Ouro renova máxima com ajuda do Bitcoin – mas rali pode estar com dias contados

Metal precioso disparou nos últimos dias – mas sem impulsionadores habituais que justifiquem o movimento

Monique Lima

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Os contratos futuros do ouro atingiram na segunda-feira (4) uma nova máxima histórica, acima de US$ 2.100 por onça. A marca veio após uma sequência de cinco pregões consecutivos de altas, que se mantém nesta terça-feira (5). Mas, ao contrário de recordes anteriores, dessa vez as razões não parecem estar ligadas à tradicional fama do metal precioso de porto seguro para o investidor.

Em nota, o banco suíço Julius Baer pondera que o movimento é “notável”, visto que nenhum dos impulsionadores habituais do ouro se moveram nos últimos dias. “Em vez disso, parece o ouro recebeu um impulso do Bitcoin”, escreve o chefe de pesquisa do banco, Carsten Menke.

O ouro renovou sua máxima em meio a uma disparada do ativo que é apontado como sua versão digital. O Bitcoin (BTC) superou nesta terça-feira seu topo histórico, ultrapassando pela primeira vez o patamar de US$ 69 mil, impulsionado pelos novos ETFs à vista de Bitcoin nos EUA – algo que normalmente não afetaria as negociações de ouro.

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“Uma forte demanda e desaceleração da oferta também está no comando da alta do Bitcoin, e boa parte da recente recuperação deve ser atribuída a um clima cada vez mais otimista do mercado. Isto parece estar se espalhando para o mercado de ouro neste momento”, explica Menke.

Fonte: Google Finance. Data-base: 05/03/2024.

Ole Hansen, estrategista de commodities do Saxo Bank A/S, enxerga influência de motores clássicos do ouro, como o receio crescente de correção do mercado de ações dos EUA e a expectativa de corte dos juros pelo Federal Reserve (banco central dos EUA).

Mas, para o Julius Baer, os fundamentos do ouro são vistos como pouco favoráveis. A casa afirma que os investidores que buscam o ouro por refúgio continuam escassos, em vista da resiliência da economia dos Estados Unidos e dos indícios de que a reversão da política monetária não será tão rápida, favorecendo o retorno dos juros.

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“As taxas de juros mais baixas não são o suficiente [para aumentar a demanda por ouro]. Tal inversão teria de ser acompanhada por uma recessão para proporcionar um aumento duradouro dos preços”, diz Menke. Uma análise dos ciclos de redução de juros dos Estados Unidos desde 1975 mostra que os preços do ouro subiram, em média, 15,5% quando o primeiro corte da taxa veio seguido por uma recessão da economia. Sem a recessão, os preços caíram em média 7%.  

Considerando dados corrigidos pela inflação, o ouro ainda precisa subir mais para atingir picos reais, segundo estimativa da Bloomberg. O metal se valorizou mais de 600% desde a virada do milênio, entretanto, ajustado pela inflação, o preço permanece abaixo da máxima de US$ 850 registrada em janeiro de 1980. Por isso, a máxima “real” do metal seria acima de US$ 3.000. 

Por esses motivos, a alta recente do ouro, apesar de ter espaço para se prolongar, não tem fundamento e “deverá haver mais desvantagens do que vantagens a médio e longo prazo”, avalia Menke.  

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Como investir em ouro?  

O investidor brasileiro que deseja se expor ao ouro já não pode adquirir barras. A B3 descontinuou o mercado de ouro físico por baixo movimento de contratos futuros. Com isso, a aplicação deverá ser realizada por meio da compra de fundos locais e internacionais.

A recomendação mais usual é a compra de ETFs (fundos de índice) que aplicam somente em contratos futuros do metal precioso, negociados no exterior. Alguns exemplos são o ETF GOLD11 e o BDR de ETF BIAU39. A vantagem desses produtos é a negociação em reais, por preços mais acessíveis.  

Já no exterior, por meio da Bolsa americana, o investimento deve ser feito em dólares, por meio de contas internacionais. Por lá, é possível encontrar bastante variedade de ETFs, como o original iShares Gold Trust (que lastreia o BIAU39), o SPDR Gold Shares (GLD) e o abrdn Physical Gold Shares ETF (SGOL).