Petróleo, debêntures, ações locais e até ouro: quais são as principais apostas do fundo Verde, de Stuhlberger?

Em evento para cotistas, gestor apontou a inflação como principal preocupação global, disse acreditar que Lula será eleito e detalhou a carteira do fundo

Mariana Segala

Luis Stuhlberger (Foto: Germano Lüders)

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Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, é conhecido por ser um “faria limer” reservado, que fala pouco com a imprensa sobre onde a carteira – que acumula um rendimento de mais de 20.000% desde que foi criada, em 1997 – está investindo no momento. Mas uma vez por ano, ele abre o jogo para os investidores, em um evento em que expõe sua visão para a economia e para os ativos financeiros.

O encontro deste ano, acompanhado pelo InfoMoney, aconteceu na manhã desta terça-feira (28), reunindo uma plateia seleta no Teatro B32, na Avenida Faria Lima. O evento, em comemoração aos 25 anos do fundo, também foi transmitido online.

A visão de Stuhlberger para a economia – e de seu sócio Luiz Parreiras, além do economista-chefe da Verde Asset, Daniel Leichsenring – parte de alguns pressupostos. A inflação, em sua opinião, se tornou a principal preocupação global, ultrapassando a pandemia de coronavírus ou a guerra entre Rússia e Ucrânia. Nos Estados Unidos, em particular, Stuhlberger tem observado com mais atenção o mercado imobiliário. Localmente, o gestor trabalha com a hipótese de eleição do ex-presidente Lula no pleito de outubro – e monta posições baseadas nos desdobramentos possíveis desse resultado.

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“Se eu olhar onde o Fed [Federal Reserve, banco central americano] errou, foi ao imaginar que a inflação de goods [bens] não contaminaria a de serviços”, disse Stuhlberger. “Mas a verdade é que está contaminando, nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil”.

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Em território americano, a tendência, em sua visão, é de que isso permaneça ainda por um tempo. Stuhlberger lembrou que a inflação do aluguel tem peso de 31% no CPI, índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos, e que indicadores de aluguel calculados por entidades privadas – como o índice Zillow – mostram uma alta “expressiva e apavorante” nos preços. É sinal, segundo ele, de que há mais inflação de serviços “contratada” no país para os próximos tempos.

“Domar” a inflação não será simples, segundo Stuhlberger, dado o nível de renda disponível nos Estados Unidos. As transferências feitas pelo governo e o seguro-desemprego generoso oferecido a quem perdeu o trabalho virou poupança nas mãos dos americanos.

Os valores somados do recursos mantidos em caixa pelos americanos (depósitos e money market funds, fundos de curto prazo) totalizam US$ 6,7 trilhões atualmente, de acordo com dados apresentados pelo gestor. É mais que o dobro do montante esperado caso a tendência de crescimento dos últimos 20 anos tivesse se mantido de 2020 para cá. O cenário ainda é “extremamente inflacionista” e demonstra que o Fed terá trabalho “para colocar a inflação em ordem”, segundo Stuhlberger.

No Brasil, a perspectiva de Stuhlberger é de que a inflação também será mais alta daqui por diante. A contenção das despesas públicas após a implementação do teto de gastos, ainda no governo de Michel Temer, permitiu segurar a alta dos preços e reduzir os juros reais de equilíbrio da economia, segundo o gestor. Mas como, por uma série de circunstâncias, seu estabelecimento não coincidiu com o crescimento da economia, “o teto virou inimigo tanto do [presidente Jair] Bolsonaro quanto do Lula”.

Em sua visão, tanto a inflação quanto os juros serão mais elevados se houver uma política de ampliação do gasto público pelo vencedor das eleições de outubro. “Como acreditamos que Lula vai ganhar, possivelmente teremos uma inflação mais alta”, disse no evento.

Primeiro investimento em ouro desde os anos 1980

Na carteira da gestora, as expectativas de Stuhlberger e sua equipe se refletem em algumas posições específicas. Pela primeira vez desde os anos 1980, o gestor montou uma posição em ouro – que já ocupa cerca de 5% do portfólio. O metal chamou sua atenção porque, ao contrário dos ativos financeiros em geral, que vêm sofrendo pesadamente com a elevação dos juros pelo Fed, o ouro “resistiu bem”.

