Juros em alta e crescimento do agronegócio favorecem Fiagro, que deve somar R$ 75 bilhões até 2025, projeta XP

Regulamentado em julho de 2021, já há 11 ofertas de Fiagro protocoladas na CVM, somando R$ 3,3 bilhões

Ana Paula Ribeiro

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SÃO PAULO – O movimento de alta de juros e o crescimento do setor agrícola devem contribuir para que os fundos de investimento na agroindústria (Fiagro) se estabeleçam como uma alternativa aos investidores, com a possibilidade de ultrapassarem o patrimônio dos fundos imobiliário, os FIIs. No entanto, os gestores terão o desafio de lidar com a frequência menor de distribuição de dividendos que os ativos do agronegócio oferecem.

“A indústria de agro é muito grande, e o Fiagro pode ter um tamanho parecido com o dos FIIs”, disse Arturo Profili, diretor de gestão da Capitânia Investimentos. “Pode ser um portfólio diferenciado para quem quer ter renda, no caso da pessoa física, ou para quem quer um investimento tático, no caso dos institucionais”.

Profili foi um dos participantes do FIAgro Experience, evento realizado pela XP Investimentos nesta quarta-feira (6).

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O Fiagro foi regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em julho de 2021. Desde então, segundo levantamento realizado pela XP Investimentos, 11 ofertas foram protocoladas, somando R$ 3,3 bilhões. As projeções são de que as ofertas somem algo em torno de R$ 1 bilhão por mês ao longo de 2022, somando R$ 75 bilhões até 2025, segundo Gustavo Pires, sócio e head da área de Asset Management Services da XP.

As primeiras carteiras a serem distribuídas devem ter características parecidas com as dos fundos de imobiliários, que atualmente possuem um patrimônio de R$ 200 bilhões – incluindo isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos para pessoas físicas (desde que o fundo tenha ao menos 50 cotistas).

Para Profili, o paralelo entre as duas categorias é natural, com a vantagem de que atualmente há mais gestores com experiência em fundos estruturados e o amadurecimento do Fiagro pode ser mais rápido que o dos FIIs, que começaram a ser distribuídos no começo dos anos 2000.

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Remuneração

E a corrida por fundos da nova categoria já começou. A Riza Asset Management, por exemplo, concluiu a captação de seu primeiro fundo nesta semana, segundo informou Paulo Victor Mesquita Prado, sócio da gestora, que também participou do FIAgro Experience.

De acordo com o gestor, a maior preocupação dos investidores durante a distribuição das cotas do fundo – que serão negociadas na B3 – foi em relação às características tributárias do Fiagro e às características do setor do agronegócio. A expectativa é que a remuneração final do fundo seja a taxa do CDI mais 4,5% ou 5% ao ano.

Para Evandro Alves dos Santos, sócio da XP Asset, os primeiros fundos do tipo Fiagro devem oferecer remuneração na faixa de CDI mais 3% a 5% ao ano. Para ele, num primeiro momento, devem predominar as carteiras formadas por certificados de recebíveis agrícolas (CRAs), que são muitas vezes indexados à taxa do CDI.

Para Profili, o cenário de alta da taxa básica de juros, a Selic, deve de fato contribuir para um maior interesse pelo Fiagro com CRAs na carteira. Após a estabilização da taxa de juros e sua possível queda, haverá espaço para os Fiagro que explorem o desenvolvimento de terras.

O movimento se assemelha ao dos fundos imobiliários: existem os FIIs de “papel”, mais similares a investimentos de renda fixa e com menor flutuação de preço, e os FIIs “de tijolo”, que investem em imóveis físicos e podem sofrer com a vacância (desocupação) deles.

“Acredito que o Fiagro que investe em CRA será para um cotista mais geral, de varejo. Já o que investirá no equity, no desenvolvimento da terra, será para o investidor mais qualificado”, avaliou o gestor. O aumento das exportações de produtos agropecuários e a valorização das commodities são outros pontos que devem tornar atrativa essa categoria de investimentos, avaliou Guilherme Grahl, da Valora Gestão de Investimentos.

Renda mensal?

Apesar das oportunidades, a complexidade do setor agro pode fazer com que esses fundos não realizem pagamentos de dividendos em periodicidade mensal, característica que agrada os investidores dos fundos imobiliários. Isso porque a colheita e a venda dos produtos não são feitas mensalmente – nos imóveis que fazem parte de um FII e são alugados, os pagamentos acontecem todos os meses.

“Essa vai ser uma dificuldade dos fundos Fiagro, assim como foi nos fundos de infraestrutura”, disse Prado, da Riza.

Acesso a recursos

Os fundos voltados para ativos agrícolas devem permitir também um maior volume de recursos para o financiamento das cadeias agrícolas e o acesso a menores custos, mas os produtores terão que se profissionalizar se quiserem acessar esse “bolso”.

“O Fiagro é uma ferramenta para a redução da assimetria da informação. É uma ferramenta para a profissionalização das empresas que vai reduzir os custos ao longo da cadeia”, disse André Guillaumon, CEO da Brasil Agro, durante o painel “A oportunidade do setor de agronegócio no Brasil”.

Para Guillaumon, o crescimento da agroindústria leva à necessidade de uma maior governança. Nesse caso, o Fiagro irá contribuir para a redução da assimetria de informação e isso tende a contribuir para a redução do custo de financiamento. “É um grande apelo a profissionalização e vamos vivenciar isso nos próximos anos”, complementou o executivo.

Rodrigo Penna, CFO da empresa do setor sucroenergético Jalles Machado, explica que os riscos inerentes ao setor afastam o investidor, mas que isso pode ser contornado com práticas de maior governança. “Nesse quadro, a governança é ainda mais importante. É preciso ter um gerenciamento de risco. Isso é uma evolução para as empresas, que precisam lidar com os riscos climáticos e de oscilação de preços”, disse.

Como exemplo, ele citou o sistema de irrigação utilizado pela Jalles Machado e que ajudou a reduzir os efeitos de riscos climáticos no plantio de cana-de-açúcar da empresa. “Uma forma de melhorar é governança, gerenciar risco para ter mais gente dentro do agro”, explicou Pena.

O agronegócio responde por 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e segue em crescimento. Para dar conta dessa expansão, a estimativa é que esse setor necessite de ao menos R$ 600 bilhões de crédito ao ano. A maior parte vem do Plano Safra, que para o período de 2021/22 é de R$ 251,22 bilhões. O restante é financiado por bancos e, uma menor parte, pelo mercado de capitais.

Sebastian Popik, fundador do private equity Aqua Capital, lembra que a diversificação das fontes de recursos é necessária para atender às demandas impostas ao setor. Ele lembra que a produção industrial irá necessitar de cada vez mais tecnologia e maior produtividade, seja para atender a demanda por alimentos de regiões como a Ásia ou a busca de alimentos mais saudáveis.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney