JGP: “Maior fragilidade do Brasil é a parte fiscal, mesmo com melhora na margem”

Para economista-chefe da gestora, país foi ajudado pelo ciclo de elevação de preços de commodities, mas próxima gestão federal pode não ter a mesma sorte

Bruna Furlani

Ilustração (Pollyana Ventura/Getty Images)

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SÃO PAULO – Em meio a discussões no governo sobre elevação de gastos com nova rodada do auxílio emergencial e ampliação do Bolsa Família, entre outras medidas de caráter expansionista que diminuem a arrecadação, a maior fragilidade do país continua na parte fiscal, mesmo com melhora na margem, na visão do economista-chefe da gestora JGP, Fernando de Paula Rocha.

“Quando olhamos para emergentes, a relação dívida/PIB é de 50%, e não 80% [como é o caso do Brasil]. O teto de gastos tem funcionado bem e tem impedido expectativas piores, só que isso vai ficando cada vez mais difícil de cumprir com os gastos da pandemia, mesmo que haja uma folga no ano que vem com o avanço da inflação”, destacou o economista, em live promovida nesta quinta-feira (24) pela Icatu.

Para Rocha, o país foi bastante ajudado pelo recente movimento de alta das commodities, mas talvez a próxima gestão federal não tenha a mesma sorte. “O próximo governo precisa pensar em outra meta fiscal. Quem sabe não pode ser algo como colocar uma meta de superávit primário”, apontou Rocha.

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Momento favorável

Se não fizer bem o dever de casa para consertar uma das suas grandes fragilidades, o Brasil pode deixar de aproveitar o bom momento. Na visão do economista, a fase é extremamente favorável para emergentes, já que as bolsas estão subindo, os juros estão baixos e as economias estão demandando muitas commodities.

O problema, contudo, é que esse ciclo tende a ser mais curto do que nas crises anteriores. Rocha pontua que, nas últimas grandes crises, como a do começo dos anos 2000 e a do subprime, em 2008, houve destruição de capital, diferentemente do que ocorreu na pandemia, com uma crise causada por fatores sanitários.

Por isso, a boa fase pode ser passageira. O economista se refere ao ciclo que o mundo está passando como “fast foward“, em que o mercado estaria funcionando em velocidade acelerada, e no qual os estímulos monetários injetados na economia principalmente americana tendem a ser retirados em breve.

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“Acho que teremos uma antecipação da alta de juros. Acho que [o juro] deve ser ajustado antes do que alguns dirigentes do Fed [banco central dos EUA] estão falando, ao dizer que seria em 2023”, destaca o economista.

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A expectativa de Rocha, contudo, é que o ajuste não seja feito de forma abrupta, mas sim gradual, para provocar menos turbulências.

De olho nesse ajuste monetário, o economista ressalta que o mercado vai ficar ainda mais exigente e começar a separar com maior afinco “o que é bom do que é ruim”. Nesse momento, se o Brasil não fizer bem o dever de casa, o especialista diz que o país pode “voltar para um cenário de fragilidade”.

Ao ser questionado sobre perspectivas para a taxa Selic, Rocha destacou as revisões recentes feitas pelo mercado sobre a alta dos juros e disse que, em sua visão, o juro neutro estaria entre 6,5% e 7%.

“Olho para a renda fixa hoje e vejo uma reprecificação. Enquanto estamos crescendo, reduzindo o nosso déficit e com essa taxa de juro, acho que a dívida/PIB fecha. Mas, se precisarmos ir além de 6,5% ou 7%, isso pode deixar o mercado mais desconfortável”, alerta o especialista.

Eleições 2022

Além de estar de olho em um possível aumento antecipado dos juros americanos, Rocha está preocupado com o cenário eleitoral e com uma polarização. “Temos um verão curto porque tudo pode mudar rápido.”

Segundo ele, para além das eleições, investidores também estarão bem atentos aos discursos econômicos dos candidatos.

“Se for o Lula do primeiro mandato e um Bolsonaro com discurso mais liberal, isso deve ser mais positivo para atrair investidores. Mas se for o Lula dizendo que vai reverter privatizações e teto de gastos, ou Bolsonaro dizendo que vai aumentar muito o Bolsa Família, isso vai afastar o detentor de bonds“, pontua o economista.

Racionamento e reformas

Além da atenção maior com a parte fiscal, Rocha disse que monitora de perto a crise hídrica. Ele conta que tem conversado com especialistas e que a expectativa está mais para um cenário de aumento de preços do que para racionamento, ainda que não possa ser descartado um agravamento da situação.

“O aumento somente da tarifa de energia é ruim, mas, se chegarmos no ponto do racionamento, é bem pior, porque ele funciona como um choque negativo na oferta”, finalizou o especialista.

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