IA vive “corrida frenética”, como em The Dark Side of the Moon, diz gestor da Kinea

O debate sobre IA se insere em um contexto global mais amplo, que inclui política monetária nos Estados Unidos, transformação do mercado de trabalho e reorganização das cadeias produtivas

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A inteligência artificial atravessa um momento de aceleração intensa, comparável à faixa On the Run, do álbum The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd — uma metáfora usada por Ruy Alves, da Kinea, para ilustrar um ambiente de pressão, velocidade e incerteza, no qual a indústria avança rapidamente sem que todos os resultados estejam ainda claros.

A corrida tecnológica envolve investimentos bilionários, expectativas elevadas e crescente cobrança por entregas concretas, avalia o gestor das estratégias de ações e commodities dos fundos multimercados da casa.

Para o executivo, o debate sobre IA se insere em um contexto global mais amplo, que inclui política monetária nos Estados Unidos, transformação do mercado de trabalho e reorganização das cadeias produtivas, com destaque para a China, fatores que ajudam a explicar a volatilidade recente e a divergência de percepções entre investidores.

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Apesar da magnitude dos aportes, o mercado tornou-se mais cético, exigindo que promessas de disrupção se convertam em receitas e modelos de negócios sustentáveis.

“Não basta criar tecnologia, é preciso mostrar valor real para o mercado”

— Ruy Alves, gestor da Kinea.

O gestor participou do segundo episódio do Expert Talks, programa da Research XP que reúne lideranças do mercado para discutir economia e investimentos, incluindo a evolução da IA e seus impactos nos portfólios globais.

A trajetória da Kinea e a economia global

Fundada em 2007, a Kinea se consolidou como uma das principais gestoras independentes da América Latina, com R$ 141,6 bilhões em ativos sob gestão, atuando em classes que vão da renda fixa a ações e fundos imobiliários.

Na área de multimercados, Alves destaca a internacionalização dos portfólios, com cobertura de 25 geografias e equipe de cerca de 50 profissionais.

Olhar para a economia americana é central para 2026. Alves aponta que alguns componentes da inflação, como serviços e aluguéis, estão controlados, enquanto bens não pressionam tanto quanto esperado. Com a ausência prevista de novas tarifas e a possível nomeação de um presidente do Fed com perfil mais expansionista (favorável a cortes de juros para estimular a economia), o espaço para redução da taxa básica tende a aumentar.

O gestor destaca que o mercado acompanha de perto essas mudanças, com atenção aos juros, à inflação e à política monetária global.

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IA sob escrutínio e em ritmo acelerado

Alves usa a analogia musical para ilustrar o frenesi do setor. Empresas de tecnologia investem trilhões em IA, muitas vezes sem receita significativa, o que gerou pressão sobre valuations, inclusive de líderes como a OpenAI, dona do ChatGPT.

“Sim, a IA está nessa corrida louca. Mas o mercado não está refletindo isso nos valuations. Pelo contrário, virou contra algumas empresas”, afirma. Para ele, o valor real da IA pode ser medido pelo quanto se estaria disposto a pagar para não depender dessas tecnologias.

A tecnologia segue leis de escala, mas o grande desafio é a usabilidade corporativa: “Para ter valor real, a IA precisa reduzir erros dentro de aplicações específicas”, explica. A maturidade do setor ainda definirá retorno, competição e depreciação tecnológica.

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O gestor compara empresas que usam caixa próprio com as que dependem de alavancagem, afirmando que estas últimas têm menor vantagem competitiva no atual estágio do mercado.

Impactos no trabalho e o papel da China

Alves observa que a IA já começa a substituir funções de entrada (entry level jobs), exigindo da força de trabalho humana mais qualificação e maior valor agregado.

A China se destaca como polo relevante, com investimentos em semicondutores e robótica, aliados a uma estratégia de melhoria das condições de vida da população.

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Segundo ele, o setor ainda enfrenta incertezas sobre a longevidade de novas empresas, retorno da indústria de cloud e velocidade de obsolescência de chips.

“É a fase da jornada do herói: quem apresentar receita será recompensado enormemente”

— Ruy Alves, gestor da Kinea.

No mercado brasileiro, Alves questiona a percepção de que a Bolsa estaria barata. O que existe é uma taxa de desconto elevada, e o prêmio de risco em equities é menor que o de países pares. “Os juros reais longos tornam a Bolsa aparentemente descontada, mas é uma ilusão óptica”, conclui.