Poupança: retorno teria dobrado em 20 anos com indexação à inflação

Nos últimos 20 anos, a poupança rendeu 337%; com a mudança, rentabilidade da caderneta teria crescido para 705% no período

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Popular entre os brasileiros por conta da facilidade de aplicação e da isenção de Imposto de Renda, a caderneta de poupança segue como um dos investimentos menos rentáveis do país. E tem ficado cada vez pior diante da queda da taxa Selic, com um rendimento hoje que não chega a 4% ao ano. Em 2019 até agosto, o retorno da caderneta ficou abaixo dos 3%, pouco acima da inflação, de 2,54% no período.

Um projeto do governo, porém, poderia mudar substancialmente esse cenário, por meio de uma nova remuneração da caderneta, indexada à inflação. Circulou recentemente no mercado uma proposta indicando que o retorno da poupança poderia começar a ser atrelado à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acrescido de 70% da Selic anualizada, independentemente do patamar da taxa básica de juros.

Em discurso na quinta-feira (26), contudo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, negou a existência de qualquer estudo sobre o assunto. De toda forma, se levada adiante, a ideia teria impacto relevante no bolso do investidor brasileiro.

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Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney revela que, se a poupança tivesse sido corrigida pelo IPCA ao longo dos últimos 20 anos (acrescida de 70% da Selic anualizada), um investidor teria tido um rendimento 109% acima do obtido com as regras atuais.

Desde 1999, a caderneta rendeu efetivamente 337%. O cálculo considera um retorno de 0,50% ao mês até junho de 2012 e, a partir de então, uma rentabilidade que variou conforme a Selic. Quando a taxa estava acima dos 8,5% ao ano, a poupança rendia 0,50% ao mês mais a variação da Taxa Referencial (TR); igual ou abaixo desse patamar, a remuneração correspondia a 70% da Selic mais a TR.

Com a modificação para o IPCA, o rendimento nesses mesmos 20 anos teria mais que dobrado, para cerca de 705%.

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Na tabela a seguir, você confere o retorno da poupança com as regras vigentes e as variações do CDI e do IPCA nos últimos cinco, dez e 20 anos até o fim de agosto de 2019, bem como as projeções de como teria rendido a caderneta se estivesse atrelada à inflação.


A mudança representaria um grande avanço em relação à atual remuneração da caderneta e também na comparação com o CDI. Considerando os rendimentos nos últimos cinco e dez anos, a “nova poupança” bateria o principal referencial das aplicações de renda fixa em ambos os casos.

Na prática, se um investidor tivesse aplicado R$ 10 mil na poupança há cinco anos, poderia resgatar hoje R$ 17,3 mil caso o retorno estivesse indexado ao IPCA, R$ 3,5 mil acima do que receberia com as regras atuais. Em 10 anos, a diferença seria de R$ 8 mil e, em 20 anos, cresceria para R$ 36,8 mil.

Para José Raymundo de Faria Júnior, planejador financeiro com certificação CFP, se a proposta fosse aprovada, o investidor perderia o interesse em demais produtos de renda fixa, como títulos públicos, fundos DI, Certificados de Depósito Bancário (CDBs), bem como em Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA). Vale lembrar que a caderneta é isenta de Imposto de Renda e não cobra taxas como de custódia e administração, nem está sujeita ao come-cotas.

Para critério de comparação, o Tesouro IPCA com juros semestrais 2050, título público indexado à inflação com a maior taxa de retorno na atualidade, pagava, na sexta-feira (27), um juro real de 3,51% ao ano. A nova remuneração da poupança implicaria hoje uma taxa anual de 3,85% (70% da Selic atual, de 5,5% ao ano), mais a inflação. E vale lembrar que sobre todo rendimento no Tesouro Direto recai a cobrança de Imposto de Renda. No melhor dos cenários, de alíquota de 15%, o título público mencionado pagaria pouco menos de 3% ao ano.

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Investimentos mais rentáveis

Com a queda das taxas de juros, o investidor que quiser melhores rentabilidades vai ter que se mexer. Entre as opções ainda atrativas dentro da renda fixa, Jorge Luis Prado, assessor de investimentos no escritório Sal Investimentos, cita os títulos prefixados – como o com vencimento em 2025 –, cujos preços sobem com a queda dos juros e podem ser interessantes no curto prazo, para venda antes do vencimento.

Oportunidades podem ser encontradas ainda em títulos indexados ao IPCA com prazos em 2024 e 2035, que seguem com bons prêmios acima da inflação, segundo ele. No dia 27 de setembro, o papel com prazo mais curto pagava 2,60% ao ano e o com vencimento em 2035 oferecia prêmio anual de 3,43%. No mesmo período do ano passado, as rentabilidades estavam em 5,76% e 5,95%, respectivamente.

Prado ainda enxerga valor em CDBs com prazo médio de três anos e rendimento em torno de 120% do CDI.

Com os juros na mínima histórica, Faria Júnior destaca ainda mais a importância da diversificação do portfólio, sempre de acordo com o grau de aceitação de perda do investidor. Além da opção de prefixados para venda antecipada, o especialista sugere a migração do investidor para ativos mais arrojados, como fundos multimercados, fundos imobiliários e ações.

A “queridinha” dos brasileiros

Apesar de ainda pecar em rendimento, a caderneta segue como principal destino do dinheiro dos brasileiros. No acumulado até agosto, o montante aplicado na poupança somava R$ 806 bilhões. O estoque do Tesouro Direto, por outro lado, correspondia a R$ 58 bilhões, enquanto as aplicações em CDBs, LCAs e LCIs totalizavam, juntas, R$ 1,2 trilhão.

Neste ano, porém, o brasileiro já retirou dinheiro da caderneta em cinco de oito meses. No acumulado até agosto, os resgates somavam R$ 1,59 trilhão, superando os depósitos em R$ 14,8 bilhões.

O saldo negativo de 2019 contrasta com os dados de 2017 e de 2018, quando a caderneta teve captações líquidas de R$ 17,1 bilhões e R$ 38,3 bilhões, respectivamente.

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