Eleições 2018: Quais os impactos nos investimentos?

Com mais de um ano para o pleito e uma infinidade de fatores imprevisíveis, os investidores precisam analisar os cenários mais prováveis para surfar a onda de incertezas com ganhos

Weruska Goeking

Disputa eleitoral teve grande influência no indicador neste mês

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SÃO PAULO – Em meio às incertezas com reformas políticas e retomada do crescimento econômico, um acontecimento começa a ganhar cada vez mais influência sobre as decisões de investimentos: as eleições de 2018. Pré-candidatos à presidência já começaram suas buscas pela simpatia dos eleitores – e pelos votos – com viagens e discursos à imprensa.

Com mais de um ano para o pleito e uma infinidade de fatores imprevisíveis, os investidores precisam analisar os cenários mais prováveis para surfar a onda de incertezas com ganhos. “Se não houvesse tanta incerteza, os investidores poderiam fazer planos mais estruturais, principalmente nos fundos de investimentos”, destaca Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, que destaca a dificuldade de planejar os investimentos de olho no cenário eleitoral quando ainda não há candidatos oficiais.

“As primeiras grandes fontes de incertezas é que não sabemos quem são realmente os candidatos. Em segundo lugar, temos um candidato muito forte e que não sabemos se vai poder se candidatar ou não, que é o Lula. Ele está com uma retorica que só levou ele a derrota em eleições anteriores: mais agressiva e radical. É muito diferente do que ele adotou em 2002 e 2016 e pode o assustar mercado financeiro se ele seguir na campanha desse jeito. Ele pode chegar no segundo turno com relativa facilidade”, afirma Buccini.

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Uma forma eficiente para traçar cenários eleitorais e, por consequência, para os investimentos é acompanhar as pesquisas de intenção de voto. No levantamento mais recente do Datafolha, divulgada em junho, o ex-presidente Lula (PT) segue líder nos cenários de 1º turno da eleição de 2018, com Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede) em destaque tanto na disputa pela segunda colocação nos cenários contra o petista quanto pela liderança quando Lula não aparece como candidato.

Entre os nomes do PSDB, Geraldo Alckmin e João Doria têm preferência semelhante, mas o governador de São Paulo é mais conhecido e rejeitado que o prefeito da capital paulista.

Estudos focados no mercado financeiro também podem ajudar na estratégia de investimentos pré-eleições. Um pesquisa realizada pela XP Investimentos com 168 investidores institucionais mostra que o candidato à presidência mais cotado para vencer as eleições em 2018 é aquele com perfil reformista.

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 O levantamento apontou que o atual prefeito de São Paulo, João Doria, foi indicado por 42% dos entrevistados como o mais provável vencedor da eleição, seguido pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com 38%.

“Isso conversa bastante com o quadro atual do país, com diversas medidas reformistas sendo aprovadas no Congresso, e a população compreendendo a importância de mudanças e de um Estado menor”, avalia a XP.

Para 80% dos entrevistados, o vencedor dever ser um dos dois nomes mais cotados do PSDB, João Doria e Geraldo Alckmin. O ex-presidente Lula (PT) é o terceiro mais apontado, com 6%, seguido por Jair Bolsonaro (PEN) com 3%, Marina Silva (Rede) também com 3%, Álvaro Dias (Podemos) com 2%. Outros nomes foram apontados por 6% dos pesquisados.

“O Bolsonaro, com retórica nacionalista e pouco atrativa para investidores, também seria ruim para os investidores. O pior cenário para os investimentos seria um candidato de extrema esquerda ou de extrema direita”, observa Buccini.

A XP Investimentos destaca, em relação à metodologia utilizada, que o entrevistado foi perguntado sobre quem acredita que “será” o vencedor, e não em quem “ele votará”, para identificar o cenário que julga ser o mais provável.

Cenários para a bolsa 

A pesquisa da XP também procurou entender o que investidores enxergavam de cenários para bolsa de valores brasileira, caso cada candidato questionado saísse vitorioso da disputa. Tanto para Doria, quanto para Alckmin os entrevistados enxergavam o Ibovespa avançando. Nos cenários de candidatos de visão contrárias às reformas, o Ibovespa recuaria.

