Previ: as oportunidades que o maior fundo de pensão do país tem aproveitado na crise

Ações descontadas e títulos públicos de longo prazo corrigidos pela inflação estão no radar

Lucas Bombana

(Lucas Schifres/Getty Images)

SÃO PAULO – A queda indiscriminada da Bolsa em março, quando o pânico tomou conta do mercado e derrubou os ativos sem fazer distinção de qualidade, abriu uma janela de oportunidade para investidores com visão de longo prazo, que conseguiram comprar ativos que estiveram caros por muito tempo.

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Com um patrimônio líquido de R$ 183 bilhões e uma base de 200 mil segurados, a Previ, a fundação de previdência complementar fechada do Banco do Brasil, está na parcela dos que se aproveitaram do tombo do mercado para reforçar o posicionamento em renda variável.

“Crises separam muito bem os agentes que precisam vender daqueles que têm a prerrogativa de comprar”, diz Marcelo Wagner, diretor de investimentos da Previ. “Estamos no segundo grupo”, afirmou o dirigente, em entrevista ao InfoMoney.

Olhando para o cenário de longo prazo, a Bolsa está barata, assim como a moeda brasileira tende a se apreciar frente ao patamar atual, comentou o especialista, durante live promovida pela SulAmérica na última quarta-feira (27).

“Se você pretende se aposentar no Brasil, compre Brasil”, disse Wagner, que emendou frase atribuída ao financista Nathan Rothschild: “Compre ao som de canhões, venda ao som de trombetas.”

Pelo viés previdenciário com o foco no longuíssimo prazo, Wagner afirmou que se volta menos para ativos específicos e mais para as perspectivas gerais para um determinado segmento ou uma classe de ativo como um todo.

“Não há uma bala de prata”, disse o dirigente, acrescentando que a entidade tem adotado um posicionamento “underweight” (exposição abaixo da média do mercado) em ações small caps.

Segundo o boletim mensal de desempenho da Previ, entre as principais modificações na carteira de ações de fevereiro para março, deixaram de constar entre as 12 maiores posições no portfólio de ações, no caso do plano Previ Futuro, os papéis do IRB e da Localiza, enquanto as ações da Rumo e da JBS entraram no grupo.

Além disso, a Vale, que era a segunda ação com maior representatividade na carteira de renda variável do Previ Futuro, de 1,92% em fevereiro, assumiu a liderança em março, com a participação subindo para 2,19%. Já o Itaú passou da primeira para a segunda posição, com sua fatia reduzida de 2,15% para 1,81%.

A carteira de ações do Previ Futuro responde por cerca de 22,5% do plano e teve, no primeiro trimestre, queda em linha com o desempenho do mercado – a desvalorização do portfólio foi de 36,8%, a mesma registrada pelo Ibovespa.

Segundo o dirigente do fundo de pensão, as compras foram marginais considerando o tamanho da carteira da entidade, e concentradas no Previ Futuro, plano de benefício com R$ 17,1 bilhões em investimentos e aberto para adesões de novos funcionários do banco.

A entidade também administra o Plano 1, que soma um patrimônio líquido de R$ 165 bilhões e está fechado para novas adesões.

A maior parte dos participantes do Plano 1 é composta por aposentados na fase de recebimento dos benefícios, diferentemente do Previ Futuro, em que os segurados na ativa ainda tem tempo para correr mais risco com vistas à formação de uma poupança previdenciária no longo prazo.

No caso do Plano 1, em que as ações respondem por 40%, o recuo da carteira de renda variável foi um pouco menor, de 26%, o que não foi o suficiente para impedir um déficit de R$ 23,6 bilhões no fim de março.

“Estamos em uma crise secular, que se reflete na magnitude da volatilidade”, diz o diretor de investimentos.

Com a recuperação dos preços em abril, a insuficiência financeira foi reduzida em cerca de R$ 2 bilhões no Plano 1, que encerrou 2019 com um superávit de R$ 2,1 bilhões.

Pelas características de cada um dos planos, o Previ Futuro de Contribuição Variável não está sujeito a déficits ou superávits.

Prêmios nas NTN-Bs longas

Além de estar atento às pechinchas da Bolsa, o fundo de pensão tem aproveitado os prêmios atrativos dos títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+, ou NTN-Bs) de longo prazo, com vencimentos entre 2045 a 2055.

“Compramos cerca de R$ 2,5 bilhões no mercado secundário quando os spreads superaram nossa meta atuarial”, afirma Wagner, em referência à taxa de retorno anual que o fundo de pensão precisa cumprir para manter a solvência.

Embora os títulos públicos no radar da Previ sejam os mais voláteis do mercado por conta dos vencimentos de longo prazo, o diretor da Previ ressalta que a relação entre o custo e o benefício da operação é claramente favorável ao investimento.

“A NTN-B tem uma aderência grande com nosso passivo”, diz Wagner, que destaca ainda a indexação à inflação dos ativos. “Por conta dessas qualidades, a volatilidade acaba se tornando uma questão secundária.”

Parada estratégica

Ao mesmo tempo em que tem capturado boas oportunidades na Bolsa e nos títulos públicos, a Previ suspendeu temporariamente o programa de diversificação do portfólio gestado em 2019, com execução programada para 2020.

Com isso, os planos de aumentar a alocação no exterior, bem como em multimercados e fundos imobiliários, com previsão de R$ 5 bilhões em novos investimentos nessas classes, foram interrompidos, mas não cancelados, ressalta Wagner.

“Suspendemos até que seja feita uma reavaliação do cenário para entender como será o rebalanceamento dos investimentos.”

Ele ressaltou, contudo, que o Brasil representa apenas 1,5% do mercado financeiro global, destacando que será preciso olhar cada vez mais para investimentos em outras geografias para manter o nível de renda adequado para a aposentadoria.

Colchão de liquidez

Apesar do atual quadro conjuntural desfavorável, a entidade de previdência, que distribui anualmente R$ 13 bilhões em benefícios, não enxerga nenhum risco de descontinuidade dos pagamentos.

“Conseguimos passar pelo período de volatilidade sem ter de realizar a venda de qualquer ativo fora do preço justo pelo menos até o segundo semestre de 2021.”

Marcelo Wagner, diretor de investimentos da Previ

Segundo o especialista, os benefícios previdenciários estão garantidos nos próximos meses, mesmo com as incertezas da crise, pelos cupons semestrais dos títulos públicos corrigidos pela inflação.

O estoque de NTN-Bs suportaria o fluxo de pagamentos, diz o diretor, mesmo que a Previ tivesse uma queda drástica no recebimento de aluguéis e dividendos, algo que não está sendo observado até agora.

Frente às projeções mais conservadoras traçadas pelo fundo de pensão, a queda na remuneração por esses dois canais tem sido até menor do que a esperada, afirma Wagner.

“São carteiras que nos serviram como uma apólice de seguro, que tem nos permitido passar pelo momento com muita tranquilidade”, diz o dirigente, que, antes de assumir o cargo, em janeiro, era diretor financeiro da Brasilprev.

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