Menos EUA, mais Europa e emergentes: as apostas da gestora brasileira WHG para o seu maior fundo de ações globais

O produto é um dos únicos fundos globais com estratégia long biased do Brasil, explica Daniel Gewehr, da asset

Bruna Furlani

Foto: Leonardo Rodrigues

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As dúvidas em torno da velocidade e do ritmo de alta dos juros nos Estados Unidos e dos preços esticados de alguns papéis de empresas americanas, como as do setor de tecnologia, provocaram uma rápida realocação de recursos nas carteiras de um dos únicos fundos long biased globais de uma gestora brasileira: o WHG Global Long Biased BRL FIC FIM CP IE, entre dezembro e janeiro deste ano.

Quem explica é Daniel Gewehr, co-gestor dos fundos de ações da WHG Asset. Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, o executivo destaca que a posição em ações dos Estados Unidos foi reduzida no começo deste ano e que alocações no mercado acionário europeu e de países emergentes, como a China, ganharam espaço no portfólio. Na prática, fundos com estratégia long biased podem ter posições vendidas (em que apostam na desvalorização de um ativo), mas possuem um “viés mais comprado”, ou seja, em que apostam na alta de um ativo.

Uma das explicações para a mudança na carteira está no avanço que as Bolsas americanas tiveram no ano passado e no impacto que a elevação de taxas de juros nos Estados Unidos poderia provocar no preço de papéis de tecnologia, que correspondiam a uma boa parcela da alocação do fundo dentro do mercado americano em 2021.

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Companhias de tecnologia, explica Gewehr, possuem um fluxo de caixa mais longo e em um cenário de alta de juros, a taxa de desconto utilizada para calcular o valor justo dos papéis aumenta. Na prática, isso pode pressionar a cotação atual do papel para baixo.

Não significa que o setor tenha desaparecido do portfólio. Embora a visão não seja mais tão otimista, ele diz que empresas mais consolidadas – como a Meta (novo nome do antigo Facebook)  –estão entre as que seguem na carteira.

Na Europa, a preferência é por ações de instituições financeiras, diz. “Os bancos europeus estão mais bem capitalizados do que a média e com um valuation atrativo. Além disso, possuem um nível de solidez muito melhor do que o histórico”, destaca.

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Quando o assunto são os mercados emergentes, o foco está na China. Embora o investimento no país apresente certos riscos, Gewehr observa que o gigante asiático vai na contramão do resto do mundo em termos de política monetária, afrouxando as condições, o que pode ser interessante em termos de exposição neste momento.

O gestor diz que o fundo possui hoje apenas uma pequena alocação em Brasil. Sem muitos detalhes, o executivo conta que o portfólio está focado em ações de setores como financeiro, commodities e em alguns papéis de infraestrutura.

Desde que foi lançado, em abril de 2021, o fundo acumulou um retorno de 6,9% ao ano, contra rentabilidade de 1,2% do Índice de Hedge Funds Globais (HFRX), usado como referência no segmento, durante o mesmo período. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

O fundo detinha uma grande alocação nos Estados Unidos, mas isso parece ter mudado recentemente. Como veem o cenário para a economia americana neste ano? 

Nós estamos menores em Estados Unidos. A vantagem do long biased é que ele é um fundo versátil, que te dá habilidade de se preparar melhor para os movimentos de mercado. Nós reduzimos porque o mercado tinha ido muito bem e o valuation estava 15% acima do histórico. Nós tínhamos muita exposição a ações de tecnologia, que têm um duration [prazo médio em que o investidor recolhe os rendimentos de qualquer investimento] mais longo. Nós estávamos com receio sobre a velocidade de aumento da taxa de juros, se seriam quatro ou cinco aumentos e o quanto isso afetaria ou não os mercados. Então, no início de janeiro, reduzimos a posição.

O fundo se desfez de todas as empresas de tecnologia americanas?

Nós temos ainda uma pequena posição em empresas de tecnologia com fluxo de caixa positivo e que geram crescimento. Nós já tivemos muitas techs no ano passado, mas mudamos um pouco a nossa alocação com esse aumento de juros. Mesmo assim, acreditamos que há empresas dentro do setor que ainda conseguem crescer. Uma das ações que mantivemos, por exemplo, é a Meta, antigo Facebook.

Por qual razão específica?

Acreditamos que a companhia deve crescer entre 15% e 20% nos próximos anos com forte margem operacional. A empresa também é sublíder no mercado de propaganda digital, que segue crescendo cerca de dois dígitos. Outro ponto é que o valuation está interessante. Ela negocia a 18 vezes a relação preço sobre o lucro e vem aumentando vendas. Além disso, mais da metade da população mundial está no Facebook e o papel é o único entre as FAAMGs [Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e Google] que ainda é comandado pelo seu fundador. Na nossa avaliação, o último resultado também foi muito afetado por iniciativas de investimento, como o Whatsapp e a realidade virtual.

Alguns analistas acreditam que a redução do balanço patrimonial do Fed juntamente com a elevação dos juros podem ter o efeito de uma política monetária ainda mais contracionista e evitar uma alta maior dos juros. A gestora concorda com isso?