Estimativa dos investidores institucionais para o Ibovespa em caso de Lula presidente em 2018:

Se o ex-presidente Lula sair vencedor das eleições em 2018, os investidores apontam um desfecho negativo para bolsa, com 96% deles indicando que o Ibovespa recuaria do patamar atual. Chama a atenção o fato que 18% apontam uma queda para abaixo de 40 mil pontos, o que representaria cerca de 40% de queda do Ibovespa, algo próximo dos 42% de queda na crise de 2008.

Para mais de 80% o Ibovespa recuaria para baixo de 55 mil pontos, ou seja, investidores enxergam ao menos uma queda de 17% no índice. Apenas 4% acreditam em uma alta do índice com Lula vencendo.

Para o economista-chefe da Rio Bravo, a eventual candidatura de Lula “transcende a política econômica”, uma vez que o petista pode se cercar de profissionais que sigam uma política econômica mais ortodoxa.

No entanto, as implicações éticas nas quais o ex-presidente está envolvido pode se mostrar um obstáculo maior do que o ceticismo do mercado em seu primeiro mandato. Em setembro de 2002, um mês antes das eleições presidenciais, o Ibovespa despencou 17% com o receio dos mercados financeiros ante a iminente vitória de Lula.

Dessa vez, o impacto nos mercados financeiros de uma eventual candidatura forte de Lula. “Os mercados sofreriam numa eventual eleição dele, mas não na mesma magnitude que 2002”, destaca Buccini. Do outro lado, não haverá “carta ao povo brasileiro” – feita por Lula naquele ano – capaz de acalmar os mercados frente ao temor e incertezas de um eventual terceiro mandato, segundo Buccini.

A consultoria de risco político Eurasia Group acredita ser improvável que o petista possa concorrer devido a questões legais e também por enfrentar altas taxas de rejeição.

Estimativa dos investidores institucionais para o Ibovespa se João Doria se tornar presidente em 2018:

Para mais de 58% dos investidores entrevistados, o Ibovespa avançaria para cima de 80 mil pontos em caso de vitória do prefeito de São Paulo, uma alta de 20% no índice. Apenas 6% acreditam em uma queda do índice com Doria vencendo.

 “É difícil especular com tanta antecedência, mas o efeito de Doria como possível presidente deve ser positivo, uma vez que ele se cerca de pessoas capacitadas em várias das pastas. Resta saber a chance de vitória dele. Caso ele suba nas pesquisas seria um cenário bom para investimentos”, avalia Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo.

A Eurasia aponta que o seu cenário base é o de que um candidato pró-reformista com credencial “anti-establishemnt” surja e vê João Doria como esse nome atualmente. 

Estimativa dos investidores institucionais para o Ibovespa se Geraldo Alckmin for eleito presidente em 2018:

Para mais de 75% dos entrevistados, o Ibovespa avançaria para cima de 70 mil pontos, sendo que 26% dos investidores enxergam ao menos uma alta de 20% no índice. Apenas 12% acreditam em uma queda do índice com Alckmin vencendo as eleições presidenciais de 2018.

“O Alckmin é um pouco menos claro do que o Doria sobre o que ele acredita em termos de economia. Ele parece ser uma pessoa pragmática em muita coisa e é difícil saber se ele se cercaria de economistas mais ligados a uma corrente liberal ortodoxa, economistas que acreditam num livre mercado e políticas mais horizontais”, avalia o economista-chefe da Rio Bravo.

Para a Eurasia, o risco real nas eleições de 2018 é um cenário no qual o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, classificado pela consultoria como “Hillary Clinton do Brasil”, seja o único candidato a defender a causa reformista. Isso porque Alckmin seria visto pelos eleitores como um político tradicional em uma eleição definida pela oposição ao “establishment”. Nesse cenário de recusa aos políticos tradicionais, os candidatos anti-reforma podem ser mais competitivos.

Estimativa dos investidores institucionais para o Ibovespa se Jair Bolsonaro for eleito presidente em 2018:

Para mais de 59% o Ibovespa recuaria para baixo de 55 mil pontos caso Bolsonaro fosse eleito presidente, ou seja, investidores enxergam ao menos uma queda de 17% no índice. Apenas 12% acreditam em uma alta do índice com Bolsonaro vencendo.