O novo alvo do Sniper da Bolsa: Localiza entra no fundo de apenas 2 ações que rendeu 331% em 5 anos

Neo Future, fundo voltado a investidores qualificados com alma de acionistas, mudou o portfólio neste ano

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Diversificação como ferramenta não é a praia do gestor Henrique Alvares, do Neo Future. Com alma de acionista, sua estratégia é examinar minuciosamente apenas 15 empresas que considera excelentes, em setores que oferecem altíssimo potencial de crescimento, para então selecionar os pouquíssimos papéis que comporão a carteira do fundo – no momento, apenas dois. Em geral, Henrique e sua equipe também participam dos conselhos das empresas em que investem, buscando auxiliar o crescimento sustentável do negócio. Tem funcionado: lançado em 2012, o Neo Future demonstrou a assertividade de um “sniper” ao oferecer lucro de 331% ao seleto grupo de 100 investidores que detêm cotas.

Em maio de 2017, Henrique contou em entrevista ao InfoMoney que as únicas ações dentro do fundo eram Anima e CVC. Antes disso, o Neo Future chegou a ter ativos da Bematech, as quais só saíram do fundo na ocasião da compra pela Totvs. Mas o cenário mudou: neste ano, os papéis da Anima deixaram o portfólio do “sniper da bolsa” e deram espaço a um novo alvo: a rede de locação de automóveis Localiza, que agora ocupa o fundo ao lado da operadora de turismo.

“A gente já vinha, como sempre vem, estudando opções. Tivemos boas conversas com os acionistas, entendemos que estamos imbuídos de um objetivo comum e tomamos a decisão de fazer um investimento na Localiza”, contou Henrique em nova conversa com o InfoMoney realizada em agosto deste ano. Ele e a trupe do Neo Future ainda não fazem parte do conselho da empresa, mas estão trabalhando para merecer esse posto. “Temos que ser convidados, só trabalhamos assim”.

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Por que Localiza

Antes de selecionar a ação que vai entrar no fundo, a equipe foca em identificar um mercado dinâmico, cujas características permitam expansão constante, além de sobrevivência no longo prazo. Isso vale para ambas as empresas do fundo: “viagem sempre vai existir, você ter que ir de A até B sempre vai existir”, comenta o gestor. “Não é o desafio de estar em um mercado que vai deixar de existir, mas sim o de ser o melhor”.

Ainda na escolha do setor, também considera importante identificar certa fragmentação entre os players – embora costume escolher as líderes de cada um – para que haja ainda mais espaço de captura de market share. Nesta frente, ele vê a Localiza com potencial de crescimento principalmente em aluguel de frotas, já que é inequívoca a liderança da empresa na locação de veículos em si.

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Após selecionar o mercado, a escolha da ação não é tão simples quanto identificar quem é a líder. Em uma quantidade não divulgada de encontros com os representantes de cada “candidata” ao fundo, a Neo busca entender o nível de congruência que os executivos e acionistas originais possuem com sua proposta. Entre os aspectos estudados estão, por exemplo, capacidade de adaptação ao futuro, congruência com a missão de negócio e a jornada da empresa ao longo do tempo – como diz Henrique: o filme, não a foto. “Não é um evento específico, sempre uma sequência de eventos que levam a uma determinada direção”.

Longo prazo

Também essa metáfora do filme é usada por Henrique para explicar tanto a saída do fundo da Anima quanto os resultados que espera das ações em que aposta. Sobre a educacional, o gestor é só elogios: considera a empresa especialista na formação de um aluno com perfil de gerente, e crava: “é disso que precisamos hoje em dia: formar mão de obra para pensar, e com escala”.

Dito isto, ele garante que a retirada da carteira é apenas uma “pausa” no vídeo, decisão tomada de comum acordo entre as partes: “chegou o momento da jornada da Anima que a gente ajudaria mais fora do que dentro”, diz. “Para quem vê de fora, é uma foto, uma decisão mais dura, mas quem viu o filme sabe que não acaba na conclusão”. Vale destacar que, ao longo do ano, as ações da Anima caíram cerca de 50% desde a máxima. Embora o gestor não tenha revelado o momento exato que a empresa deixou o Neo Future, pela performance do fundo é provável que a venda tenha sido feita antes ou pelo menos no início desta forte queda.

Já quanto aos resultados das empresas que fazem parte do fundo, a missão do gestor e sua equipe é entender – e fazer os cotistas entenderem também – a história como um todo, vislumbrando o futuro. “As pessoas estão com muita ansiedade, acham que tudo vai mudar nos próximos 90 dias – ou que nada vai mudar”, opina Henrique. Como a proposta do Neo Future é segurar apenas duas empresas e trabalhar para que elas cresçam, é necessário que o cotista compreenda quando houver uma aparente “demora” na reação dos papéis (e consequentemente o retorno do fundo).

A ação da Localiza (RENT3) viu queda de 7,75% no acumulado de agosto, o que totaliza resultado negativo em 0,45% desde o início de 2018. A situação da operadora de turismo CVCB3 no mesmo período parece ainda mais dramática: após a divulgação dos resultados trimestrais, os papéis despencaram. A queda no mês é de 4,35%; no acumulado do ano, a perda é de 11,71%. Nenhum desses números abala Henrique.

“É uma reação para um período de tempo muito curto. Se você olhar para essa dinâmica [queda das ações da CVC] em 12 meses, ela já não é verdadeira”, destaca. Nesta comparação, a RENT3 subiu 14%; a CVCB3, 9%. “O mínimo período que a gente tem para tirar uma conclusão de mercado é 12 meses”, sugere. Mais que isso, o foco não deve ser no passado ou no presente, mas sim na capacidade da empresa de gerar um crescimento (e um retorno) sustentável para o futuro.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney