Onde investir seu dinheiro para ganhar em um mundo pós-pandemia, na visão do Credit Suisse

Para o Credit Suisse, é hora de investir em commodities e ações de emergentes e fugir do dólar e dos títulos públicos

Mariana Fonseca

(Getty Images)

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SÃO PAULO – A recuperação global dos efeitos da pandemia do novo coronavírus pode começar apenas a partir do terceiro trimestre de 2021, na visão do Credit Suisse. Mas o banco de investimentos já enxerga e pratica um movimento de rotação de ativos: as ações de tecnologia e saúde, que apresentaram saltos ao longo do último ano, cedem espaço para as propriedades físicas (ou real assets).

Michael Strobaek, CIO do Credit Suisse, descreveu a situação econômica mundial e traçou suas projeções para diversas aplicações financeiras no evento Latin America Investment Conference, promovido pelo banco de investimentos.

China: grande líder econômico do pós-pandemia

Para Strobaek, “entramos em uma das depressões econômicas mais intensas e simultâneas da era moderna”. “Os efeitos foram cataclísmicos na economia, e cobraram ações de bancos centrais por todo o mundo.”

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O grande destaque na superação da crise na economia e na saúde foi a China. “O país mostrou o caminho não só na entrada, mas na saída da pandemia. Exibiu o que é preciso para controlar uma pandemia desse tamanho”, disse o CIO do Credit Suisse. O país teve crescimento de 6,5% no quarto trimestre de 2020. O Credit Suisse projeta alta de 17,8% nos três primeiros meses de 2021, ante o mesmo período de 2020. O resto da Ásia (excluindo Japão) deve ver expansão de 11,9% na mesma base de comparação. “Outros países asiáticos também tiveram atitudes excelentes nesse sentido, como Coreia do Sul, Taiwan e Vietnã. Mas o mundo ocidental não aprendeu muito com esses exemplos.”

Os Estados Unidos viram retração de 0,7% em 2020. Na Europa, a retração foi de 3,1%. Segundo Strobaek, a recuperação rápida do consumo que levou ao crescimento chinês não foi vista nas duas regiões ocidentais. “A pandemia ainda é prevalente e recuperaremos o que perdemos depois de alguns trimestres. Levará de um a dois anos para os países voltarem ao estágio que estavam antes de março ou abril de 2020. Teremos de viver meses de incerteza sobre as paralisações da atividade econômica, monitorando se elas continuarão ou não”, diz Strobaek.

O CIO do Credit Suisse afirma que a recuperação macroeconômica deve começar apenas no terceiro trimestre de 2020. Os bancos centrais devem continuar com estímulos e com altos níveis de endividamento, diante dos níveis elevados de desemprego. “A atividade econômica continuará em níveis similares aos dos últimos meses, abaixo das tendências anteriores à pandemia. Milhões ficaram desempregados por conta do vírus e das restrições de operação dos estabelecimentos. Levará um bom tempo para a taxa de desemprego cair”, diz.

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Rotação de ativos está no horizonte

Nesse cenário de superação lenta da pandemia e de estímulos monetários e fiscais continuados, como ficam as aplicações financeiras? O Credit Suisse destrinchou sua análise pelo tipo de investimento:

Títulos de renda fixa

Para Strobaek, as taxas de juros têm permanecido baixas por diversos trimestres no mundo e assim devem continuar em curto prazo. A inflação deve se manter benigna, acompanhando os níveis de atividade econômica.

“Não vejo como bancos centrais podem levantar taxas de juros nos países desenvolvidos hoje. Os estímulos durarão para além da pandemia, porque as taxas de desemprego continuarão altas, e os juros baixos entram nesse movimento [entenda a relação entre os juros e o crescimento da economia]”. O Credit Suisse estima que a taxa básica de juros americana deve ficar em 1,1% ao ano nos próximos três meses e em 1,3% ao ano em 12 meses, por exemplo.

Já em médio e longo prazo, investidores devem se atentar ao risco de aumento nas taxas de inflação. “Por exemplo, os Estados Unidos continuarão seus estímulos como forma de manter a economia girando e as pessoas empregadas. Essa decisão desafia as taxas de juros no longo prazo.”

