Poupança, CDB, LCI ou LCA? Investimentos de renda fixa rendem até 50% mais que a caderneta; veja simulação

Com manutenção da Selic em 13,75% ano ano, investidor da poupança deve considerar ganhos de papéis alternativos, que podem proporcionar rendimento superior

Neide Martingo

(Shutterstock)

Publicidade

A poupança foi, por muitos anos, vista como a principal aplicação para quem não queria ver o dinheiro sob os riscos da renda variável. Mas, com os juros brasileiros nas alturas, é cada vez mais difícil defender o investimento na caderneta – já que há alternativas na renda fixa com segurança equivalente e rendimento bem mais alto.

O Brasil tem a segunda taxa de juros nominais mais alta do mundo, de 13,75% ao ano, ficando atrás apenas da Argentina (com inacreditáveis 75% ao ano). O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve esse patamar na reunião de outubro, como já era esperado pelo mercado. E a expectativa é de que se mantenham nesse nível ainda por alguns meses.

Apesar de ser a aplicação mais tradicional do Brasil, a poupança oferece uma das rentabilidades mais baixas do mercado de renda fixa. Um ponto a favor da caderneta é o fato de ser isenta de Imposto de Renda e outros custos – a cobrança de tarifas de abertura ou de manutenção, taxas de administração ou de performance é proibida.

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

CDB 230% do CDI

Destrave o seu acesso ao investimento que rende mais que o dobro da poupança e ganhe um presente exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

A facilidade para resgatar uma aplicação é um dos principais atrativos da poupança. Essa é uma tradução possível para o conceito de liquidez – que, no caso da caderneta, é elevada. Ao solicitar um resgate, os recursos caem na conta corrente no mesmo momento.

Mas as vantagens não vão muito além disso. O fato de ser um investimento isento não elimina a necessidade, por exemplo, de incluir a poupança na declaração anual de Imposto de Renda. Quem está obrigado a fazer o ajuste precisa declarar os recursos mantidos na caderneta a partir de R$ 140.

A facilidade para resgatar os recursos da caderneta tem uma contrapartida: o rendimento é mensal, o que significa que, se for sacado antes de completados 30 dias da aplicação, o dinheiro não será remunerado.

Continua depois da publicidade

O rendimento da poupança é fixo: 0,5% ao mês mais a variação da TR (Taxa Referencial). E esse tem sido visto como um dos fatores que mais depõem contra a caderneta atualmente. Cálculos realizados por José Carlos Luxo, professor de Finanças do Insper, indicam que nos próximos 12 meses a poupança renderá 8,27%. A conta considera uma TR mensal na faixa de 0,16%.

Como esse rendimento se compara com o de outras alternativas de renda fixa disponíveis no mercado? O InfoMoney ouviu especialistas e consultou plataformas de investimentos. A conclusão é de que é possível encontrar investimentos que rendem até próximo de 50% mais do que a caderneta.

Mas alguns detalhes importantes devem ser levados em conta pelos interessados em migrar da poupança. Dada a liquidez diária da caderneta, os investidores podem sacar o dinheiro quando bem entenderem – numa emergência, por exemplo. Nos outros produtos de renda fixa, os rendimentos são mais elevados quando a liquidez ocorre apenas no vencimento – ou seja, os recursos ficam “presos” até lá.

“O investidor deve ter claro que não vai precisar dos recursos alocados na renda fixa no prazo estipulado ao optar pelo ativo”, diz Claudia Yoshinaga, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Caso contrário, pode perder dinheiro na hora do resgate.

Em resumo, quem investe em um CDB (Certificado de Depósito Bancário), em uma LCI (letra de crédito imobiliário) ou em uma LCA (do agronegócio) – todos produtos de renda fixa emitidos por bancos – pode obter um rendimento maior, com um nível de risco de crédito muitas vezes equivalente ao da poupança. Mas – sempre há um mas – terá de esperar até o vencimento da aplicação para fazer o resgate.

CDB

Entre os investimentos de renda fixa, os CDBs são os mais conhecidos. Eles estão disponíveis na maioria dos bancos – e, por essa comodidade, acabam sendo uma das primeiras opções para quem quer migrar o dinheiro da poupança para algo mais rentável.

Quem compra CDBs empresta dinheiro para os bancos financiarem suas atividades de crédito. Em troca, os bancos oferecem uma remuneração – os juros – aos investidores, por um determinado período. Os recursos são usados por essas instituições para conceder empréstimos a outras pessoas.

