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Investimentos no exterior: quais os desafios regulatórios, cambiais e educacionais?

Especialistas debateram quais fatores ainda dificultam a diversificação internacional durante o Anbima Summit

Maria Luiza Dourado

Painel durante o Anbima Summit 2025, com Takiana Itikawa, Anna Dutra, Alex Lago, Isabella Nunes e e Marcelo Barbosa (Foto: Malu Dourado/InfoMoney)
Painel durante o Anbima Summit 2025, com Takiana Itikawa, Anna Dutra, Alex Lago, Isabella Nunes e e Marcelo Barbosa (Foto: Malu Dourado/InfoMoney)

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Durante o painel “Investimentos no exterior” no Anbima Summit, realizado nesta quarta-feira (25) em São Paulo, especialistas discutiram os principais entraves que restringem o acesso dos investidores brasileiros à alocação de recursos fora do país. O debate trouxe à tona questões regulatórias, educacionais, cambiais e operacionais que ainda dificultam a diversificação internacional.

Alex Lago, head do segmento Ultra High do XP Private Bank, foi enfático ao apontar os obstáculos que impactam diretamente o investidor: “O primeiro é a conversibilidade do real”. Segundo ele, a dificuldade em converter a divisa brasileira para outras moedas limita a agilidade e a segurança na transferência de recursos para o exterior.

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Além disso, Lago ressaltou os custos elevados envolvidos no processo. “Você pode abrir uma conta pessoa física no exterior, com vantagens e desvantagens. Agora, boa parte dos clientes do private tem que abrir uma PIC, e os custos são muito maiores, existe a necessidade de ter um tributarista, contador, tem que fazer uma declaração manual, tem o registro no Banco Central feito totalmente segregado ao IR de maio”.

Uma Private Investment Company (PIC) é uma pessoa jurídica criada por investidores, especialmente de alta renda, para organizar e administrar seus investimentos, incluindo os no exterior. Essa estrutura facilita o planejamento tributário, o controle dos ativos e a gestão patrimonial, mas envolve custos adicionais, como contratação de tributaristas e contadores, além de obrigações fiscais e regulatórias específicas, como declarações manuais e registros no BC.

Lago destacou ainda a complexidade operacional: “Tem a distância entre cliente e os assessores, o idioma e ainda uma falta de um extrato consolidado de maneira rápida e eficiente que permita que você acompanhe suas movimentações no exterior”.

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Lago também chamou atenção para o comportamento dos investidores que, muitas vezes, acabam replicando no exterior os mesmos riscos que possuem no Brasil. “Hoje o mercado de Letras aqui é muito forte e o cliente busca o mesmo ativo, emitido pela mesma empresa, ou foge de uma grande petroleira aqui, mas compra bonds emitidos por ela no exterior”. Segundo ele, existem diversos ativos no exterior que os investidores não conseguem acessam por falta de conhecimento.

Educação financeira

E essa falta de conhecimento parte tanto do investidor quando do profissional de investimento, segundo Isabella Nunes, head de Sales Brasil no JP Morgan, ressaltando a urgência do aprimoramento da educação financeira. Segundo Nunes, apesar do crescimento do interesse, “existe um gap de entendimento sobre produtos, riscos”.

Além disso, outro desafio do setor é em entender que investir no exterior vai além do câmbio. “Hoje é preciso cautela ao navegar e falar sobre investimento internacional. Já somos consumidores globais, mas temos que pensar de uma forma mais ampla. No varejo, o grande dilema é o câmbio. ‘Qual o melhor timing?’ O melhor timing não existe. Na verdade, ele foi ontem, o melhor timing é estar investindo, porque é muito difícil você acertar o melhor momento. Investimento internacional envolve classe de ativos, estilo, e não apenas moeda”.

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Regulação e segurança

A sócia e diretora jurídica da Avenue, Anna Dutra, destacou os avanços regulatórios, mas apontou a necessidade de aprimorar a regulação no pós-venda para garantir maior segurança ao investidor: “A regulação avançou muito, principalmente do ponto de vista da intermediação, mas é preciso regular o pós-venda. Como o cliente pode ser assessorado após a abertura de conta no exterior, quais os ‘dos’ e ‘dont’s’”.

Ainda assim, apesar das melhorias necessárias, Marcelo Barbosa, advogado especialista em Direito Societário do Mercado de Capitais e ex-presidente da CVM, relembrou que, há quase dez anos, o cenário de investimetos do exterior no Brasil era muito mais incipiente e incompleto, e que a CVM precisou assumir um papel mais “reativo” para endereçar a questão.

“Ao assumir a CVM em 2017, a taxa de câmbio estava em 9,25% e caiu para 2% em 2020, o que levou investidores a buscar diversificação e proteção cambial no exterior. A gente precisou pensar em como atender essas demandas.”, afirmou.

Maria Luiza Dourado

Repórter de Finanças do InfoMoney. É formada pela Cásper Líbero e possui especialização em Economia pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.