Previdência: um ano após reforma, gestoras independentes crescem, mas bancos ainda detêm 90% das reservas no mercado privado

Verde, Icatu e XP estão entre as principais casas em patrimônio, com ofertas de produtos multimercados e de ações em destaque

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Neste dia 13 de novembro, a entrada em vigor das regras criadas com a reforma da Previdência completa um ano.

O atual modelo busca reduzir o papel do Estado como provedor do benefício social. E faz a constituição de uma poupança privada entrar cada vez mais no radar daqueles com folga financeira para poupar com alguma recorrência.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que os fundos de previdência captaram R$ 20,5 bilhões em 2020, até outubro, mesmo em um período marcado pelas incertezas da pandemia.

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A crise, contudo, levou o volume a ficar abaixo do registrado em igual intervalo de 2019, quando entraram R$ 27,6 bilhões, embora acima dos R$ 16 bilhões nos dez primeiros meses de 2018.

No segmento de previdência, além da captação de dinheiro novo, as gestoras recebem recursos oriundos da portabilidade permitida pela legislação.

Mesmo porque, dos cerca de R$ 964,5 bilhões em ativos sob gestão em veículos de previdência, aproximadamente 90% ainda estão concentrados nos grandes bancos. E o conservadorismo reina, já que quase 80% do valor está na classe da renda fixa, embora a Selic esteja na mínima histórica.

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Esse quadro fez as portabilidades cedidas pelas seguradoras somarem 136,2 mil contratos em 2020, até setembro, com um volume movimentado correspondente a R$ 21,8 bilhões, segundo informações da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Em 2019, com o tema da reforma da Previdência diariamente no noticiário, as transferências já haviam sido em ritmo intenso – foram 164,7 mil portabilidades cedidas no ano passado, com um giro financeiro de R$ 31,1 bilhões.

Quem está de olho nesse filão da previdência privada dos grandes bancos são as gestoras de recursos independentes.

De acordo com dados da XP Seguros, em 2018, havia aproximadamente 90 assets brasileiras com produtos de previdência na prateleira. Em setembro de 2020, o universo havia saltado para quase 130 casas, uma alta de 45%, impulsionada pelo próprio desenvolvimento do mercado de gestoras de recursos por conta dos juros baixos.

Elas se valem da expertise dos profissionais para oferecer fundos que seguem a mesma tese de investimento dos principais fundos multimercados, de ações ou de renda fixa, com pequenas nuances por conta da regulação, relativas, por exemplo, ao nível de alavancagem.

Levantamento da Economatica mostra que, nos 12 meses encerrados em setembro, foram lançados quase 600 fundos de previdência, de casas tradicionais, como Brasilprev, Bradesco, Itaú e Safra, e de independentes, como Absolute, Quasar, Perfin, Dahlia, Giant Steps e Persevera, entre outras.

Novo normal na previdência privada

Nascida em abril de 2019, em um ambiente de juros já em queda e com os investidores em busca de alternativas mais rentáveis, a XP Seguros tem cerca de R$ 10 bilhões em ativos sob custódia, com cerca de 85% do total oriundo de portabilidades, diz Roberto Teixeira, presidente da seguradora.

Para atender a uma nova demanda gerada pela falta de prêmio na renda fixa, dos quase 90 produtos estruturados com gestoras parceiras, por volta de 50% são multimercados e 15%, de renda variável.

Como base de comparação, o mercado de previdência como um todo tem cerca de 15% em fundos multimercados e menos de 1% em produtos dedicados a ações, de acordo com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).

“Em 2020, os fundos de previdência de ações não cresceram tanto, muito por conta da volatilidade alta, mas em 2021, com uma economia mais estável, é uma categoria que deve ganhar relevância”, diz Teixeira, acrescentando que a proposta de longo prazo da previdência casa bem com o investimento em Bolsa.

A hora das independentes

Entre as gestoras independentes que mais cresceram na classe da previdência nos 12 meses encerrados em setembro, se destacam nomes como Ibiuna e Claritas.

De acordo com análise da Economatica, a primeira viu o volume de recursos sob gestão na categoria saltar de R$ 750 milhões, em setembro de 2019, para R$ 4 bilhões, em setembro de 2020.

Na Claritas, o crescimento também foi expressivo – de R$ 650 milhões para R$ 2,8 bilhões, no mesmo intervalo.