Só ficam de fora os valores que os bancos são obrigados a recolher como depósito compulsório junto ao Banco Central – cerca de um terço do que captam. Esse volume de recursos não pode ser emprestado. A obrigação serve exatamente para que o governo consiga controlar o dinheiro em circulação na economia.

CDBs que ofereçam retorno a partir de 14,72% ao ano têm um rendimento 50% maior do que o da poupança, segundo os cálculos do professor José Carlos Luxo. Descontando uma alíquota de Imposto de Renda de 15% (obtida nos investimentos mantidos por pelo menos dois anos), a taxa líquida seria de 12,51% ao ano.

Um giro pelas plataformas de investimentos nesta quinta-feira (3) indica que há várias opções de CDBs no mercado com taxas próximas e, em alguns casos, superiores a essa. CDBs pós-fixados da Riachuelo, com vencimento em 2027, por exemplo, oferecem rentabilidade de 118% do CDI, o que equivale a 13,46%. Há também opções prefixadas do mesmo emissor: um CDB com vencimento em 2026 oferece ganho de 17% ao ano e outro, para 2025, de 14% anuais.

Há CDBs de emissores menores e menos conhecidos com taxas atrativas. Um do NBC Bank, com vencimento daqui a 13 meses, oferece 14,71%, mesma taxa de um CDB da financeira Omni, com vencimento em 14 meses. Outro, do banco Digimais, está pagando 14,97% ao ano.

Mas atenção: antes de investir, é preciso considerar o risco de crédito de cada emissor. Ele representa a possibilidade de perdas causadas pela incapacidade financeira da empresa emissora – ou, em outras palavras, a chance de tomar um calote.

Todas as aplicações de renda fixa envolvem risco de crédito em algum grau, mas é possível manejá-los escolhendo, por exemplo, papéis emitidos por empresas com um rating – nota de risco de crédito atribuída por agências internacionais – elevado.

No caso dos CDBs, uma vantagem é que possuem proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) – o que aumenta a tranquilidade para aplicar em papéis bancos menores, não tão “populares”. Normalmente, em razão disso, essas instituições pagam uma taxa de retorno muito mais atrativa do que os bancos grandes. O risco é menor porque o fundo garante aplicações de até R$ 250 mil por CPF em caso de insolvência do banco emissor, limitado a R$ 1 milhão.

De acordo com Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o ideal para o investidor é fazer compras de até R$ 215 mil para que, no vencimento, o valor chegue próximo a R$ 250 mil (para os CDBs pré-fixados), ainda dentro da garantia do FGC. No caso dos CBDs pós-fixados, o limite seria bem menor, já que o prazo é mais longo. “Para o vencimento em 2027, o limite seria de R$ 120 mil. No caso do vencimento em 2026, seria algo em torno de R$ 160 mil. Nós acreditamos que isso seria no cenário conservador porque, dependendo da equipe econômica e como o governo tocar a economia, os juros podem demorar mais para cair ou poderiam cair menos. Neste caso, a rentabilidade seria ainda maior”, completa.

LCIs e LCAs

A LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e a LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) são dois tipos de investimento em renda fixa isentos de Imposto de Renda, que costumam garantir retornos bem superiores ao da caderneta de poupança.

Ambas são muito parecidas com os CBDs emitidos pelos bancos, ou seja, quem compra esses papéis “empresta” dinheiro para uma instituição financeira. Em troca, recebe uma remuneração – os juros – durante o período em que mantiver os recursos aplicados. Do ponto de vista do investidor, não há diferença entre investir em LCI ou LCA – o que muda é o lastro do papel.

Tanto as letras imobiliárias quanto as do agronegócio são cobertas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Assim, no caso de a instituição financeira quebrar, o investidor recebe de volta até R$ 250 mil do valor aplicado.

Pela simulação do professor José Carlos Luxo, para ter um rendimento 50% superior ao da poupança, LCIs e LCAs precisariam oferecer uma remuneração de 12,51% ao ano. Lembrando que essa taxa já é líquida – afinal, esses ativos, assim como a poupança, são isentos de Imposto de Renda.

Na plataforma da XP, é possível encontrar LCA da instituição financeira cooperativa Sicredi com rentabilidade de 12% ao ano e prazo de sete anos, ou seja, resgate em novembro de 2029. Isso quer dizer que, com as simulações atuais, o ativo próximo de 50% do que é esperado para a poupança. Outra LCA é a do Banco ABC Brasil, que oferece rentabilidade de 12,41% ao ano, com resgate em novembro de 2023.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney