Para Mohamed El-Erian, governos se tornaram reféns de política monetária e investidores têm assumido riscos acima do desejado

Ex-CEO da Pimco e conselheiro econômico da Allianz encerrou Congresso Brasileiro de Mercado de Capitais nesta sexta-feira

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – No início da semana, o Peru emitiu títulos de dívida no mercado global com prazo de vencimento de cem anos com demanda acima da oferta, menos de um mês após o impeachment do presidente do país.

Segundo Mohamed El-Erian, conselheiro econômico da Allianz e ex-CEO da Pimco, a procura elevada pelo ativo, de investidores ávidos por risco, representa a clara desconexão na qual se encontra o mercado financeiro e os fundamentos econômicos no momento.

Essa distorção se deve à política monetária e fiscal adotada por países desenvolvidos ao longo da última década, afirmou El-Erian, ao participar do painel de encerramento do Congresso Brasileiro de Mercado de Capitais, realizado pela B3 e pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

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Diante da postura tida como assistencialista dos governos com os mercados nos últimos anos, os investidores se sentem hoje confortáveis para assumir riscos que talvez não deveriam assumir tendo em vista o quadro atual, mas tomam a decisão pela segurança de que os bancos centrais estarão sempre na ponta compradora, disse. “Tem muito risco sendo assumido agora com o mercado acreditando que qualquer erro será perdoado.”

O gestor, atualmente presidente da Queen’s College, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, comparou a situação com a de um médico que oferece medicamentos paliativos a um paciente à espera de uma cirurgia que nunca chega.

Com os programas trilionários de compra de ativos em vigor há tanto tempo, os bancos centrais têm medicado os mercados, com doses cada vez maiores dos paliativos, mas o problema não foi resolvido, afirmou.

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E essa liquidez ostensiva parece que não vai terminar tão cedo. Não porque os bancos centrais não queiram dar um fim a ela, mas porque o mercado deixa claro, a qualquer sinal de esgotamento dos estímulos, que a reação nos preços pode ser extremamente negativa, afirmou o especialista.

Rotação?

El-Erian tampouco mostrou-se muito empolgado com as notícias de uma vacina contra a Covid-19, principal razão para a alta recente nos mercados. Talvez ainda sejam necessários entre seis e nove meses até que a distribuição em massa da vacina comece de fato, afirmou.

Até lá, os obstáculos para a retomada da economia podem tirar parte do brilho esperado hoje com a imunização contra o coronavírus, prevê.

Nesse sentido, El-Erian disse que o investidor deve tomar cuidado com o movimento de rotação das carteiras visto nos mercados nas últimas semanas, de ações de crescimento para ações de valor, guiado pela expectativa positiva com a vacina.

“Quanto mais longa e mais difícil a jornada [até a vacinação], menos valor nas empresas mais relacionadas à volta ao trabalho.”

Além disso, alguns hábitos adquiridos no período de isolamento social, como as compras online, não vão sumir mesmo com a vacina, observou El-Erian.

O tempo urge

O conselheiro econômico da Allianz afirmou ainda que o ambiente de liquidez abundante tem beneficiado os mercados emergentes, com os investidores capitalizados em busca de retornos melhores que nas economias desenvolvidas.

Ele observou, contudo, que os recursos que estão se movimentando entre os mercados no momento não são capital de longo prazo.

E, a qualquer mudança de cenário, é um dinheiro que, tão rápido como chegou, pode ir embora, disse.

Por isso, os emergentes devem tentar arrumar a casa enquanto é tempo para, não se, mas quando uma mudança de ambiente acontecer, estarem prontos para conseguir segurar as pontas.

“Vimos o que aconteceu em março, e não foi agradável”, disse El-Erian, acrescentando que há mais capital de risco nos mercados emergentes agora do que no início do ano. Uma nova chacoalhada de preços diante de um novo choque, portanto, poderia ser ainda mais intensa, observou.

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