Mercado não precifica “república das bananas” após eleições, mas ainda falta coragem para apostar em queda de juros, diz Stuhlberger

Em eventual vitória de Lula (PT), gestor do fundo Verde diz que é possível esperar mais inflação e mais juro nominal - de resto, agentes estão no "escuro"

Bruna Furlani

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Ao olhar para os preços atuais, o mercado não parece ter precificado o risco de que haja uma crise logo após as eleições, na avaliação de Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde e CEO da Verde Asset, uma das gestores mais renomadas do país.

Para o executivo, há um risco que não foi possível de ser precificado até então em câmbio e Bolsa, se o candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ganhar por uma pequena diferença.

“Eu acho que os mercados não precificam o banana republic [república das bananas]”, afirmou Stuhlberger nesta quarta-feira (3) durante painel da Expert XP 2022,  em São Paulo  — inscreva-se aqui para acompanhar as palestras online ou presencialmente.

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O painel também contou com a presença de André Jakurski, sócio-fundador e diretor da JGP, juntamente com João Landau, sócio-fundador e gestor macro da Vista Capital.

Na avaliação do gestor do Verde, se Lula ganhar, o cenário tende a ser mais delicado porque o candidato tem uma tendência maior a aumentar os gastos fiscais, o que deve pressionar a inflação e a taxa de juros. “Dá pra dizer que teremos mais inflação e mais juro nominal”, afirma Stuhlberger. De resto, porém, ele destaca que o mercado está no “escuro”.

Com medo do que pode ocorrer após o resultado das eleições, o gestor da Verde conta que não tem “coragem” de ficar aplicado em prefixados (apostando no recuo dos juros), porque essa parte da curva está “muito explosiva”. Apesar do maior pessimismo, ele diz que não abandonou alocações em Bolsa brasileira. “Temos uma posição relevante. Não tenho prefixado e nem venda de câmbio. Tenho Bolsa, porque, no limite, é um ativo real. É o melhor lugar para estar porque todos estão vendendo”, destaca.

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O cenário eleitoral também não é o mais animador, na visão de Landau, da Vista Capital. Mas isso não deve afetar muito a visão do “gringo”, diz. Para ele, o estrangeiro está focado agora no ciclo e o Brasil pode se beneficiar bastante de um momento mais favorável para commodities, com o país “ganhando de WO” em relação a outras nações.

“Brasil é o foco do gringo. Temos uma democracia. Temos espaço e tamanho para investir”, observou o gestor.

De olho nas commodities, o executivo da Vista diz que segue com uma posição relevante em petróleo. Embora admita que a commodity é bastante sensível à demanda, o gestor observa que, se a recessão for pequena, a commodity tende a ter um bom desempenho.

Já se houver uma recessão mais profunda, o petróleo pode sofrer mais. Nesse sentido, a casa acompanha o risco de recessão com bastante atenção para entender para onde deve ir a commodity.

De olho na China

Outra fonte de temor está na China. Landau afirma que prevê duas possibilidades para a nação agora: o caminho do comunismo ou o caminho do consumismo.

Em ambos os casos, o cenário é negativo para metais, especialmente para o minério de ferro, que deve ser bastante afetado pela queda na demanda chinesa, pondera o especialista da Vista Capital.

O gestor também chama a atenção para o fato de que cerca de 25% dos imóveis do país estão vazios e que a China não deve depender mais de investimentos em propriedade, o que pode afetar a demanda de outras commodities.

Jakurski, da JGP, também está mais pessimista com o gigante asiático, ao destacar que o “pico da China” já teria passado. Na avaliação do executivo, a nação pode ser afetada negativamente pelo mesmo fenômeno que impactou o Japão – que, no passado, era um dos países que mais atraíam os investidores pelas perspectivas de crescimento. Isso, no entanto, se perdeu ao longo do tempo. A desaceleração da China, em sua visão, é fonte de preocupação e deve fazer com que os países busquem inimigos externos.

Nesse sentido, o aumento das tensões geopolíticas pode fazer com que cresça o protecionismo americano em relação aos produtos chineses, afirma Stuhlberger.

Na avaliação do gestor do Verde, a recente tensão geopolítica entre Estados Unidos e China pode levar os americanos a tentar não depender mais do gigante asiático, embora o executivo avalie que a visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, a Taiwan ontem (2) tenha sido “contida”.

Atenção ao Fed

Além da China, o cenário de juros mais elevados nos Estados Unidos vem despertando preocupação entre os gestores. Para Jakurski, os últimos discursos feitos por dirigentes do Federal Reserve (Fed, banco central americano) nesta semana reforçaram que as taxas terão que subir mais do que o estimado por Jerome Powell, presidente da autoridade monetária americana, após a reunião da semana passada.

Segundo o executivo da JGP, a correção na fala se mostra necessária, já que não será possível desacelerar a inflação com uma taxa de juro real que se mantenha negativa. Na sua visão, a postura de Powell parece reforçar a ideia de que a inflação deve cair por si só, como “num passe de mágica”.

“A lógica diz que terá que subir o juro para 3,5% ou 4%”, avalia o gestor da JGP. “Vai ser um processo de tentativa e erro. Todos os bancos centrais estão abandonando o forward guidance. Não é possível mantê-lo com o nível atual de inflação”, completa Jakurski.

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