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A continuidade das pressões inflacionárias no Brasil, juntamente com discussões envolvendo projetos de grande impacto fiscal, envolvendo a redução do preço dos combustíveis, acabaram levando as taxas de papéis atrelados à inflação a avançar aos maiores patamares do ano ao longo de fevereiro.
Em contrapartida, como era esperado, os preços dos títulos públicos indexados à inflação chegaram a desvalorizar até 2,68%, como é o caso do Tesouro IPCA+ 2045.
Um mês antes, a maior queda tinha sido registrada pelo mesmo título, mas o estrago foi bem maior: o preço do papel recuou 11,23% em janeiro. Os dados são da B3.
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Em fevereiro, os títulos atrelados à inflação foram os que mais sofreram, porque costumam ter prazos mais alongados – e, por isso, seus preços são mais sensíveis ao aumento do risco.
O fenômeno em que a elevação das taxas tem como consequência a queda nos preços – e, portanto, a desvalorização dos papéis – está relacionado à chamada marcação a mercado. Os juros oferecidos por um título de renda fixa têm uma relação inversa com o seu valor de negociação pelos investidores.
Quando as taxas aumentam, como foi o caso das oferecidas pelos títulos atrelados à inflação, seu preço tende a cair. O contrário também é verdadeiro.
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No primeiro dia de fevereiro, por exemplo, o Tesouro IPCA+ 2045 oferecia uma taxa de 5,56% ao ano aos investidores. Na sessão de sexta-feira (25), a remuneração para quem comprasse papéis novos já havia subido para 5,72% ao ano.
Por conta de sucessivos movimentos como esse, no acumulado dos últimos 12 meses, a desvalorização do Tesouro IPCA+ 2045 chega a 26,74%.
Vale lembrar, contudo, que as perdas apontadas só acontecem se o investidor decidir vender os papéis antecipadamente. Se carregá-los até o vencimento, a remuneração vai respeitar as taxas e as condições contratadas no momento de aquisição dos títulos.
Neste mês, as taxas tanto do Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045 quanto do de prazo até 2035 atingiram recorde em 2022: 5,81% ao ano, remuneração oferecida pelos papéis na última quinta-feira (24).
Prefixados valorizaram
Entre os prefixados, o movimento foi o oposto: os preços dos títulos públicos tiveram uma valorização de até 1,32% em fevereiro.
O avanço maior nos preços foi registrado pelo Tesouro Prefixado 2031, em que a taxa oscilou bastante no mês – ao sair de 11,23% ao ano no começo de fevereiro, passando pelos 11,53% no dia 14, e terminando o mês em 11,38%. Com isso, o preço do papel avançou 1,32% no acumulado do mês passado.
Quem olha as taxas do início e do fim do mês pode estranhar a valorização acumulada, ainda que as taxas oferecidas tenham encerrado fevereiro em um patamar maior que o dos primeiros dias. Ao olhar o gráfico do comportamento do título ao longo do mês, Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, pontua que o movimento a cada dia foi o inverso: sempre que as taxas aumentaram, o preço recuou.
É preciso lembrar ainda que todos os títulos prefixados que estavam disponíveis para negociação no começo do mês sofreram mudanças e foram substituídos por papéis de prazo mais alongado no decorrer de fevereiro.
Na prática, tais papéis não podem mais ser adquiridos pelo investidor, mas continuam a existir e podem ser vendidos a uma taxa e preços estabelecidos de acordo com a marcação a mercado do dia.
Confira a seguir como se comportaram os títulos públicos disponíveis para novos investimentos em fevereiro e no acumulado dos últimos 12 meses:
Títulos | Vencimento | Acumulado do mês | Acumulado do ano | Acumulado dos últimos 12 meses |
Tesouro Prefixado | 01/07/2024 | 0,30% | -0,12% | -3,64% |
Tesouro Prefixado | 01/01/2026 | 0,67% | -1,09% | -6,28% |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais | 01/01/2031 | 1,32% | -2,31% | -8,59% |
Tesouro Selic | 01/09/2024 | 0,99% | 1,68% | 6,14% |
Tesouro Selic | 01/03/2027 | 1,27% | 2,03% | 6,96% |
Tesouro IPCA+ | 15/08/2026 | -0,03% | 0,03% | 1,50% |
Tesouro IPCA+ | 15/05/2035 | -1,01% | -5,58% | -11,13% |
Tesouro IPCA+ | 15/05/2045 | -2,68% | -11,04% | -26,74% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2030 | -0,22% | -1,88% | -1,31% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/08/2040 | -0,36% | -3,47% | -6,75% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais | 15/05/2055 | -0,46% | -3,79% | -9,21% |
Fonte: Tesouro Direto
Obs: Os títulos que passaram a ser negociados na última segunda-feira (21) não foram incluídos no levantamento porque não possuem histórico.
Novidades no Tesouro
Em fevereiro, investidores que entraram no Tesouro Direto se depararam com uma novidade: títulos públicos com novos prazos de vencimento substituíram os que estavam disponíveis até então, na última segunda-feira (21).
Agora, entre os papéis prefixados, os três prazos disponíveis são: Tesouro Prefixado 2025, Tesouro Prefixado 2029 e Tesouro Prefixado 2033, com cupom semestral. Anteriormente, os títulos disponíveis eram 2024, 2026 e 2031 (com pagamento de juros semestrais).
Movimento semelhante ocorreu com o Tesouro Selic – agora, o prazo mais curto do pós-fixado é 2025, e não mais 2024. Entre os papéis atrelados à inflação, a novidade está no Tesouro IPCA+ 2032, com cupom semestral, que passou a ser negociado em substituição ao título com prazo até 2030.
Em resposta ao InfoMoney sobre a mudança, o Tesouro Nacional disse que troca dos títulos ofertados no Tesouro Direto ocorre anualmente e tem como objetivo a manutenção dos prazos de referência das opções de investimento.
Ariane Benedito, economista da CM Capital, acrescenta ainda que a alteração representa uma adequação das emissões do Tesouro Nacional, de olho na demanda dos investidores e ao que estava sendo visto no mercado primário.
Ao ser questionada se isso pode representar uma forma de o governo emitir mais dívidas, a economista defende que não. Segundo ela, o aumento no número de dívidas ocorre apenas por um curto período de tempo, já que muitos títulos vão vencer e deixarão de ser negociados. “Essas emissões estão dentro do planejamento previsto no Plano Anual de Financiamento (PAF)”, disse.