Light tentou gerar “comoção pública”, driblar como no futebol e novo plano é “brincadeira”, dizem gestores

Principais críticas ao novo plano giram em torno das opções de compra de ações para o corpo executivo e ao preço estabelecido aos papéis

Bruna Furlani

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As polêmicas envolvendo o caso da Light (LIGT3) parecem longe de acabar. Na visão do sócio e gestor responsável pela estratégia de crédito privado da AZ Quest, Laurence Mello, uma das casas que detém debêntures da empresa, a companhia tentou gerar uma “comoção pública” e há pontos muito “vagos” no texto que será votado na Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária (AGOE) desta sexta-feira (28).

“O que a companhia tentou fazer foi uma comoção pública. Olha a quantidade de gente que eu posso afetar se eu não prover esse serviço. Você [Justiça] tem que me tratar de uma maneira especial e olhar a minha situação”, questionou Mello.

O gestor participou do podcast Stock Pickers, produzido pelo InfoMoney, nesta quinta-feira (28). O programa também contou com a presença do CEO da AZ Quest, Walter Maciel, e do gerente executivo de análise e alocação doméstica na BB Asset, Marcelo Farias.

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Segundo o gestor da AZ Quest, há “limites” para o que a companhia tentou fazer. Ele lembra que há uma série de leis que protegem o setor de concessão elétrica e que não permitem que uma empresa do tipo peça recuperação judicial, já que o setor fornece serviços que são considerados essenciais. “Distribuidora é porta de entrada do sistema. Ela que recolhe o dinheiro que vai para a transmissora e a geradora”, lembra Mello.

Para se referir à companhia, o executivo compara a postura adotada pela empresa a um drible de futebol. “Parece o Messi tentando passar na Copa no meio de cinco zagueiros”, brinca. “Ele dá uma forçada, chama o VAR. É um pouco isso o que está acontecendo”, completa.

Farias, da BB Asset, vai na mesma linha. O profissional lembra que, no caso de problemas financeiros ou operacionais, a lei prevê para as companhias do setor uma série de instrumentos, que não a recuperação judicial, como a troca de controle e intervenções do regulador.

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Para ele, ao conseguir uma liminar que suspende o pagamento de juros referentes às debêntures da empresa, a companhia está pedindo um “prazo para conversar”, mas com argumentos que “não se justificam sob a ótica do credor”.

Farias reforça que a atual gestão da empresa entrou em 2022 e já teria tido condições de mapear os problemas de pagamento da companhia. Segundo a Light, Octavio Pereira Lopes assumiu como CEO em agosto do ano passado, formando a diretoria ao longo do quarto trimestre.  No entanto, apenas em fevereiro deste ano a empresa informou ao mercado que havia contratado o escritório de assessoria financeira Laplace para reestruturar suas dívidas, o que gerou pânico no mercado.

Logo após o episódio, o executivo da BB Asset conta que a casa teria tentado contato com a Light inúmeras vezes, mas que a companhia só teria respondido em 15 de março para dizer que não poderia prestar esclarecimentos por estar em período de silêncio. A razão é que o balanço da empresa seria divulgado no dia 28 daquele mês.

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Na ocasião, a Light informou que fechou o ano de 2022 com um prejuízo de R$ 5,6 bilhões, afetada por efeitos não recorrentes contabilizados no quarto trimestre, que impactaram negativamente o resultado líquido consolidado. Em 2021, a distribuidora registrou lucro de R$ 398 milhões.

Leia mais:
Light (LIGT3) fecha 2022 com prejuízo de R$ 5,6 bilhões, ante lucro de R$ 398 milhões em 2021

De olho na AGOE

Além das críticas a todos os procedimentos jurídicos adotados pela companhia para driblar o pagamento das debêntures, os executivos se mostraram espantados com o texto apresentado pela empresa e que será discutido na AGOE desta sexta-feira (28).

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A principal crítica dos gestores refere-se ao plano de opções de compra de ações para o corpo executivo (board) e ao preço estabelecido para os papéis: R$ 0,01 por lote de mil ações.

Na visão de Farias, da BB Asset, o plano apresentado é uma “brincadeira” e que “não faz sentido”. O especialista lembra que houve destruição de valor desde que a administração atual assumiu e que planos de bonificação existem quando se está gerando valor ao acionista.

“Não estou dizendo que o caso não é complexo e a direção da companhia não mereça uma remuneração condizente. Isso é um padrão de mercado em que precisamos remunerar os administradores. O problema é o patamar de onde está saindo”, questiona Farias.

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O executivo afirma que, se fosse membro do Conselho ou acionista majoritário, defenderia a retirada desse item da pauta para trazer uma proposta alinhada à visão dos acionistas. “Não dá pra levar algo que desagrada a visão de grande parte dos acionistas. Isso compromete a confiança e a continuidade dos negócios da companhia”, alerta.

Caso fosse aprovada a proposta, nos cálculos de Mello, da AZ Quest, o desembolso poderia ultrapassar os R$ 35 milhões para pagar a diretoria, que poderia deter 5% do capital da empresa.

A companhia possui capital mais pulverizado e acionistas como a JGP, BB Asset e outras casas também se manifestaram contra a remuneração sugerida. Atualmente, os dois maiores acionistas da empresa são Ronaldo Cezar Coelho e Carlos Alberto Sicupira, que têm demonstrado apoio à atual gestão.

Outra questão polêmica, na visão de Mello, é o ponto que fala sobre a readequação da estrutura de capital. O gestor afirma que esse item é o que parece ter menor peso no documento enviado pela Light e que a companhia deixou o trecho muito “vago”.

Ao ser questionada pela reportagem, a Light respondeu que não iria comentar.