Por que a renda fixa voltou ao centro do jogo global — e pode render até 10% em dólar

O cenário tem levado investidores globais a repensarem alocações tradicionais.

Osni Alves

Ativos mencionados na matéria

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Depois de três anos ofuscada pelo caixa e pela volatilidade dos mercados, a renda fixa global voltou a brilhar em 2025. Com retornos que chegam a 10% ao ano em dólares, a classe de ativos retomou protagonismo justamente no momento em que o mundo começa, de forma gradual e desigual, um ciclo de cortes de juros.

Para a PIMCO, maior gestora ativa de renda fixa do mundo, esse movimento não é apenas conjuntural, mas estrutural.

“Esse é o primeiro ano, nos últimos três, em que a renda fixa realmente brilha em relação ao cash”, afirmou Luis Oliveira, vice-presidente para América Latina e Caribe da PIMCO. Segundo ele, enquanto o caixa rende algo entre 4% e 4,5% em dólares, os fundos e índices de renda fixa entregam retornos significativamente superiores.

O cenário tem levado investidores globais a repensarem alocações tradicionais. “Os investidores estão se animando com essa oportunidade”, disse Oliveira, ressaltando que, apesar dos riscos no radar, o momento é favorável para estratégias bem calibradas, especialmente em crédito de alta qualidade.

Para a PIMCO, a combinação de juros elevados, dispersão entre ciclos econômicos e maior volatilidade cria um ambiente fértil para a gestão ativa.

“Existe hoje uma oportunidade global efetiva para ganhar dinheiro e diversificar portfólios”

— Luis Oliveira, vice-presidente para América Latina e Caribe da PIMCO.

Oliveira participou do podcast Outliers InfoMoney, apresentado por Clara Sodré e Fabiano Cintra.

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Gestão ativa ganha força em um mercado de US$ 150 tri

Com US$ 2,2 trilhões sob gestão e presença em 24 países, a PIMCO aposta na gestão ativa como diferencial competitivo, sobretudo no mercado de renda fixa, que movimenta cerca de US$ 150 trilhões globalmente. “É um mercado muito maior do que o de renda variável e com mais assimetria de informação”, explicou Oliveira.

Segundo ele, enquanto cerca de 80% dos gestores de ações não conseguem bater seus benchmarks no longo prazo, na renda fixa esse número se inverte. “De 55% a 80% dos gestores conseguem superar os índices em três, cinco e dez anos, dependendo do segmento”, disse.

Parte dessa vantagem vem do perfil dos investidores. “Cerca de 50% dos investidores em renda fixa no mundo são não econômicos, como fundos de pensão, seguradoras e bancos centrais. Eles não estão disputando alfa”, afirmou. Isso reduz a concorrência e amplia o espaço para estratégias ativas.

Além disso, o mercado de balcão e o volume constante de novas emissões criam oportunidades adicionais. “Com um vencimento médio de cinco anos, há uma rolagem anual de cerca de US$ 30 trilhões. É um oceano de oportunidades”, disse Oliveira.

Um mundo mais fragmentado e fiscalmente pressionado

No campo macroeconômico, a PIMCO enxerga uma mudança estrutural no funcionamento da economia global. “Estamos em um mundo muito mais multipolar e fragmentado”, afirmou Oliveira, citando o redesenho das relações comerciais, geopolíticas e estratégicas após os choques dos últimos anos.

Outro ponto central de preocupação é o quadro fiscal das grandes economias. “Não é um problema exclusivo do Brasil. Estados Unidos, França e Japão têm níveis de dívida muito elevados e trajetórias preocupantes”, disse. Segundo ele, o risco não está apenas no tamanho da dívida, mas na perda de espaço para estímulos fiscais em futuras crises.

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“O problema é ter economias muito alavancadas sem uma grande emergência acontecendo. Quando a próxima crise vier, haverá menos espaço fiscal para reagir”, afirmou. A boa notícia, segundo Oliveira, é que os bancos centrais ainda têm munição do lado monetário, com juros elevados que podem ser reduzidos.

Esse contexto deve resultar em um ambiente mais volátil nos próximos anos. “De 2008 até 2020, qualquer grande estresse era rapidamente amortecido pelos bancos centrais. Agora, essa volatilidade tende a ser mais alta”, disse.