O cenário é desafiador com o exterior – mas a grande questão para o Brasil é interna

São muitos os desafios no âmbito internacional, mas as reformas estruturantes nacionais serão o grande catalisador para o mercado brasileiro

Lara Rizério

(Shutterstock)

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Após um ano de incertezas tanto internamente quanto no cenário internacional, quais são as expectativas para 2019? Quais serão os principais temas macroeconômicos e políticos no ano que vem?

Começando pelo cenário internacional, os Estados Unidos enfrentarão a incerteza sobre o crescimento econômico. Após uma forte expansão em 2018, impulsionada pelos estímulos monetários e fiscal, o PIB americano deve desacelerar em 2019.

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O Fed vem subindo a taxa de juros e reduzindo seu balanço, vendendo títulos públicos, e o pacote fiscal do governo Trump não será replicado nos próximos anos, seja por um Congresso dividido ou pela forte expansão do déficit fiscal, histórica para períodos de crescimento econômico. No entanto, há risco de recessão? O Fed precisaria voltar atrás na política atual, e inclusive revertê-la? Os riscos são baixos.

Os indicadores mais recentes de confiança do empresariado e dos consumidores permanecem em patamares historicamente elevados, o mercado de trabalho continua gerando novas vagas em ritmo intenso (ao redor de 200 mil ao mês, na média dos últimos 12 meses), impulsionando o aumento da massa salarial.

Além disso, a taxa de juros básica ainda permanece abaixo da neutra, ou seja, continua expansionista e baixa, em termos absolutos e relativos. A pausa na guerra comercial com a China pelos próximos meses também deve servir de estímulo aos investimentos.

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Já na Europa, as questões políticas devem ser ponto-chave para 2019, pois haverá a definição sobre o Orçamento italiano, que fere os princípios atuais de convergência da dívida pública, e eleições e escolhas para importantes cargos na Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE), entre outros.

A nível nacional, a Alemanha pode passar pela definição do papel de Angela Merkel nos próximos anos, na transição de seu governo para um sucessor, que poderá não ser de sua coalizão de apoio. No entanto, apesar dessas incertezas, o cenário para o crescimento europeu em 2019 continua construtivo.

Fatores específicos afetaram o ano de 2018, como o escândalo de emissões de gases no setor automotivo, e não deverão ocorrer com a mesmo intensidade no ano que vem. O mercado de trabalho europeu continua gerando novas vagas e a taxa de desemprego mantém sua trajetória de queda. A taxa de juros permanece baixa e a liquidez ampla. Nesse ambiente, o BCE irá encerrar a compra de ativos em dezembro 2018, e deverá iniciar um ciclo de normalização da taxa de juros no segundo semestre de 2019.

Mas como ficará a China, outro importante pólo de expansão global? 2018 representou uma surpresa negativa para o crescimento chinês, dado que os estímulos dos últimos anos não foram amplamente revertidos. Além disso, o dados de alta frequência pouco mostraram dessa nova preocupação com o crescimento. A dificuldade de antecipar os efeitos das medidas implementadas tornam o cenário para 2019 mais incerto.

A China passa por uma transição na composição de seu crescimento, diminuindo a dependência nas exportações (saldo em conta corrente zerado após registrar superávit ao redor de 9% do PIB entre 2006 e 2010). Porém, o consumo interno ainda parece insuficiente para manter uma expansão acima de 6% do PIB. Com isso, o cenário para a China é de estabilização na taxa de crescimento entre 6% e 6,5% porém sem uma reaceleração no horizonte visível.

E como o Brasil será afetado por esse cenário internacional? Quais fatores domésticos estamos monitorando? Aqui, o risco é de excesso de confiança nos known knowns, sabermos que sabemos. A economia brasileira tem se destacado não mais pela magnitude da recessão mas sim pela mais fraca recuperação da história.

O consumo e o investimento permanecem abaixo do pico registrado antes da recessão (23% no caso dos Investimentos e 4% no Consumo). Assim, há amplo espaço para um forte recuperação cíclica em 2019 e 2020. Para que esse cenário benigno se materialize, uma reforma da Previdência, que coloque a trajetória futura da dívida pública em queda parece ser o principal fator. A Previdência no Brasil hoje é deficitária em mais de R$50 bilhões por ano e as projeções apontam para um aumento desse valor nas próximas décadas.

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No curto prazo, a reversão do déficit primário para um superávit ao redor de 2% do PIB será a sinalização de que as contas fiscais estão sendo ajustadas, dado que as restrições em relação aos cortes de gastos são relevantes e a dívida pública bruta já está acima de 70% do PIB, a maior para países com o mesmo rating que o Brasil. Mas para entregar essa reforma, o novo governo precisa constituir uma base de apoio no Congresso que permita maioria nas votações.

E esse é hoje o principal risco para o nosso cenário mais otimista, dado que os sinais correntes da transição política indicam para uma baixa adesão formal dos partidos ao governo Bolsonaro e uma estratégia de comunicação direta com a população e congressistas será desgastante e demorada.

Stephan Kautz é economista da NEO Investimentos

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.