Jovem de 18 anos cria hedge fund no seu quarto e tem mais de US$ 1 milhão sob gestão

Em entrevista ao InfoMoney, Mattox contou que a ideia surgiu após um curso de férias do Goldman Sachs em 2016

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – Aos 18 anos, o norte-americano Cole Mattox leva uma vida como a de qualquer outro adolescente: prestes a se formar no ensino médio, ele namora, gosta de sair com os amigos e pratica esportes. Mas sua paixão pelo mercado financeiro o incentivou aprender cada vez mais sobre o assunto e tomar uma atitude empreendedora: abrir um hedge fund (fundo multimercado) de dentro do seu quarto no subúrbio de Montclair, em Nova Jersey. A empresa que administra o fundo, criada por ele, se chama North Tabor Capital e já conta com investidores.

Em entrevista ao InfoMoney, Mattox contou que a ideia surgiu após um curso do Goldman Sachs que ele participou nas férias escolares de 2016. No ano seguinte, ele amadureceu o pensamento e em março fundou a North Tabor Capital, aos 17 anos. 

O jovem é bastante dedicado. Ele estuda na Escola Preparatória Seton Hall onde está fazendo o high school, que seria o equivalente ao ensino médio no Brasil, e fez um programa de curta duração na Escola de Negócios de Wharton na Universidade da Pensilvânia devido ao seu interesse em mercado financeiro. 

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Como tudo começou

Ele conta que queria trabalhar com o mundo financeiro desde muito jovem.”Quando eu era mais novo, perguntavam o que eu queria fazer um dia. Enquanto as respostas típicas variavam de policial e bombeiro a atleta profissional, eu dizia que seria investidor”, diz. 

Mattox começou a aprender sobre finanças com seu tio, que trabalhava na área de fusões e aquisições no Goldman Sachs – o que gerou a oportunidade de fazer o programa de férias chamado All Star Code. O curso de seis semanas ensina ciência da computação e habilidades de liderança. Ele acredita que esse programa deu a ele as habilidades técnicas fundamentais e a confiança que ele poderia assumir em tal desafio. 

Além disso, ele conta que pediu para os pais livros sobre finanças, investimentos, programação e algoritmos para aprender mais o mercado financeiro e como gerenciar hedge funds. “Foram muitas manhãs e madrugadas de dedicação para eu conseguir aprender tudo que precisava para abrir o fundo”, explica. 

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O livro “Principles” (Princípios, em tradução livre) do empresário e investidor Ray Dalio, é um dos favoritos do jovem. Ele conta ter decidido que, se pudesse abrir um hedge fund no ensino médio, isso poderia ajudá-lo na admissão em boas faculdades.

Também se dedicou a desenvolver uma rede de networking própria. Ele se aproximou de outros jovens que também eram ligados ao mercado financeiro: Jacob Wohl e Kai Jensen ambos de 20 anos. Mattox conversou com Wohl pela primeira vez por telefone e o conheceu pessoalmente quando viajou para Los Angeles. Wohl é agora um dos membros do Conselho de Administração da North Tabor Capital. Já Jensen era um amigo de muito tempo. 

“Cole comentou comigo sobre um algoritmo que estava criando. Foi bastante genial, na verdade. De qualquer maneira, me interessei e mais tarde ele me convidou para uma posição de tempo integral na empresa”, afirma Jensen ao InfoMoney. Ele é diretor da North Tabor Capital e ajudou no planejamento estratégico, no balanceamento de portfólio e no gerenciamento da qualidade da informação. 

Além dos três jovens, a empresa conta com mais três integrantes mais experientes que ajudam na administração da empresa.

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North Tabor Capital 

A empresa fica dentro do quarto de Mattox, e ainda não possui um espaço físico oficial. Todos os integrantes trabalham de forma remota. “Acabei de comprar um terminal da Bloomberg [que permite o acompanhamento do mercado financeiro] e certamente tenho todo o equipamento necessário e ainda mais para operar”, diz. 

Com a criação da empresa que gerencia um único hedge fund no ano passado, o jovem explica que hoje está com cerca de 5 clientes. Ele afirma que não pode revelar os nomes ou quanto investiram por razões legais e de privacidade. Mas revelou que todos são amigos e familiares. 

Todos os investidores do fundo são credenciados pela SEC (US Securities and Exchange Commission, que atua como a CVM brasileira). Isso significa que eles têm renda mensal de mais de US$ 200 mil ou patrimônio líquido total de mais de US$ 1 milhão, excluindo o valor de sua residência principal.

Mattox diz que ele tem mais de US$ 1 milhão em ativos sob gestão e, embora não tenha informado quanto está lucrando, afirma que “é mais que suficiente para um adolescente”. Negociar e administrar finanças é algo que Mattox acredita fazer bem. “Isso me deixa realizado e eu gosto de matemática e estatística, mas, ao mesmo tempo, eu encontrei algo em que eu era bom. Isso me deixa feliz”. 

Ele afirma que todos os investidores do fundo entraram em contato ativamente. “Todos  me procuraram. Não busquei ativamente ninguém, embora vou começar a fazer isso mais para frente”,  explica. Seu primeiro investidor foi um amigo da família que sabia de suas ambições. De lá, para cá “tudo foi de boca em boca”. Os pais dele não são clientes. 

Vale lembrar que os hedge funds dos EUA são diferentes do que se tem aqui no Brasil. Em comparação, o fundo de Mattox seria o equivalente genericamente a um fundo multimercado disponível no mercado nacional. Essa categoria de fundo nos EUA é responsável pela gestão de mais de US$ 3 trilhões, segundo uma análise feita pela Hedge Fund Research. Na prática, é possível investir em praticamente qualquer classe de ativo por meio desses fundos, que possuem uma taxa de administração e performance pagas pelo investidor. A premissa desse tipo de fundo é buscar o máximo de retorno positivo independente das condições de mercado, segundo Mattox.  

“Eu decidi focar nessa categoria do mercado financeiro, porque embora seja lucrativo, também é dinâmico e nos obriga a aprender e se adaptar constantemente”, afirma.

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Desafios 

Para ele, a parte mais difícil de administrar a empresa é ser levado a sério aos 18 anos, porque isso significa administrar as relações com clientes. Mesmo os investidores tendo vindo até ele, foi preciso convencê-los de que ele era qualificado para administrar seu dinheiro. 

“Algumas pessoas têm dado muito apoio e ficaram impressionadas com o que eu estou fazendo, mas outras pessoas me dispensaram. Mas minha família sempre me apoiou. Eles são muito compreensivos incluindo quando se trata do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e estão dispostos a ajudar quando necessário”, diz Mattox. 

Uma das primeiras pessoas para quem o jovem contou que queria começar hedge fund hoje trabalha em um grande fundo e é advogado. “Ele olhou para mim e riu na minha cara. Disse que quando eu tivesse 40 anos e um MBA eu poderia abrir”, conta. Ainda assim, o empreendedor não desistiu e seguiu em frente com a ideia.

Mattox conta que, embora no começo tenha sido difícil, hoje se adaptou bem ao ritmo escola, trabalho e vida social. “Às vezes é muito difícil lidar com a escola e o namoro e o fundo, mas as pessoas ao nosso redor entendem que estamos comprometidos com esse negócio e precisamos fazê-lo funcionar”, afirma o CEO da empresa. 

Segundo o sócio Jensen, o próximo passo daqui para frente é atrair mais clientes para ter o capital para executar estratégias mais complexas – rentáveis. 

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.