Em linhas gerais, o banco de investimentos afirma que a performance dos títulos públicos deve ser pífia. Porém, ainda é possível encontrar oportunidades em títulos públicos de países emergentes ou papéis atrelados a moedas fortes.

O Credit Suisse não analisou a taxa básica de juros brasileira. Mas a projeção do banco de investimentos para o PIB do Brasil está em 4% em 2021 e a inflação em 5,3%. Em 2022, as estimativas estão em 2,9% para o PIB e 3,5% para a inflação.

A recomendação é neutra para a classe de ativos renda fixa global e não atrativa para títulos públicos. Títulos corporativos com bom investment grade (grau de investimento); títulos podres/de alto rendimento (high yield); e títulos de países emergentes (especialmente os asiáticos) são considerados atrativos.

Ações

“Tenho uma crença de que é importante ser contrário”, diz Strobaek. O Credit Suisse ampliou sua compra de ações enquanto observava “uma queda nunca vista nos mercados financeiros”, em março de 2020. “Decidimos comprar ações que tinham relação com as pessoas ficarem em casa ou com produtos e serviços dos quais as pessoas são dependentes. (…) O mercado financeiro logo chegou a uma conclusão de que os setores superariam a pandemia eventualmente. Alguns até ampliaram sua atividade, como tecnologia e saúde.”

Em 2020, o banco de investimento viu “a correção mais rápida no mercado de ações já registrada”, “seguida por um forte rali dos papéis”. Mesmo com a grande valorização geral dos ativos no mercado financeiro, o Credit Suisse continua saindo de títulos públicos e ampliando sua participação em ações. “Se as taxas de juros de longo prazo continuarem a subir, a rotação na alocação de ativos deve continuar. Não queremos ficar com títulos que depois serão corrigidos.”

Em termos de setores, o banco de investimento está saindo de tecnologia e entrando mais em mercados cíclicos, especialmente em países onde a pandemia está mais controlada. O banco recomenda ações de empresas financeiras e mais focadas em construção de valor no longo prazo, contra a preferência por papéis de alto crescimento vista em 2020. Outra recomendação são ações de países procíclicos, como os emergentes na Ásia.

O investidor deve colocar dinheiro em ações com cautela, mas a recomendação ainda é de overweight [compra]. “Nos próximos dois a três anos, ainda estaremos em um cenário de altas taxas de inflação. Você não pode estar underweight [reduzindo o peso da carteira] em ações. Aproveite reveses nos papéis para entrar nessa corrida. O rali de ações não ficará para sempre, mas vemos bons resultados enquanto os bancos centrais sinalizarem que vão manter os estímulos diante de taxas de desemprego tão altas.”

Para o Credit Suisse, ações de mercados desenvolvidos e de mercados emergentes são consideradas atrativas. Os países mais recomendados são Alemanha, Hong Kong (China), Ásia (exceto Japão) e Brasil.

Commodities, imóveis e ouro

Para o CIO do Credit Suisse, os ativos físicos (real assets) terão um desempenho superior ao de outras aplicações financeiras (outperform) daqui para a frente. Commodities, imóveis e ouro estão na lista de indicações do banco de investimento.

As matérias-primas negociadas em bolsa apresentam uma melhoria no crescimento de suas cotações, segundo o Credit Suisse. Recomendação destacada de outperform para o petróleo. O ouro também aparece com potencial de upside [valorização].

Câmbio

Por mais que o dólar tenha se valorizado em relação ao real ao longo de 2020, o Credit Suisse afirma que a moeda americana está em situação fiscal precária em comparação com outras moedas, como o euro.

O banco de investimentos diz que o dólar está em um movimento bearish [de desvalorização] e recomenda um movimento short [de venda] em relação à moeda.

O Credit Suisse está long [recomendação de compra] nestas moedas em países desenvolvidos: EUR, CHF, JPY, NZD, NOK e SEK. Nos países emergentes, o real brasileiro está entre as recomendações: CNY, KRW, BRL e RUB.

O dólar é considerado não atrativo, enquanto moedas de países emergentes foram classificadas como atrativas pelo Credit Suisse.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.