Segundo Damont Carvalho, gestor da Claritas, a maior procura dos investidores recai ainda sobre os multimercados de previdência de baixa volatilidade. “Ainda assim, produtos com mais risco, como da categoria long bias, com maior alocação em renda variável, têm sido cada vez mais procurados”, afirma.

Do total de R$ 12,5 bilhões em ativos sob gestão, aproximadamente R$ 2,8 bilhões estavam em produtos de previdência na Claritas em setembro.

A liderança em termos de patrimônio entre as casas sem vínculo com grandes bancos é da Verde Asset Management, com R$ 13,6 bilhões. Na sequência, aparecem Icatu, com R$ 9,5 bilhões, e XP Asset, com R$ 5,2 bilhões.

Confira a seguir as maiores gestoras independentes em fundos de previdência e a evolução do patrimônio líquido em 12 meses, até setembro.

Para o cálculo, foram considerados os fundos de previdência da indústria local, com a exclusão do total alocado em cotas de outros fundos, de modo a evitar a dupla contagem.

Legislação mais amigável

Com as mudanças nas regras que balizam os investimentos dos fundos de previdência nos últimos anos, o investidor passou a valorizar, além dos benefícios inerentes aos produtos de previdência, as estratégias e a expertise das assets independentes, diz Caio Santos, sócio responsável pela área de relações com investidores da Ibiuna. A gestora tem produtos do tipo desde 2011.

Os benefícios inerentes aos produtos ao quais se refere o executivo são a isenção do come-cotas (imposto semestral que incide sobre grande parte dos fundos “tradicionais”) e a possibilidade da portabilidade, além da facilidade na sucessão patrimonial, pelo fato de a previdência não entrar em inventário, no caso de falecimento do titular.

“Hoje conseguimos montar uma carteira de previdência muito similar à da estratégia original”, diz o sócio da Ibiuna.

A maior liberdade concedida na categoria, afirma Santos, contribui para a diversificação do portfólio e também na adoção de posições de proteção em momentos de estresse.

Atenta ao crescimento do nicho, a Legacy Capital lançou neste início de novembro seu primeiro produto do tipo, que segue a principal estratégia macro da casa.

Segundo José Eduardo Araújo, sócio da Legacy, desde o início da gestora, em 2018, já existiam discussões internas sobre o lançamento de fundos de previdência, mas foi a mudança na legislação que entrou em vigor no início do ano que sacramentou a decisão de estruturar o produto.

Até então, os fundos da categoria poderiam incorrer em retornos muito diferentes daqueles das estratégias originais, afirma o executivo.

A principal novidade na legislação que trata dos fundos de previdência foi a permissão para investimentos em ativos globais até o limite de 20%, para produtos destinados ao público geral.

Para o investidor qualificado, com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras, o limite global subiu para 40%.

A ampliação do espaço para investimentos internacionais, que era limitado a 10% para ambos os públicos até o ano passado, foi de suma importância para que o produto de previdência pudesse replicar com boa aderência o multimercado da Legacy, diz Araújo.

“Com os juros altos, o investidor não precisava se preocupar muito com o dinheiro da previdência. Hoje, é um recurso que precisa estar em ativos com um horizonte de longo prazo”, afirma.

Atenção aos custos

A sócia-diretora da Sonata Gestora de Patrimônio, Patrícia Palomo, diz enxergar com “muitos bons olhos” os produtos de previdência se assemelhando cada vez mais aos não previdenciários.

“O ponto ao qual o investidor precisa ficar atento é o custo, que, em geral, é um pouco maior no fundo de previdência, pela estrutura de distribuição”, explica a especialista.

Em uma situação hipotética, na qual o investidor tenha a disposição um fundo multimercado e um de previdência que o siga de perto, tendo ambos a mesma taxa de administração, Patrícia entende que a segunda opção é a melhor.

Isso porque, ao fazer a declaração pela tabela regressiva do imposto de renda no modelo VGBL, a tributação no fundo de previdência chega a até 10% para prazos acima de dez anos, enquanto, no multimercado, a alíquota mínima será de 15%.

“Nesse caso, o investidor teria a vantagem tributária, sendo praticamente o mesmo fundo”, afirma Patrícia.

Já se o custo do produto de previdência for um pouco maior, como é o mais comum, a sócia da gestora de patrimônio diz que cabe então ao investidor contrabalançar o ganho com a eficiência tributária, e a perda com a taxa de administração ou de performance mais alta, para avaliar o melhor caso.

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