sendo a maior parte de renda fixa) e também com o maior fluxo de captação. Mas as gestoras independentes começam a aparecer.

No primeiro semestre do ano, a versão previdenciária do fundo Verde ofertado pelo Itaú surge na 24ª posição no ranking de captação, com R$ 1,8 bilhão, embora ainda bem distante dos R$ 23,7 bilhões captados pelo fundo da na primeira posição, da Brasilprev. Gestoras como Sparta, XP, SPX e Icatu também têm marcado maior presença na amostra.

Andre Benchimol, sócio da gestora de patrimônio G5 Partners, menciona o maior interesse dos clientes por produtos de gestoras independentes. “A queda de juros exigiu isso dos investidores, que talvez estivessem muito acomodados”, diz.

Ainda que o histórico da indústria seja importante para fazer a fotografia dos fundos de previdência, Benchimol chama atenção para a descontinuidade (não exclusiva desse segmento) da análise, já que o universo de alternativas era muito menor no passado e houve muitas mudanças de ciclos do Brasil, com grande diferença de taxas de juros, além de alterações nas próprias regras da previdência, com maior flexibilidade para alocação.

Embora faça sentido olhar para o longo prazo especialmente na previdência, o perfil do mercado mudou muito. “Quando você olhava para a previdência lá atrás, tinha apenas renda fixa ou variável. Era um negócio mais ou menos bipolar. Agora você pode olhar algumas coisas cinzas no meio do caminho”, observa.

O risco pode não ter compensado a alocação no passado de juros de dois dígitos, mas o horizonte mais recente tem sido bem diferente.

Para Tiago Alvim, sócio do escritório de investimentos Voga Invest, a oferta de produtos é ainda muito limitada, já que diversas gestoras ainda não ingressaram no mercado. Em evento em junho, a XP indicou que 80% das casas ainda não têm oferta de fundos previdenciários.

Na prática, a Voga indica previdência para os clientes em duas ocasiões: sucessão patrimonial, dado que os planos não entram em inventário, ou planejamento tributário, já que as aplicações em fundos do tipo PGBL permitem o abatimento de até 12% da renda bruta tributável.

“Como forma de rentabilidade, enxergamos outros investimentos melhores. Vemos a previdência como uma forma de diversificação, não como forma absoluta de buscar retorno”, afirma.

Dentro das alternativas de renda fixa, a procura recai sobre fundos que possam entregar de 100% a 115% do CDI. Com o atual patamar dos juros básicos, o crédito privado tem sido mais buscado para melhorar as rentabilidades.

Maior interesse = maior captação

Uma prova da maior demanda está nos números de investimento nos planos de previdência privada, com captação líquida (aportes menos resgates) de R$ 15,3 bilhões no primeiro semestre, um aumento de 67% em relação ao mesmo período de 2018.

Conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a preferência dos investidores tem recaído sobre os fundos de previdência de renda fixa, com captação líquida de R$ 7,2 bilhões, seguidos pelos multimercados, com R$ 5,7 bilhões, e ações, com R$ 2,1 bilhões.

O patrimônio líquido do mercado de previdência fechada gira hoje em torno de R$ 864 bilhões (excluídos os fundos de cota, que compram cotas de um ou mais fundos), dos quais a larga maioria (91%) em planos de renda fixa. Na sequência, os fundos multimercado de previdência somam um patrimônio de apenas R$ 60,6 bilhões, enquanto a categoria ações tem R$ 11,4 bilhões.

Captação líquida
(R$ milhões)
Patrimônio líquido
(R$ milhões)
Número de fundos*
2009  23.421,7  149.020,4  571
2010  19.198,7  184.105,1  670
2011  25.430,4  230.874,7  775
2012  34.899,1  291.658,4  898
2013  23.180,0  330.846,5  1.071
2014  32.323,3  399.743,5  1.175
2015  40.132,9  494.419,5  1.267
2016  47.701,2  618.996,0  1.356
2017  42.146,3  730.869,5  1.501
2018  25.557,0  808.779,7  1.671
2019**  15.281,3  863.342,2  1.766

*Dados incluem fundos de cotas
**Até junho
Fonte: Anbima

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.