Menos risco em ações, mais em crédito: as apostas de Felipe Guerra e Leonardo Ono, da Legacy, para enfrentar a turbulência

O episódio 38 do podcast Outliers explora os cenários do mercado de dívida na composição das carteiras de investimentos

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Se 20 anos atrás o mercado de crédito era “quase inexistente”, nas palavras de Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy Capital, hoje é um dos caminhos com mais oportunidades de ganho, em sua visão.

Felipe Guerra, sócio fundador e CIO da empresa, explica: a desorganização, quebra de confiança e recessão no Brasil resulta em inflação. “A gente prefere ter menos risco em ações e mais em crédito. Até a recessão contaminar essas empresas, tem um carregamento interessante para surfar pela frente”, acredita.

O posicionamento dos gestores foi tema do 38º episódio do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, gestor de fundos da família Selection na XP, acompanhado de Carol Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP, e Lucas Collazo, analista de fundos e estrategista de alocação da Rico Investimentos.

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Eles e os convidados falaram sobre os cenários macroeconômico brasileiro e internacional, bem como a respeito do impacto desse panorama nos mercados de renda fixa e crédito privado. Além disso, pontuaram as oportunidades que a conjuntura brasileira, em uma visão micro, apresenta para o investidor.

Conjuntura internacional

Globalmente, Guerra vê a economia em um ciclo de expansão, que foi atrapalhado pela pandemia. “A quantidade de estímulos monetários é muito relevante. Tem várias empresas com lucros extraordinários, e a gente não vê algo que seja capaz de interromper essa vitalidade”, explica. Por isso, ele aloca em posições de países desenvolvidos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

Em paralelo, o CIO pensa que os juros ainda estão muito baixos no mundo e vai haver uma abertura. Além disso, observam-se as bolsas subindo, porque, segundo ele, o retorno sobre capital ainda está muito acima do custo. Com o tempo e a retirada de estímulos econômicos, seguindo essa linha de raciocínio, haveria um episódio de recessão – em 2025. “A não ser que aconteça alguma coisa um pouco mais grave”, pondera.

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De acordo com Guerra, existem alguns fatores que poderiam encurtar esse ciclo previsto por ele. Primeiro, a China poderia “errar a mão” no setor imobiliário, responsável por algo como um quarto a um terço da economia do país. “O risco é todo para baixo. Isso pode provocar uma desaceleração e uma demanda global menor por commodities”, prevê.

Outros pontos de atenção, na perspectiva do gestor, são a inflação global e possíveis restrições de ofertas de produtos, que podem culminar em uma crise de energia, bem como a discussão do limite de endividamento da economia americana. “Então nosso portfólio tende a ser comprado em ações globais, em commodities, petróleo, e tomado em juros de uma forma diversificada, em alguns países emergentes e desenvolvidos”, conta.

Perspectivas para o Brasil

Do ponto de vista de Guerra, esse é um quadro muito desafiador para países em desenvolvimento, que “lidam muito mal” com a pressão inflacionária e a alta do preço do combustível. O resultado que se tem observado é um aumento dos juros em uma velocidade maior, em comparação com países desenvolvidos.

“A gente tem uma visão bem mais cautelosa para países emergentes por conta dessas condições. Em um cenário com incerteza e inflação alta, muito provavelmente a gente vai ter uma recessão no ano que vem”, diz.

Se por um lado essa perspectiva é desafiadora, por outro há oportunidades na área de crédito privado. Guerra explica que, em uma condição macro de juros mais altos, há uma demanda por produtos de crédito e pela oferta dele por parte das empresas.

Levando em consideração uma desaceleração do crescimento, a estratégia de Leonardo Ono é priorizar setores mais defensivos, que dependam menos da aceleração da atividade econômica. Ao mesmo tempo, Ono observa no panorama micro movimentos que destravam investimentos, como a nova licitação da NovaDutra e a meta de universalização de água e esgoto até 2033, prevista pelo Marco Legal do Saneamento, por exemplo.

“Fibra óptica, leilão de 5G, portos e aeroportos, geração de energia eólica, solar e térmica: tem tanto projeto de infraestrutura no país para ser financiado que vão precisar de muito dinheiro além dos bancos, vindo do mercado de fundos, para fazer esse financiamento”, analisa o gestor.

De maneira mais específica, a Legacy está de olho na concessionária Cart e na 3R Petroleum, empresa brasileira produtora de petróleo e gás natural. Segundo Ono, são emissões superiores a IPCA mais juros de 7% ao ano. “A gente acredita em uma inflação ainda acima de 5% para o ano que vem”, ressalta.

Cuidados ao investir no mercado de dívidas

Crédito é diversificação e monitoramento, define Ono. Para o gestor, diversificar é importante porque sempre há a possibilidade de algo inesperado acontecer, por mais que se analise um balanço ou se acompanhe uma organização. “Quem diria que a Samarco, que é uma empresa que tinha como acionistas a Vale e BHP Billiton, teria uma barragem estourada e estaria anos sem conseguir produzir e gerar caixa?”, destaca.

O conselho do monitoramento é por conta das mudanças de contexto de país, setores e empresas ao longo do tempo. “Na gestão, a gente presa por rotacionar a carteira. É muito mais difícil para uma pessoa física fazer isso no seu dia a dia. E, em um cenário de tanta incerteza, isso tem bastante valor”, completa.

A entrevista completa e os episódios anteriores podem ser conferidos pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcasts.

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