Juros dos EUA estão perto de pico e empresas de saúde ainda não passaram por forte rali, diz BlackRock

Para gestora, autoridade monetária realizou uma pausa para analisar mais os dados e também para ver o efeito do aperto de crédito no país

Bruna Furlani

(Getty Images)

Publicidade

A rápida escalada de juros nos Estados Unidos pode estar perto do pico e a parada do Federal Reserve (Fed, banco central americano) na última reunião de política monetária representa mais uma pausa para entender os efeitos da diminuição de crédito disponível no país, na avaliação do estrategista-chefe de investimentos para a América Latina da BlackRock, Axel Christensen.

Em evento para jornalistas nesta quarta-feira (28), o executivo da gestora – com mais de US$ 8,5 trilhões sob gestão – destacou que é preciso cautela agora, porque as condições financeiras estão apertadas pelo nível elevado de juros e pelo estresse bancário visto em março deste ano.

Christensen lembra que a falta de disponibilidade de crédito poderia ter efeito parecido com um aperto adicional das taxas de juros, o que exigiria cuidado da autoridade monetária nas próximas altas.

Continua depois da publicidade

Outro fator que preocupa é a atividade econômica. Na visão do executivo, os últimos dados divulgados têm mostrado um mercado de trabalho ainda resiliente, mas ele destaca que é preciso separar os tipos de empregos que estão sendo criados dos que estão sendo destruídos.

Ao olhar para os números, o executivo ressalta que os empregos de maior qualificação e de salários mais elevados estão sendo destruídos, ao mesmo tempo em que postos de trabalho de menor qualificação estão sendo criados. Ou seja, é preciso notar as diferenças de consumo e de gastos entre esses dois tipos de grupos e não generalizar as informações sobre o mercado de trabalho.

Leia mais:
S&P 500 “caro” e troca por renda fixa global reduzem cotistas do IVVB11, maior ETF da B3, diz BlackRock

Continua depois da publicidade

Nesse sentido, ele acredita que a economia americana não conseguirá escapar e defende que há uma chance alta de que o país entre em recessão no começo do ano que vem. “Agora, não será uma recessão profunda. Não vemos problemas de estabilidade financeira”, pondera.

A CEO da gestora para o Brasil, Karina Saade, vai na mesma linha e argumenta que a recessão deve ser mais branda, porque os dados de consumo americanos permanecem mais resilientes. Na visão da casa, o Fed deve voltar a subir os juros de forma mais suave nas próximas reuniões e realizar altas em torno de 0,25 ponto a 0,50 ponto. “Nada muito agressivo”, resume.

Com a elevação de juros pelo Fed próxima do pico, Karina também acredita que o momento é mais do que adequado para se posicionar em renda fixa de curto prazo. Segundo ela, as taxas estão elevadas e não está valendo a pena aumentar o risco para prazos mais longos. “Para que tomar risco se eu não estou sendo recompensado?”, questiona.

Continua depois da publicidade

Empresas mais resilientes

Apesar da alta possibilidade de que os Estados Unidos enfrentem uma recessão no ano que vem, a BlackRock acredita que alguns setores poderiam seguir com desempenho positivo, como ocorreu com o rali registrado neste começo de ano.

Embora um dos segmentos de destaque tenha sido o de tecnologia ao longo dos últimos meses, o gestor pondera que há outros que poderiam ser beneficiados como o de cuidados com saúde (health care), que ainda não passaram por um forte rali.

Além disso, ele afirma que o cenário deve ser turbulento, mas que companhias com margem maior e que são grandes geradoras de caixa, com destaque para empresas ligadas à transição energética, inteligência artificial, mudanças demográficas e sociais, por exemplo, poderiam se diferenciar.

Continua depois da publicidade

BC indicou corte a partir de agosto

Embora o ambiente seja mais desafiador para as Bolsas americanas, a BlackRock defende que o momento atual pode ser favorável para o Brasil. Atualmente, a preferência da gestora dentro do mercado acionário está em países emergentes em detrimento de nações desenvolvidas.

Um dos pontos que ajudam a dar um tom mais otimista aos ativos locais é a chance de queda da Selic. Karina defende que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central veio mais dovish, ou seja, menos inclinada ao aperto monetário e indicou uma probabilidade grande de corte em agosto, de cerca de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual).

Anteriormente, a casa acreditava que o ciclo de afrouxamento poderia começar em setembro deste ano.

Continua depois da publicidade

Leia mais:
Ata do Copom traz recado sobre meta de inflação ao CMN e tem leitura mais ‘dovish’, diz gestor

O ciclo de cortes, porém, deve ser bem gradual para poder observar e medir os dados, na avaliação da executiva. A cautela não é à toa. Recentemente, os bancos centrais da Austrália e do Canadá tiveram que retomar a alta de juros após um período de pausa.

Na ata divulgada na terça-feira (27) pelo Banco Central, o trecho que mais chamou a atenção do mercado foi o que indicou divergência entre os membros do Comitê. No documento, os dirigentes mostraram que a maior parte do colegiado avaliou que a continuação do processo desinflacionário em curso poderia trazer a “confiança necessária” para iniciar um “processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.

Já outra parcela dos dirigentes defendeu que era preciso cautela – ao reforçar que a dinâmica desinflacionária ainda refletia o recuo de componentes mais voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto gerava dúvida sobre o impacto do aperto monetário feito até aqui.

Para além de um otimismo maior com a Bolsa local, Christensen defendeu que a queda de juros poderia beneficiar empresas de menor valor de mercado (small caps) na comparação com companhias de maior valor (large caps), além de companhias mais sensíveis a juros, sem explicitar nomes ou setores.