Perfil “Nazaré Amarga”, com 14 milhões de seguidores nas redes, é acusado de aplicar golpe com cripto

Administrador da página teria criado e promovido uma criptomoeda nova que recebeu investimento de interessados, mas nunca foi lançada

Paulo Barros

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O dono do perfil de humor “Nazaré Amarga”, que conta com cerca de 14 milhões de seguidores no Twitter e no Instagram, está sendo acusado de aplicar um golpe utilizando criptomoedas.

Gabriel Marques, 28, administrador do perfil, teria ajudado a criar e a promover uma moeda digital desconhecida voltada para uma comunidade de internautas brasileiros. O projeto acabou não se concretizando e os compradores ficaram com um prejuízo avaliado em R$ 550 mil.

Marques teria convencido pelo menos 20 pessoas a entrar em uma lista de pré-venda de um token chamado MATH, que era promovido nas redes sociais pelo perfil “Nazaré Amarga”. Pelo investimento, os interessados enviaram criptomoedas para a carteira do projeto que, na verdade, pertenceria a Marques.

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À medida que os investidores iam aportando, Marques teria aumentado o mínimo de capital necessário para participar da oferta de tokens. A certa altura, o criador da criptomoeda teria sumido com os recursos, deixando os investidores sem nada.

O caso foi descoberto por ZachXBT, um usuário anônimo no Twitter conhecido por investigar golpes ligados ao universo das criptomoedas. Ele identificou o elo entre as transferências dos investidores e uma carteira de criptomoedas supostamente controlada por Marques.

Transações de criptomoedas são consultáveis publicamente em exploradores de redes blockchain, uma espécie de livro contábil online aberto em que é possível conferir o histórico de operações. O endereço das carteiras é visível, mas a identidade por trás delas, não.

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Perfil “Nazaré Amarga” tem 4,2 milhões de seguidores apenas no Twitter (Reprodução/Twitter)

O endereço da carteira responsável pelo golpe está tatuado nas costas de Marques, segundo foto publicada em seu perfil pessoal no Instagram, que agora está fechado. As transações envolvendo a carteira em questão foram confirmadas pela reportagem.

Segundo o perfil anônimo ZachXBT, o administrador da página “Nazaré Amarga” o procurou após o caso vir à tona, e supostamente devolveu o dinheiro aos investidores afetados. A reportagem também confirmou as devoluções por meio de consulta em blockchain.

Em nota enviada após a publicação desta reportagem, Marques afirma que se tornou um entusiasta do universo das criptomoedas há alguns meses, e que decidiu criar a nova criptomoeda MATH inspirado pelo sucesso da moeda meme PEPE. O projeto, diz, surgiu em uma parceria com o desenvolvedor de outra cripto inspirada em um meme, a TONKS.

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“Após as negociações, desenvolvemos uma página no Twitter para divulgação da $MATH e atrair seguidores da comunidade. Durante o processo estabelecemos as funções no negócio, onde eu seria responsável pelo marketing e promoção do produto e ele pela gestão operacional”, explica.

Marques admite ter iniciado a pré-venda dos tokens, mas que o evento teria ganhado, em pouco tempo, “proporções relevantes no segmento”. Diante da repercussão, ele alega que “o desenvolvedor e gestor da moeda não finalizou o produto como havíamos acordado e solicitou mais dinheiro” e, por isso, a moeda acabou não saindo do papel.

“Devido à urgência de retorno aos investidores, e a falta de confiança que me despertou no trabalho desenvolvido pelo criador da $TONKS, optei por pausar o projeto. Com o apoio de um grande influencer da comunidade  cripto, consegui devolver o dinheiro às pessoas que investiram”, conta, em referência ao contato realizado com ZachXBT.

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Golpe

O golpe do qual o dono do perfil “Nazaré Amarga” é acusado é chamado no meio cripto de “rugpull” (puxão de tapete, em tradução livre). Nesse tipo de fraude, o criador de uma criptomoeda promove o ativo digital para estimular investidores desavisados a comprarem, com o objetivo de inflar o preço do ativo. Em seguida, o fraudador despeja uma grande quantidade de unidades da cripto no mercado, secando sua liquidez — na prática, quem comprou fica com moedas virtuais que passam a não valer nada.

“Uma vez que o projeto é lançado e as pessoas compram, os ‘proprietários/fundadores’ vendem seus tokens ou retiram o dinheiro do projeto, deixando todas as pessoas sem dinheiro”, explica Estefano Debernardi, gerente de desenvolvimento de negócios Latam da CoinsPaid. “A moeda perde todo o seu valor em termos de dólar, o dinheiro simplesmente desaparece e as pessoas ficam sem nada, tornando-se muito difícil recuperar”.

Segundo especialistas, esse tipo de golpe é comum no meio pela intensa propaganda de criptoativos como forma de enriquecimento fácil, aliada à falta de conhecimento por parte dos investidores sobre os riscos envolvidos em colocar dinheiro em projetos suspeitos, como é o caso de criptos baseadas em memes (memecoins), como a MATH.

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Como se proteger

Debernardi, da Coinspaid, recomenda ao investidor estudar bastante antes de investir em criptomoedas, e duvidar de promessas de retorno mirabolantes. “Você deve recuar e pensar: se é tão bom, por que nem todos estão entrando nisso?”, comenta.

O assunto é complexo e pode levar tempo para entender o funcionamento da tecnologia, diz o especialista, mas é preferível ser cauteloso e se aprofundar no tema para saber filtrar as fontes de informação. “É verdade que existem coisas técnicas que você pode não entender ou compreender de primeira. Dê o tempo que for necessário e, quando você se aprofundar, estará mais calmo e tranquilo se algo acontecer”.

Paulo Barros

Editor de Investimentos