Por que 300 mil investidores pagam taxas de até 3% em fundos com uma única ação?

Mercado brasileiro conta com 58 fundos monoação de grandes bancos como Itaú, BB, Caixa e Bradesco

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – A diversificação da carteira em ativos com baixa correlação entre si é provavelmente a principal estratégia indicada por consultores de investimento, seja qual for o cenário que o investidor tenha traçado para os próximos meses no mercado.

Para cerca de 300 mil cotistas que reúnem patrimônio superior a R$ 6 bilhões, contudo, o poder da diversificação tem sido deixado de lado.

Isso porque o dinheiro desse grupo está alocado nos fundos sob a classificação monoação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que, como o nome já deixa claro, investem em uma única ação, na maior parte dos casos da Petrobras ou da Vale.

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Levantamento da Comdinheiro realizado a pedido do InfoMoney mostra que existem 58 fundos monoações no mercado doméstico. Eles são oferecidos, em sua grande maioria, por grandes bancos como BB, Itaú, Caixa e Bradesco, e que, para investir em apenas um papel, cobram caro. As taxas chegam a 3% ao ano.

Confira a seguir os fundos monoações que seguem abertos para captação com as maiores taxas de administração do mercado local, bem como seu patrimônio e sua rentabilidade em 12 meses, até 17 de novembro, e as respectivas taxas de administração. O levantamento não incluiu fundos exclusivos.

Ainda que haja fundos criados no início dos anos 2000 no levantamento, alguns já fechados para captação, há produtos lançados há pouco tempo.

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O Itaú Ações Petrobras I – Fundo de Investimento, por exemplo, data de abril de 2018, e cobra 3% de taxa de administração por ano para comprar apenas ações ordinárias da petroleira, com tíquete de entrada de R$ 100,00. O patrimônio do produto soma R$ 155,6 milhões, de aproximadamente seis mil cotistas.

Em 2020, até 17 de novembro, enquanto o fundo perde 24,5%, os respectivos papéis que compõem o portfólio caem 23%.

O BB Ações Petrobras I também tem desvalorização de 23% no ano, ao mesclar a carteira com 70% de ações ordinárias da petroleira e 30%, de preferenciais, ações que caem 17,4% no intervalo.

O produto da BB DTVM, gestora do Banco do Brasil, data de agosto de 2018, tem taxa de administração de 2% ao ano e não tem aplicação mínima exigida, com simbólicos R$ 0,01.

Não à toa, 12,3 mil cotistas respondem pelo patrimônio de R$ 325,5 milhões do fundo.

Além do monoação de Petrobras, o banco público oferece fundos apenas com papéis da Vale, da Cielo, da BB Seguridade e do próprio BB.

No caso da mineradora, enquanto as ações sobem 50,43% no acumulado de 2020, até 17 de novembro, o respectivo fundo do banco, que cobra 2% de taxa de administração, avança 44,3%.

O BB Ações Vale começou em fevereiro de 2002, e soma R$ 860 milhões de 34 mil investidores.

Especialistas não recomendam

Pela falta de diversificação e do custo alto, especialistas de mercado não recomendam os produtos monoação ao investidor que está em busca de uma carteira com boa relação entre risco e retorno.

“Não faz o menor sentido pagar taxa de administração para investir em empresas possíveis de serem compradas diretamente na Bolsa”, diz Marcos De Callis, estrategista de investimentos da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento.

Ainda mais se tratando dos papéis de maior liquidez do mercado, que o investidor consegue comprar e vender a qualquer tempo sem dificuldades, acrescenta o especialista.

Segundo Gustavo Bertotti, economista-chefe do escritório Messem Investimentos, o mercado brasileiro dispõe de um leque razoável de carteiras com boa diversificação e que estão sob constante monitoramento, portanto, mais indicadas do que o posicionamento em apenas um ativo.

“No cenário de retomada previsto para 2021, a Bolsa tem ações com boas perspectivas de valorização, e o investidor não deve se limitar a somente uma ação”, diz Bertotti.

Na contramão da classe

Com os investidores em busca de opções mais atraentes em um cenário de juros baixos, os fundos monoação tiveram resgate líquido de R$ 347,5 milhões em 2020, até 18 de novembro, segundo dados da Anbima, em contraste à entrada de R$ 65,8 bilhões na classe de ações.

Apesar dos saques, a categoria ainda reúne um patrimônio da ordem de R$ 6,3 bilhões, sem grande mudança em relação ao passado recente – eram R$ 6,9 bilhões, em dezembro de 2019, e R$ 6,4 bilhões, no fim de 2018.

Questionada pelo InfoMoney, a BB DTVM disse, por meio de comunicado, que os fundos monoação “auxiliam o investidor na diversificação de seus investimentos, uma vez que facilitam o acesso aos ativos, com aplicações a partir de R$ 0,01”.

Dessa forma, o investidor consegue se expor aos ativos sem ter de desembolsar o valor para a compra de uma ação inteira – os papéis da Vale, por exemplo, encerraram o pregão de 24 de novembro cotados a R$ 74,80. E seu lote padrão equivale a cem ações.

Procurados, Itaú, Bradesco e Caixa não quiseram comentar.

O Santander tem fundos monoação no levantamento pelo estoque acumulado do passado, mas informou que eles não estão abertos para captação, salvo os vinculados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

FMP-FGTS

Além dos produtos classificados como monoações pela Anbima, existem cerca de 70 fundos de característica semelhante, com aproximadamente R$ 5,2 bilhões de patrimônio e 150 mil cotistas. São os chamados fundos mútuos de privatização.

Esses veículos têm como investidores os titulares de contas vinculadas ao FGTS (FMP-FGTS), que precisam cumprir as regras do fundo de garantia para movimentar os valores.

Eles foram criados no início dos anos 2000 com recursos do FGTS, que rende 3% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR), hoje em zero, e foram montados exclusivamente com ações de empresas nas quais o governo detinha participações: Petrobras e Vale.

O maior fundo da categoria em número de cotistas é o Caixa FMP-FGTS Vale do Rio Doce I, com 39,3 mil investidores e R$ 425,1 milhões de patrimônio, com taxa de administração de 1,9%, segundo dados da Comdinheiro.

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