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No cabo de guerra da renda fixa americana, taxas e preços das Treasuries dividem especialistas

JP Morgan acredita que os títulos são o melhor ativo no momento, enquanto WHG alerta para risco fiscal deixado de lado; entenda

Monique Lima Wellington Carvalho

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A renda fixa dos Estados Unidos é a grande oportunidade do momento, atrativa não apenas pelo alto rendimento entregue com juros e cupons, mas também pela expectativa de valorização do preço dos títulos quando as taxas começarem a cair. A opinião é de Marina Valentini, estrategista global do JP Morgan.

Segundo Marina, o banco espera um pouso suave da economia dos Estados Unidos. Com isso, os analistas veem espaço para um corte de juros em 2024, que iniciará um movimento de apreciação dos preços dos títulos devido à marcação a mercado.

Juros em 5,5% nos Estados Unidos são muito altos. Tem espaço para corte e, ainda assim, as taxas vão continuar altas. Isso é um impulsionador para os preços”, diz Marina.

Segundo cálculos do JP Morgan, um corte de 1 ponto percentual nos juros americanos resultaria em um retorno total dos títulos (rendimentos mais variação de preços) de 11%.

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Albano Franco, diretor e gead de crédito da gestora SPX, diz que essa pode ser a década da renda fixa internacional. “Há dois anos, o mundo tinha U$ 17 trilhões em títulos de renda fixa pagando juros negativos, relembra. “Hoje está todo mundo pagando juros positivos e bem gordinhos”.

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Na visão de Franco, está especialmente atrativa a taxa real de juros de cinco anos nos Estados Unidos, em torno de 2% ao ano – um nível com o qual o mundo global desenvolvido não está acostumado a trabalhar, detalha.

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“Nós, brasileiros, estamos acostumados [à renda fixa com juros altos], mas, lá fora, não estão. Agora, devem querer surfar [este novo cenário]”, completou o gestor, sinalizando que a opção deve ser observada pelos investidores daqui independentemente do cenário doméstico.

Marina e Franco participaram de painéis sobre investimentos na Expert XP 2023, realizada na última semana.

Há controvérsias

Já para a gestora de fundos WHG, a perspectiva para as Treasuries não é tão positiva quanto indica o cenário pintado por Marina e Franco.

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Este é o terceiro ano seguido em que os títulos americanos acumulam retorno negativo, diz Andrew Marc Reider, CIO da WHG. A razão também é a marcação a mercado: se quando as taxas recuam os papéis de renda fixa valorizam, quando elas sobem – como aconteceu agora em 2023 – os preços caem.

Para ele, existe um contexto negativo que não recebe tanta atenção do mercado: a condição fiscal dos Estados Unidos.

“Alguns anos atrás, no Brasil, não se falava de contexto fiscal no meio financeiro. Era tido como um assunto chato, de pouca importância. Atualmente, nos Estados Unidos, ocorre mais ou menos o mesmo. Entretanto, a situação do país está ficando pior”, disse Reider.

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Para a gestora, a trajetória da dívida pública americana, somada ao volume de emissão de novos títulos, é negativa. Além disso, os dois polos políticos das eleições de 2024 não trazem propostas que avançam no contexto fiscal.

De um lado, os Republicanos prometem corte de impostos. Do outro, os Democratas focam em mais gastos públicos para impulsionar a economia.

Para qualquer lado que se olha a perspectiva é de deterioração do cenário fiscal, o que significa um risco alto, principalmente para os títulos mais longos”, afirma o executivo.

A gestora tem uma visão mais positiva para as ações, que se mantêm resilientes neste ano. “As empresas são fortes e a bolsa está atrativa”, afirma Reider.