Investidor até o fim: como foram os últimos dias de Charlie Munger

Reportagem do Wall Street Journal mostra como o vice-chair da Berkshire manteve curiosidade, disciplina e relações próximas até dias antes de morrer

Paulo Barros

(Foto: Reprodução/Berskshire Hathaway Annual Meeting)
(Foto: Reprodução/Berskshire Hathaway Annual Meeting)

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Charlie Munger viveu os últimos anos com uma combinação de disciplina intelectual, humor e vínculos pessoais que desafiam a imagem tradicional de um investidor nonagenário, segundo detalhou o Wall Street Journal em reportagem nesta semana, em memória a um ano da morte do vice-chair da Berkshire Hathaway. Ele morreu em 28 de novembro de 2023, pouco antes de completar 100 anos, ainda envolvido em investimentos, mentorias e conversas com frequentes com Warren Buffett.

Mesmo com limitações físicas, Munger continuou fazendo perguntas e estudando temas que o intrigavam. “Mesmo uma ou duas semanas antes de falecer, ele perguntava: ‘A Lei de Moore se aplica na era da IA?’”, disse o amigo Jamie Montgomery ao jornal. Familiares também destacam que a mente seguia ativa. “Até o dia em que morreu, aquela mente estava funcionando. Ele nunca parou de aprender”, afirmou o enteado Hal Borthwick.

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A reportagem mostra que Munger contrariou décadas de aversão ao setor de carvão ao investir, em 2023, em Consol Energy e Alpha Metallurgical Resources. Ele rejeitou a narrativa de que a indústria estava acabando. “Ele leu um artigo dizendo que o carvão estava ladeira abaixo. Ele disse: ‘Bobagem’”, lembrou Borthwick. As posições renderam ganhos expressivos antes de sua morte, reforçando o apetite por apostas contrárias ao consenso.

O WSJ também resgata sua relação com Avi Mayer, vizinho que conheceu aos 17 anos. Munger ouviu suas dificuldades, ofereceu conselhos e, anos depois, apoiou sua entrada no setor imobiliário. “Ele ouvia meus problemas e falava sobre princípios de vida e valores pessoais”, contou Mayer. Com o suporte de Munger, o grupo se tornou um dos maiores proprietários de “garden apartments” na Califórnia, acumulando cerca de US$ 3 bilhões em ativos. Munger participou de negociações até o fim da vida, incluindo uma compra concluída dias após sua morte.

Amizades antigas também ganharam importância. Todas as terças-feiras, Munger se reunia para longos cafés da manhã com investidores e executivos. Em tom bem-humorado, explicava lições que considerava essenciais. “Ele sempre dizia: ‘Tirem os cinco maiores investimentos da Berkshire e seus retornos ficam bem medianos’”, relatou Montgomery. Em outra ocasião, ao discutir os resultados da Ford por linha de produto, provocou: “Não sei por que vocês se preocupam em fazer carros.”

O jornal descreve ainda o papel do humor na forma como encarava a própria fragilidade. Ao falar sobre envelhecimento, disse a um visitante: “Ah, ser 86 de novo”. E, ao refletir sobre a durabilidade da Berkshire, expressou confiança: “Depois que está construída, você não precisa de Warren e Charlie. O que temos é uma estrutura para olhar investimentos.”

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)