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Caros(as) leitores(as),
O tão esperado momento da divulgação do arcabouço fiscal chegou. Certamente foi o tema mais discutido no mercado até aqui, e rendeu bastante dentro dos inúmeros grupos de gestores e analistas dos quais faço parte.
Costumo acompanhar esses fóruns na vírgula. Os representantes das maiores casas de investimento do País e fora estão lá, são bilhões de reais geridos por eles – e monitorar como está a “cabeça do mercado” é crucial, já expliquei nesta coluna como a grandeza “fluxo” é relevante para destravar (ou não) preço nos ativos financeiros.
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Porém, meu antigo chefe dizia: “Colla, mais importante que a mensagem é o mensageiro”. No meu início de carreira na área de análise, aprendi que as pessoas costumam opinar sobre muitos assuntos. Cabe a você passar o filtro do que realmente é relevante ou não.
Nas inúmeras trocas que tenho com gestoras de recursos e grandes investidores(as), carrego algumas regras de bolso comigo:
1- O “mensageiro” é gestor de fundo de ações mais tradicional (Long Only)? Então ele é naturalmente otimista.
2- É gestor de um fundo de ações mais flexível (Long Biased)? Segue otimista, mas com maior amplitude para, se quiser, ficar cauteloso.
3- Faz gestão de um fundo multimercado? Nesse caso, a liberdade é total, mas ele(a) provavelmente estará pessimista.
Isso posto, nesses momentos de passagens mais “macro” – justamente o caso do arcabouço fiscal – observo a opinião dos gestores multimercado com maior carinho. E no caso de gestores de fundos de ações, levo em consideração com maior relevância as opiniões que me surpreendam.
Os comentários que mais li e ouvi rondaram o título desse texto. Fundamentalmente, para essas gestoras, o Brasil não entregou grandes surpresas para ambos os lados, tanto o pessimista quanto o otimista.
Nós somos um verdadeiro aluno “nota 6”, ou seja, que é aprovado exatamente na média – para um grupo considerável, ficamos ligeiramente abaixo disso. Dito isso, ainda temos alguns ativos que estão absolutamente descontados, que podem gerar oportunidades de investimento ou, no limite, não motivarem uma posição vendida (ganha na queda).
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Ressaltam a visão de que não somos essa pechincha toda que muitos dizem por aí, mas que, para quem fizer um bom dever de casa, existirão oportunidades a bons preços, especialmente na Bolsa. Talvez o mesmo passe a valer para títulos do Tesouro atrelados à inflação de vencimento mais longo, que já estão apresentando taxas bem elevadas de remuneração.
Um contraponto a tudo isso que achei interessante: tentar dar uma “nota” para o Brasil é um erro. Esse arcabouço fiscal é retroceder todo o avanço institucional que o País conquistou nos últimos dois anos.
O “calabouço” fiscal (como a turma do lado mais negativo apelidou) enterra o teto de gastos de uma vez por todas e acaba com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao fazer isso, entrega um cheque em branco para o governo administrar como bem entender as despesas do País.
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Sintetizando: não conheço nenhuma casa que esteja otimista com o Brasil do ponto de vista institucional. Desconheço teses que defendam movimentos positivos para a região que sejam justificados por questões micro brasileiras. Tudo que li e ouvi de mais otimista foi fundamentado em movimentos macro globais.
É difícil dizer que os ativos brasileiros vão andar apenas por estarem “baratos”, essa dinâmica de valuation nem sempre se aplica tão bem a países emergentes – o que está descontado pode ficar ainda mais e por mais tempo. Pelo “livro texto” da análise fundamentalista, existem oportunidades de investimento dado o tamanho do desconto, mas nem todos terão a paciência ou o estômago para aproveitá-las. Essa turma deve concentrar o patrimônio fora do Brasil e não ter grandes posições no Brasil.
Aliás, muitos nem acreditam que esse risco seja tão interessante para ser “tomado”. Nem sempre é uma relação de prazo e psicológico. Às vezes a briga é tão complicada que nem vale a pena ser comprada.
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O que eu acho sobre tudo isso?
A gente sempre discutiu o fiscal brasileiro. Esse sempre foi um problema, talvez o maior deles.
Ao longo da pandemia, a discussão ficou ainda mais calorosa. Muitos diziam que a dívida brasileira sairia da pandemia próxima de 100% dívida/PIB, alguns ficavam mais próximos dos 90% (como era a nossa cabeça na área de análise) – terminamos com 75% com o país gastando muito. Se o teto não tivesse sido respeitado, teríamos algo como 72/71%.
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O que costuma equalizar o endividamento, ao passo que ele não exploda é a arrecadação e a “muleta” da exportação de commodities. Um mundo de desaceleração e, como consequência, baixista para as commodities é o que realmente preocupa.
De todo modo, sempre houve uma maneira de ganhar dinheiro nos mercados, especialmente na Bolsa. Selecionar bons ativos a bons preços, carregá-los por janelas mais longas até que o ruído pare de pesar e o fundamento seja o mandante do jogo. Diversificar a carteira ajustada ao seu limite de risco e aos seus objetivos ajuda a ser um sobrevivente.
Vou investir meu dinheiro ao longo de décadas, talvez você também tenha o horizonte ao seu favor. A regra mais importante nesse caso é a sobrevivência e a permanência no jogo. Perder menos é mais importante que ganhar mais.