É difícil falar. As condições financeiras ainda estão mais para o lado solto. Eles estão com uma taxa de juros real negativa e tem que ter uma taxa que vire positiva em algum momento do ciclo. O Fed não quer disrupções extremas. A inflação está alta e a tendência é que abaixe apenas no fim do primeiro trimestre. Logo, eles devem apertar os juros um pouco mais.

Com a mudança de alocação nos Estados Unidos, em quais países aumentaram a alocação?

Estamos com exposição maior do que a média em Europa e mercados emergentes. Europa tem coisas boas de curto e longo prazos. No longo prazo, quanto mais você vai para países como Reino Unido e Alemanha, eles estão melhores do que os Estados Unidos. O carrego de algumas ações é muito bom e é possível receber um dividend yield [taxa de retorno com a distribuição de dividendos] de 3%. O prêmio de risco é interessante na Europa. Além disso, o continente representa uma maneira mais cíclica de se posicionar no curto prazo.

Isso sem contar que a alocação permite conseguir empresas de qualidade que sejam descorrelacionadas entre si. Nós temos uma empresa que é a maior produtora de embalagens e fica na França, outra que chamo de uma mini Tetra Park e fica na Noruega. Acredito que é possível comprar várias empresas que ofereçam crescimento, qualidade e valuation atrativo.

Dentro da Europa, quais são os setores que mais chamam a atenção? 

Estamos mais expostos a bancos europeus e a algumas empresas do setor automotivo como a Daimler. Os bancos europeus estão mais bem capitalizados do que a média, estão com um valuation atrativo e com um nível de solidez muito melhor do que o histórico. Nós focamos em bancos que têm uma qualidade melhor e que podem ganhar com a recompra de ações, dividend yield maior e melhora do múltiplo das empresas. Já no caso da Daimler, vemos que a empresa é uma companhia de luxo que está negociando a seis ou sete vezes a relação preço sobre o lucro e que sofreu bastante com problemas nas cadeias produtivas. Ela é uma alocação mais tática.

E quais seriam os riscos de investir na Europa pensando que o continente apresenta uma inflação elevada e pode ter que subir juros?

Acreditamos que os juros não vão subir. Vão continuar nesse padrão. A questão geopolítica entre Rússia e Ucrânia também deve ser monitorada. Outro ponto que estamos atentos é o setor de consumo. Os países europeus ofereceram muitos benefícios no ano passado e agora isso deve ser reduzido. Não estamos tão otimistas com staples [consumo de produtos mais essenciais].

As tensões entre Rússia e Ucrânia ganharam novos contornos nesta semana. Qual pode ser o impacto disso para os investimentos? É algo que a casa vem monitorando? 

Acho que é um risco a se monitorar. Historicamente, movimentos geopolíticos que aconteceram recentemente deram mais susto do que geraram impactos mesmo. Nós estamos monitorando. É difícil de falar. Não temos posição no leste Europeu. Temos mais empresas de qualidade e que não são expostas a esse tipo de geografia.

O fundo também possui uma exposição a China. No ano passado, o gigante asiático passou por uma crise no setor imobiliário e alguns analistas ainda questionam as interferências do governo. Como veem o cenário para o país neste ano?

Nós achamos a China interessante. Acreditamos que ela está indo no sentido contrário do ciclo de aperto monetário que está ocorrendo em boa parte do mundo. Enquanto os Estados Unidos devem subir as taxas, o país começou a reduzir as taxas de juros. Ao fazer isso, ela deve acelerar o lucro líquido das empresas. É uma exposição boa para se ter na carteira.

Apesar de estarem mais positivos, há riscos nessa alocação. Quais seriam eles? 

Acho que o risco é a economia chinesa crescer menos do que 5% e eles não conseguirem ‘reacelerar’ a economia. Mas acredito que podemos contrapor esse risco de algumas formas. A primeira é que o investidor não está pagando caro para investir na China nesse momento de ciclo. O país performou abaixo da média do mercado e nós acreditamos que agora o gigante deve acelerar. Nós olhamos bastante alguns players [atores] do setor financeiro, por exemplo.

Algumas gestoras dizem que o cenário atual pode impulsionar um novo “boom” de commodities. A WHG também acredita nisso?

Nós temos uma exposição de certa forma relevante em commodities. Mas é difícil dizer que teremos um novo ciclo.

O lado da oferta de commodities já está ficando mais apertado e isso não deve ser resolvido de forma tão rápida. Investimentos em commodities costumam ir contra práticas ESG [observância de aspectos ambientais, sociais e de governança], o que acaba provocando um desbalanceamento nas cadeias. Logo, acredito que os preços das commodities podem ficar mais altos. A Petrobras, por exemplo, está com um valuation interessante e deve devolver bastante capital e dividend yield neste ano.

Agora falando um pouco sobre Brasil. Como o fundo deseja ter mais uma exposição internacional, a alocação em Bolsa brasileira é bem pequena. Como veem o cenário para a Bolsa brasileira?

A cabeça é que a Bolsa como um todo sofreu bem e que o valuation está atrativo. O mundo está negociando em torno de 10% acima da média histórica e o Brasil está em 20%. Há uma margem de segurança. Cerca de um terço do Ibovespa é setor financeiro e o resto é commodities. Logo, dois terços do Ibovespa estão em linha com onde o mercado está indo. Nós gostamos de financeiro, commodities e temos alguns investimentos em papéis de infraestrutura.

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