A aposta está relacionada à discussão sobre qual é o porto seguro para o dinheiro no momento. Historicamente, o dólar e os títulos do governo americano ocuparam essa função. Porém, sanções aplicadas pelo governo dos Estados Unidos aos russos após a invasão da Ucrânia, em fevereiro, impediram movimentações e colocaram o papel da moeda americana como reserva internacional em xeque.

Temporariamente, disse Stuhlberger, o debate foi sobrepujado pelas preocupações com a inflação – mas sooner than later (mais cedo do que mais tarde) vai voltar à baila. Nesse contexto, a posição em ouro, em sua visão, faz sentido. Um catalizador para os preços, segundo o gestor, seria a compra de uma grande quantidade do metal nos mercados por um país e o deslocamento físico das barras para dentro de seu território.

A Verde mantém também uma posição de cerca de 1% em petróleo. “É uma história simples: falta de oferta”, disse Parreiras durante o evento. Com os investimentos minguando na exploração e no refino da matéria-prima, não existem chances de haver mais petróleo disponível no curto prazo – e enquanto isso, os preços deverão se manter elevados.

O Verde tem ainda uma posição, de cerca de 4%, em ações globais.

Exposições domésticas

Localmente, a Verde Asset tem uma aposta na Bolsa – mas seletiva. “A Bolsa está muito barata. Não quer dizer que não possa ficar mais, mas quando se olha o histórico de PL [múltiplo de preço por lucro], ele está no menor nível desde 2002, de seis vezes”, disse Parreiras.

A posição em ações domésticas equivale a 18% do fundo – mas é uma carteira restrita, formada por apenas cinco empresas, que tem merecido a maior parte da atenção da gestora. “Estamos tentando alocar capital em uma série de companhias que são grandes ganhadoras quase independentemente de qualquer cenário no Brasil”, afirmou o gestor.

Um exemplo, segundo Parreiras, é a empresa de energia Equatorial (EQTL3), que está na carteira desde 2010 – período em que o tamanho do negócio foi multiplicado por 17. O diferencial da empresa, na visão do gestor, está na qualidade da gestão e no histórico “excepcional” de alocação de capital da empresa. As duas mais recentes apostas da Equatorial – energia renovável e saneamento – são vistas com bons olhos.

Outra empresa presente na carteira da Verde é a Suzano (SUZB3), por ser considerada uma das mais competitivas do segmento de celulose, com menores custos e maiores oportunidades na economia verde – além de estar historicamente barata. Seus múltiplos, segundo Parreiras, refletem um preço de celulose à metade das cotações correntes.

Localiza (RENT3)e Unidas (LCAM3), em processo de fusão, também estão na carteira. “Uma tem o DNA do aluguel de automóveis, outra o da gestão de frotas. Vão ser o melhor player do mercado, consolidando setor”, disse o gestor. Assaí também aparece com destaque, já que o segmento de atacarejo está relativamente protegido dos desdobramentos macroeconômicos, segundo Parreiras.

Outra ação no portfólio é a da Hapvida (HAPV3), que, após a fusão com a Intermédica, deve se tornar a empresa mais importante do segmento verticalizado de saúde no País, segundo Parreiras. No momento, dada a elevação dos custos para a empresa, as margens estão comprimidas – mas se trata de uma situação conjuntural, na visão do gestor. Tradicionalmente, os planos de saúde tendem a ser reajustados acima da inflação.

Em contrapartida, Stuhlberger destacou que o fundo realiza algumas operações de hedge (proteção). Entre elas está uma comprada em inflação implícita, considerando o cenário base de que os preços prossigam em alta nos próximos tempos.

A Verde tem ampliado também a exposição ao crédito, tanto doméstico quanto internacional – mas o destaque está no mercado local, e de high yield, com risco relativamente mais alto, dada a expectativa de retorno maior. Usualmente, a posição em crédito ocupava 1% da carteira. Recentemente, foi ampliada para a faixa de 8% dados os retornos encontrados no mercado, na faixa de CDI mais 5% a 6% ao ano.

Algumas das principais posições oferecem retornos ainda maiores. Uma debênture perpétua da Vale, por exemplo, prevê que parte das receitas obtidas em um grupo de minas da empresa seja distribuída aos debenturistas. O retorno final, segundo Parreiras, fica na casa de 8,5% ao ano mais a variação do dólar.

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Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney