Conteúdo editorial apoiado por

No Japão, desempenho da Bolsa piora e preocupa investidor: janela para lucrar com ações acabou?

Sensação do 1º semestre, índice Nikkei 225 recuou mais que S&P 500 no 3º trimestre — mas governo tenta manter luz no fim do túnel acesa

Equipe InfoMoney

(Getty Images)

Publicidade

Analistas olhavam com otimismo a bolsa do Japão após um primeiro semestre de 2023 de recorde. Índice de ações de referência japonês, o Nikkei 225 bateu 33 mil pontos, o maior patamar em três décadas, e fechou o período com alta de 27,19%, contra 13,03% do S&P 500, índice dos Estados Unidos. Porém, até aqui neste segundo semestre, a história é outra.

O Nikkei 225 encerrou o terceiro trimestre com perdas de 4,01% e iniciou o quarto final do ano também em baixa, com saldo negativo de 0,26% no fechamento da sexta-feira (6). O desempenho dessa vez foi ligeiramente inferior ao do S&P 500, que caiu 3,65% no terceiro trimestre, em linha com as perdas registradas pelo ETF (fundo de índice) MSCI All Country World Index, que foram de 3,72% na mesma janela.

Apesar da perda de força, o principal fator que impulsionou as ações japonesas na primeira metade de 2023 segue presente: ao contrário do resto do mundo, o país segue com uma política monetária mais frouxa, com direito a pacotes de estímulo econômico e taxas de juros negativas.

Continua depois da publicidade

Em setembro, o Banco do Japão (BOJ) manteve os juros ultrabaixos e sustentou o compromisso de continuar a estimular a economia até que a inflação atinja de forma sustentável a sua meta de 2%. “Ainda temos que prever a inflação de forma estável e atingir de forma sustentável o nosso preço-alvo. É por isso que devemos manter pacientemente uma política monetária ultraflexível”, disse Kazuo Ueda, presidente do BOJ, em coletiva de imprensa.

A decisão do Banco do Japão mais uma vez contrastou com a dos bancos centrais dos EUA e da Europa, que em reuniões recentes sinalizaram a sua determinação em manter os juros elevados para controlar a inflação.

Até então, o custo mais barato do dinheiro era o principal responsável pela tomada de dianteira nas ações japonesas. Mas, se o mesmo cenário de juros se manteve por que as ações pararam de responder?

Continua depois da publicidade

A explicação pode estar ligada a uma mudança de expectativas: a política monetária do Japão descompassada do resto do mundo, afinal, pode estar com os dias contados.

Recalculando rota

Assim como no resto do mundo, os títulos do governo japonês vêm despencando de preço acompanhando a disparada nas remunerações que países como os EUA passaram a oferecer. Com isso, aumenta a pressão sobre o banco central japonês para aumentar o limite máximo da curva de rendimentos e se preparar para o fim da política de taxas de juros negativas.

As expectativas do mercado de que o Banco do Japão esteja mais perto de aumentar as taxas de juros levaram os rendimentos da dívida do país atingirem o nível mais elevado em uma década. Retornos de títulos de cinco anos subiram para 0,34% ao ano, e os papéis de 10 anos atingiram remuneração anual de 0,8%, níveis vistos pela última vez em 2013.

Continua depois da publicidade

Na sexta-feira (6), o BOJ conduziu uma operação para fornecer liquidez aos bancos, sinalizando a intenção de manter as taxas de juros sob controle. Em paralelo, o governo parou de negar em público que pode intervir no câmbio, após o iene despencar para o menor valor em um ano frente ao dólar.

Os esforços para não mexer nos juros, no entanto, podem ser em vão. Com os rendimentos da dívida nos EUA subindo de forma mais acelerada, a turbulência aumenta e levanta preocupações de que os investidores exigirão taxas mais elevadas também para financiarem o governo japonês.

“Parece que o terreno está sendo criado nos mercados de taxas para se aproveitar da vulnerabilidade do Banco do Japão, do Ministério das Finanças e do governo”, disse Shoki Omori, estrategista-chefe da Mizuho Securities, à Bloomberg. “A desordem política nos EUA irá aumentar não só os rendimentos de treasuries, mas também dos títulos japoneses, e não será fácil para o BOJ impedir isso”, falou.

Continua depois da publicidade

Luz no fim do túnel?

Na bolsa japonesa, agentes de mercado se mexem diante da expectativa de fim dos juros negativos, afetando o desempenho do Nikkei 225. Após abrir a última semana próximo do patamar recorde de 33 mil pontos, o índice passou a ceder e fechou em 30,994 pontos, perda de 0,26% na sessão.

Enquanto isso, o governo testa novas armas para segurar a Bolsa. A nova aposta envolve apostar no trânsito do primeiro-ministro e ex-banqueiro Fumio Kishida com o mercado, e promover eventos para tentar convencer a população de alta renda a tirar uma fatia maior dos 2,1 trilhões de ienes da poupança para aplicar em ações.

Em um desses encontros, Larry Fink, CEO e chairman da BlackRock, foi enfático ao elogiar a condução do país pelas mãos de Kishida, e apelou para a memória de alguns potenciais investidores presentes.

“A história está se repetindo. O Japão está passando por uma série de transformações econômicas extraordinárias, que remontam o milagre dos anos 1980”, disse em uma mesa redonda que contou com a participação do primeiro-ministro, na sexta-feira (6). “Espero que este milagre dure muito mais tempo”, acrescentou.

Como investir no Japão?

Corretoras que oferecem conta internacional a brasileiros ainda não permitem compra direta de ativos no Japão, então o caminho mais fácil de expor à bolsa nipônica é por meio de ETFs (fundos de índice).

A BlackRock tem dois produtos que espelham o índice de ações MSCI Japão: o iShares MSCI Japan (EWJ), que também espelha a variação do iene frente ao dólar; e o iShares Currency Hedged MSCI Japan (HEWJ), que não oferece exposição ao câmbio.

Há ainda o ETF Betabuilders Japan (BBJP), do JP Morgan, que rastreia uma cesta com as principais ações da Bolsa japonesa, incluindo exposição ao iene.

(Com agências)