Para atrair recursos para prazos mais longos, Tesouro vai precisar aumentar prêmios, diz diretor do Banco Central

“Estamos falando de algumas dezenas de pontos-base, uma, duas, três dezenas”, afirmou Bruno Serra, durante live nesta quarta-feira

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Devido aos gastos extraordinários de combate ao coronavírus, a necessidade de financiamento do governo, por meio da emissão de títulos do Tesouro Nacional, aumentou em cerca de R$ 800 bilhões, segundo cálculos apresentados pelo sócio da gestora Panamby Capital, Reinaldo Le Grazie, em live nesta quarta-feira da Renascença DTVM.

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E os fundos de investimento, que sempre compraram esses papéis em montante suficiente para o bom funcionamento da máquina pública, não aumentaram o apetite no mesmo ritmo, observou Bruno Serra, sucessor de Le Grazie no posto de diretor de política monetária do Banco Central (BC).

Na avaliação da autoridade monetária, foi justamente esse descompasso uma das principais razões para a recente volatilidade que atingiu até os títulos públicos mais conservadores do país, caso do Tesouro Selic.

Segundo Serra, diante das medidas anunciadas no fim da semana passada de ajuste nas compras de títulos, com o encurtamento do prazo para atender à demanda do mercado e um limite a ser aceito em operações compromissadas, a tendência é de uma normalização do cenário.

“Alguns analistas sugerem que o Banco Central está forçando os participantes a comprarem título público [em detrimento às operações compromissadas]. Aqui não tem nenhuma forçação”, afirmou Serra, na live.

O diretor afirmou que o incentivo natural para os participantes saírem das operações compromissadas “overnight” em direção aos títulos públicos reside simplesmente no prêmio oferecido.

“A liquidez está disponível, a questão é quantas dezenas de pontos-base o Tesouro Nacional vai precisar pagar para tirar um pedaço da liquidez para levar para prazos mais largos.”

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Serra disse também que a volatilidade excessiva que acometeu os títulos públicos nas últimas semanas não é normal, e tampouco desejável, mas é compreensível, em face ao ineditismo do momento pelo qual estamos passando.

Ele lembrou ainda que a liquidez reduzida do Tesouro Selic, por ser um título que costuma ser carregado pelos investidores até o vencimento por questões tributárias, foi outro fator que contribuiu para o ajuste abrupto dos preços em setembro.

Por isso, o diretor disse que o BC trabalha junto ao mercado para aumentar a liquidez desses papéis, a fim de mitigar novas flutuações do tipo.

Ajuste de taxa

Serra afirmou também que a menor atratividade do Tesouro Selic não se explica apenas pelo nível dos juros oferecidos. Se fosse isso, disse, ocorreria uma saída generalizada de instrumentos financeiros de curto prazo do mercado local, o que não está sendo observado.

Dados do BC e da CVM apresentados pelo diretor apontam que os CDBs registraram captação líquida de R$ 474 bilhões nos 12 meses encerrados em setembro, enquanto outros R$ 174 bilhões foram direcionados à poupança, e R$ 150 bilhões, para fundos de renda fixa de curto prazo.

“São todas opções que remuneram menos que a taxa Selic”, afirmou Serra. Para voltar a um ponto de equilíbrio, disse o diretor, será preciso um ajuste do prêmio oferecido pelo Tesouro em relação à taxa básica de juros.

“O problema não são os 2%, mas o prêmio que o Tesouro precisa pagar acima da remuneração da taxa Selic”, disse Serra. “Estamos falando de algumas dezenas de pontos-base, uma, duas, três dezenas”, acrescentou.

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